41. Tubarão

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Quinta-feira, 28 de Abril, 2022

09:23

Completava uma semana desde a morte de Kairan. Uma semana! Sete dias inteiros. Foram cento e sessenta e oito horas; cem mil e oitenta minutos; mais ou menos seiscentos e quatro mil e oitocentos segundos. Sete dias. Nada mais, nada menos do que isso. Sete!

E não houve, em todo esse tempo, um segundo onde Nicholas encontrou-se livre das lembranças de vê-lo morrendo.

A briga, o som do disparo invadindo os seus ouvidos, a sensação de terror; o rosto assustado de Kai enquanto lutava pela vida e, depois de fracassar, a sua morte. Tudo lhe tirava o sono, tudo lhe tirava a paz.

Nicholas não esperava uma redenção, não esperava um perdão divino. Tomou nota de que deveria aceitar tudo de ruim que viria a lhe acontecer depois de ter jogado aquela mala no lago.

O lago! Por Deus, como ainda conseguia pensar nele? Lembrar-se da água escura, do frio daquela noite, do corpo de Kairan sendo espremido para caber naquela maldita mala, lhe trazia um calafrio intenso sob a pele. O fazia não só perder a fome mas a vontade de viver.

Visitava o lago todas as manhãs. Sentia o frio, a água gelada e escura batendo em seu pé e encarava o horizonte; a pequena faixa de terra visível a alguns quilômetros do outro lado daquela água. E, acima de tudo, esperava.

Esperava, esperava e esperava ainda mais; como se milagrosamente Kairan fosse emergir naquela água e vir nadando em sua direção, só para dizer que tudo aquilo não passou de uma brincadeira de mau gosto. Dizer que estava bem. Dizer que estava vivo.

Quando não ouvia respostas do destino, e notava que seus devaneios não passavam de devaneios, Nicholas se via tentado a adentrar na água, nadar até o fundo e mergulhar em busca da mala, só para se afogar junto a Kairan. Um jeito romântico de partir, tal como Romeu e Julieta.

Mas era covarde demais até para morrer.

Yuri, um dos colegas de quarto de Kairan, foi o primeiro a notar o seu desaparecimento, isso no dia seguinte à morte dele. Na sexta-feira Nicholas foi chamado na diretoria, com Eleanor lhe perguntando se sabia o paradeiro de Kairan.

Tinha todas as respostas na ponta da língua. Pensou em todas as perguntas possíveis. E quando as perguntas foram respondidas e ele foi convidado a sair da sala, torceu que Eleanor tenha acreditado.

Não sabia dizer com todos os detalhes o que houve depois daquilo, mas imaginou que Eleanor avisou a mãe de Kairan sobre o desaparecimento do seu filho, pois no domingo ela já se encontrava no colégio, com lágrimas nos olhos, tentando entender como seu filho desapareceu sem deixar rastros.

No clube de hipismo, no dorso de seu cavalo, uma semana depois da morte de Kairan, Nicholas pegou-se percebendo que sentia pena da mãe dele. Ela não merecia aquilo. Encontrava-se torcendo, de verdade, para que o corpo de Kai fosse encontrado logo. Para que todo aquele tormento chegasse ao fim e, principalmente, para que Alex fosse preso o quanto antes.

- To te atrapalhando? - Alan chegou montado em sua égua, cavalgando como um cavalheiro, com o barulho dos trotes sendo sufocado pelo chão de terra batida.

Nick não ouviu ele se aproximar até que estivesse do seu lado. Virou o rosto para ele, emergindo daquele oceano de pensamentos, só para erguer as sobrancelhas em sua direção.

- Você tá aí, cavalgando bem devagar já fazem algumas horas - Alan notou, tinha um sorriso largo no rosto - Vim perguntar se eu estou te atrapalhando.

- Não, não está. Desculpa - Nicholas suspirou - Eu só... só estou pensando em Kairan.

Não tinha porquê mentir, realmente estava pensando nele. Naquela altura todo o colégio deveria estar.

O Misterioso Caso Duarte [Em Revisão}Where stories live. Discover now