4. Um Recomeço

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Quarta-feira, 19 de Janeiro, 2022

16:22

Era uma família comum à primeira vista, um pai querido, um filho dedicado, uma história triste envolvendo a morte de uma linda esposa. A família Duarte era sem dúvida uma família importante, as generosas doações anuais de Daniel Duarte para a pesquisa da cura do câncer em hospitais fariam falta. Como um homem tão bom teria um fim tão violento como aquele?

Nos dias que se seguiram tudo o que os jornais publicaram eram dúvidas e suspeitas sobre o caso, e questionavam qual o motivo pelo qual a polícia estava demorando tanto para resolvê-lo. Claramente todas as provas apontavam para o único filho de Daniel, um jovem de dezesseis anos, o único sobrevivente do local, que ironicamente estava escondido no sótão quando tudo aconteceu. Tinha um machucado na testa e dizia várias vezes não lembrar do que houve.

Eliza tirou os olhos da televisão, tentando ignorar os questionamentos do programa, haviam trazido uma especialista em comportamento psicológico, para saber se o jovem Nicholas Duarte tinha traços de sociopatia de acordo com os laudos médicos vazados, relatos de professores e conhecidos de sua última escola.

Estão passando dos limites, pensar sobre aquilo deixava-a um pouco triste. Não era incomum ver a televisão e os jornais demonizando o garoto, era verdade que sua inocência não era certa, mas aquilo só causava cada vez mais ódio generalizado para uma única direção. O verdadeiro culpado deve estar gargalhando agora.

Uma semana antes daquela reportagem, a mesma apresentadora havia entrevistado uma médium de quinta categoria, a mulher afirmava com toda a certeza ter sido visitada pelo próprio Daniel Duarte, que contou-lhe tudo sobre aquela noite, incriminando o filho.

E eu me pergunto, porque esses policiais canalhas estão protegendo tanto o garoto? A apresentadora terminava a matéria com um ar de indignação na voz. Esse monstro deveria estar preso, seu paradeiro deve estar estampado em todas as mídias de comunicação, ele deve pagar pela barbaridade que fez.

- Senhora Elizabeth Pereira? - A moça do balcão surgiu por trás da porta, veio com um sorriso no rosto - O Delegado João Barbará pode vê-la agora.

Eliza levantou-se da cadeira e caminhou até a sala indicada; a delegacia de polícia civil da cidade de recife era bem menor do que a que estava acostumada no rio grande do Norte, mas foi ali que seu pai trabalhou por tanto tempo, e depois que ele se foi, Eliza achou que assim aquele seria um bom jeito de estar perto dele, conhecê-lo melhor.

- Elizabeth, meu deus - O delegado Bárbara abriu um sorriso, era um homem gordo, estava afundado na própria cadeira, e segurava em mãos um jornal, os olhos castanhos brilharam na direção de Eliza - Cresceu bastante desde a última vez que te vi - Ficou de pé para estender a mão - Quantos anos tinha?

- Nove senhor - Eliza cumprimentou o homem, depois sentou quando ele ofereceu o lugar em frente da sua mesa.

Barbara afrouxou o nó da gravata, limpou a garganta, sentou e disse:

- Recebi sua carta de recomendação, realmente fez um excelente trabalho na investigação do caso Tenório em Natal... Foi a própria esposa - Deu uma risadinha - Tem mesmo potencial para ser uma grande agente da polícia civil.

- Tive a quem me inspirar, senhor - Disse aquilo com o orgulho crescendo no peito.

- Seu pai... - João Bárbara espremeu o sorriso - Foi um excelente policial, isso eu tenho certeza, desbancava qualquer um desses idiotas com facilidade. Uma pena o que houve com ele. Eu sinto muito.

Carlos Pereira era realmente o melhor no que fazia, não havia nenhum caso sem solução quando chegava em suas mãos, mas um tiro na costela durante uma operação deu fim a sua glória, não foi o tiro que o matou, foram três longos meses internado num hospital até o dia de seu óbito; o tiro foi só o início de uma série de infecções e doenças que assolou o seu corpo durante a internação, Elizabeth teve de abandonar toda a sua vida em Natal e vir às pressas para recife, para não sair do lado de seu pai. Era um bom homem, e um pai maravilhoso, ficou orgulhoso quando descobriu que a única filha pretendia seguir os mesmos passos.

O Misterioso Caso Duarte [Em Revisão}Where stories live. Discover now