3. Eu Desejo Que Você Morra

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Domingo, 19 de dezembro, 2021

22:15

- Onde ele está? - Seu pai gritava de algum canto da casa, o barulho de móveis sendo arrastados e arremessados assustou a todos - Apareça seu bosta!

Nicholas precisou saltar duas vezes até alcançar a corda que puxava a escada para o sótão. Era seu esconderijo, seu pai não o encontrava quando estava ali. Subiu às pressas e fechou, quando a escotilha bateu, o lugar foi tomado pelo escuro, e as paredes trataram de abafar o ruído e xingamentos do lado de fora.

Arrastou-se para o canto do lugar, era um espaço de mais ou menos vinte metros, com móveis velhos coberto por lençóis, pinturas antigas e retratos esquecidos; quando se escondia ali, o mundo magicamente deixava de existir, ali só havia Nicholas, o medo e a esperança de que aquilo logo acabaria. Levou os dedos até o ferimento em sua boca, Daniel havia acertado-lhe em cheio, no mesmo instante em que bateu, Nicholas ergueu os olhos cheio de raiva e desejou que ele morresse.

- Espero que você morra! - Gritou aquilo para todos na mansão ouvir - Quero te ver queimando no fogo do inferno.

Seu pai brindou seu rosto com mais um tapa, Nicholas desajeitou-se caindo sobre a mesa, bateu a cabeça em algo, e o sangue jorrou numa linha quente e vermelha pela testa.

- Reze então - Ele disse em resposta - Assim como eu rezo todas as noites que você desapareça, reze seu merda. Peça a Deus que eu não esteja aqui, porque se isso acontecer, pode ter certeza que acabarei matando você - Puxou o cinto da calça e fez o couro cair duas vezes, acertando as pernas de Nicholas - Você não é meu filho! Como eu queria que tivesse sido você... Deveria ter sido você e não ela. Maldito! Maldito! Maldito!

Naquela noite Nicholas conseguiu desviar dos golpes de cinto, debateu-se e acertou seu pai no joelho, ele relinchou, e aquilo deu tempo para fugir até o sótão, seu pai já estava embriagado pela fúria.

Amanhã ele não vai se lembrar disso, disse para si mesmo enquanto espremia-se no medo e no escuro do sótão. Ele nunca lembra. Que morra então! Que morra.

Se havia alguém escutando aquilo, certamente não deixou de dar ouvidos. Nicholas adormeceu, e acordou com o barulho de vozes na casa; seu pai poderia ter sido um idiota a ponto de nunca vasculhar o sótão, mas a policia o fez, em busca de mais alguém.

- Tem uma criança aqui - Gritou o homem para as outras vozes nos andares de baixo - Você está bem? Meu Deus, você está vivo. Venha, venha.

E foi guiado para fora, quase escoltado por dois policiais. Havia sangue nas escadarias, junto a grande porta de saída, um corpo era coberto por um dos policiais. No caminho, teve apenas um vislumbre do escritório do pai, a porta estava entreaberta, seis policiais encontravam-se lá dentro, um fotografava algo, outro anotava numa prancheta.

- Quatro vítimas, senhor - Alguém murmurou num pequeno rádio - Sim, sim, há um sobrevivente.

Nicholas nunca viu tantos carros da policia juntos, e todos estavam estacionados no jardim, com as luzes iluminando as plantas, azul e vermelho, azul e vermelho. Foi guiado até uma das ambulâncias, e um paramédico prontificou-se para se certificar de que estava bem.

- O que houve garoto? - Colocou os olhos fixos em Nicholas - Consegue lembrar de algo?

Tudo era um borrão, tinha adormecido tão pesado a ponto de não conseguir ouvir os tiros?

- Ele está morto? - Perguntou, não tirando os olhos da porta de entrada da mansão.

O paramédico o encarou por um momento e acenou com a cabeça.

O Misterioso Caso Duarte [Em Revisão}Onde histórias criam vida. Descubra agora