36. Adeus

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~Nota do autor~
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apítulo que está prestes a ler pode conter descrições de extrema violência, ofensas verbais, violência física e sexual, pensamentos suicidas e não deve ser lido por pessoas sensíveis.

Quarta-feita, 20 de Abril, 2022

Horas Antes Do Assassinato

07:33

"...Acho que já enrolei muito, o que deveria ser apenas um simples bilhete tornou-se uma carta enorme. Pelo menos eu espero que você entenda, é que um bilhete não pareceu o bastante para provar por meio de palavras que eu te amo e, sinceramente? Nem depois de ter escrito uma carta inteira sinto que passei tudo o que queria ter passado. Enfim Kairan, eu só quero que entenda que isso não foi culpa sua, saiba o quanto foi importante para mim e o quanto eu te amo.

Com amor, Nicholas.

Adeus."

Escrever aquelas palavras foi talvez a coisa mais difícil para Nicholas. Sentia-se sujo, um amargo na boca e a tristeza no peito. Era difícil, ele sabia, mas não tinha outra alternativa para aquilo.

Ligou a impressora e enviou o arquivo, assim que a impressora começou a trabalhar Nicholas soube que não haveria mais volta. Ela fez um bipe e sugou a folha, os quatro segundos imprimindo pareceram para Nicholas uma eternidade; era como se a máquina estivesse lendo as palavras e julgando-o.

Não deveria ser assim tão difícil, não para Nicholas. Havia decidido fazer aquilo a semanas, contando os dias como uma criança que acabara de receber a informação de que iria para o parque de diversão no sábado; noite passada chegou a perder o sono quando enfiou na cabeça que eram os seus últimos momentos com vida.

Emergiu no medo, a garganta ficou seca e a ansiedade fazia suas pernas tremer. No começo pensou que era medo, e talvez fosse, quem não tinha medo de morrer? O outro lado, dependendo da crença de alguns, podia ser um lugar assustador.

A impressora cuspiu a folha quente com todas as letras impressas. Nick a pegou e analisou a carta uma última vez, torcendo para que Kai entendesse cada palavra e que seus motivos tivessem ficado bem explicados. Dobrou o papel e o enfiou dentro de um envelope de carta. "Para o meu amor, Kairan", escreveu e a enfiou na mochila.

Era interessante como saber que aquele era o seu último dia de vida tornava, de alguma forma, o dia mais belo. Era uma sensação que todos deveriam sentir, pelo menos uma vez em suas vidas; o céu parecia bem mais claro e azul, a grama mais verde e os pássaros pareciam cantar mais alto. Nick sentia como se tivesse num maldito conto de fadas, com tudo em sua volta tentando convence-lo como era belo viver aqui.

Quis rir de imediato pois era patético aquele pensamento. Atravessou o campus numa velocidade surpreendente, ignorando a maré de alunos que migraram de um lado a outro para as salas de aula.

Havia decidido que não iria assistir nenhuma aula naquele dia. Era só mais uma das muitas vantagens de saber que eram as suas últimas 24 horas de vida, não deveria perder tempo com coisas chatas e banais, e sim fazer tudo o que lhe desse na telha. Ignorar a sessão de terapia no sábado anterior foi só o início.

Nick pegou-se pensando se sua mãe também sentiu o mesmo quando o médico lhe disse que não teria mais do que três meses de vida.

Não, ela não pensou nisso, não sentiu nada além de uma profunda tristeza. Pensar em sua mãe daquela forma trouxe uma pontada em seu coração. Diferente de Nick, a mãe tinha algo para se agarrar na vida; um filho para criar, um marido para disciplinar. Uma vida inteira pela frente.

O Misterioso Caso Duarte [Em Revisão}Onde histórias criam vida. Descubra agora