O Misterioso Caso Duarte [Em Revisão}

37. Cabana

~Nota do autor~

O capítulo que está prestes a ler pode conter descrições de extrema violência, ofensas verbais, violência física e sexual, pensamentos suicidas e não deve ser lido por pessoas sensíveis.

Quarta-feita, 20 de Abril, 2022

Horas Antes Do Assassinato

22:51

Na penumbra do bosque a cabana não parecia assim tão assustadora. 

– Está mesmo certo disso? - Perguntou Felipe, abraçando a si mesmo tentando escapar do frio que aquela noite trazia.

– Tem que acabar hoje, vocês não acham justo? - Perguntou Nick.

Abriu a caixa de sapato e desembrulhou a arma do jornal. Naquela noite ela parecia bem mais leve do que o normal. Abriu o tambor e viu as câmaras vazias girando com o rápido movimento de seu pulso.

– Então vamos acabar logo com isso, esse silêncio está me matando - Felipe murmurou, olhando para os lados, observando as árvores que se espremiam e os cercavam num abraço – Odeio esse lugar, nada de bom acontece aqui.

– Hoje a noite isso muda, eu garanto - Nicholas prometeu.

Não tinha como aquele plano dar errado, tudo havia corrido perfeitamente como esperavam. Nicholas pegou-se pensando o quanto estava pronto para aquilo.

Mais cedo, enquanto pensava em sua morte, várias vezes pensou em desistir, o medo estava o corroendo por dentro; foi difícil sair do dormitório e caminhar para aquela mata, o nervosismo tornou suas pernas rígidas. Mas, quando sentiu o frio da noite e ouviu o silêncio do bosque, foi como se o medo tivesse desaparecido, dando lugar para a ansiedade de ver tudo aquilo chegando ao fim.

No fim das contas, Nicholas sentia-se animado.

Jogou a arma para a outra mão e pegou da caixa o embrulho com as balas.

– Para que está pegando isso? - Felipe notou, estava atento a tudo – Não vai recarregar a arma, então não precisa das balas.

– Eu só vou deixa-lá por perto - Nick disse com um sorriso, esperando que o japonês acreditasse naquela fraca desculpa.

Felipe Takashi espremeu os olhos e voltou a se abraçar quando o vento balançou os galhos e rodopiou naquela clareira.

– Vamos entrar logo, eu sinto que estou sendo observado - murmurou Tomás.

O interior da cabana tinha bastante semelhança com o interior de cabanas abandonadas dos filmes de terror. Aquele lugar era o cantinho especial dos lobos, a toca deles. Kairan havia lhe contado que a cabana fora a única sobrevivente de um conjunto de dez cabanas que a cercavam. Antigamente, nos anos 90, ali era uma espécie de vila para os empregados do colégio.

Mas as cabanas ficavam muito longe do colégio, e mesmo que o silêncio trouxesse paz aos professores e funcionários, eles odiavam a sensação de estar cercado por árvores e escuridão, principalmente numa escola onde não era incomum ouvir histórias de fantasmas e assombrações.

A cabana foi abandonada no começo de 2008, as nove outras que lhe acompanhavam foram derrubadas, dando lugar à gramas altas e árvores tortas; mas aquela permaneceu e, como esperado, foi esquecida pelos diretores.

Desde então passou a se tornar a toca dos lobos, por estar suficientemente perto do campo de futebol e da área do clube deles. Usavam a cabana para promover suas festinhas particulares com bebidas e drogas a vontade, tudo isso longe da segurança do colégio e da visão da diretora. Além de suas festas, usavam o espaço para fazer a iniciação.