Capítulo 56

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Narrador

O incessante medo da perda te deixa inerte e vulnerável. As implicações de que alguém que você ama morrerá te faz duvidar de si mesma. Te faz enlouquecer tão lenta e tortuosamente que é inevitável manter qualquer integridade ou raciocínio lógico intactos.

Destruída.

Vulnerável.

Desesperançosa.

Aflita

Culpada.

Eram palavras precisas para descrever as sensações que torturavam a dona dos lindos olhos verdes, que um dia qualquer, em uma caminhada qualquer, fez Camila sorrir estonteantemente.

Sozinha naquele quarto, Lauren apertava a mão delicada do seu amor, numa tentativa dolorosamente falha de trazê-la de volta, de fazê-la responder a qualquer estímulo. Era como se o destino quisesse brincar com sua sanidade. Um dia amou tão intensamente alguém, em outro se viu destruída, após jurar que nunca amaria outra pessoa em sua vida se apaixonou novamente, por uma linda e gentil professora. Lauren se reconstruiu aos poucos, somente para… perde-la?

Não era justo.

Dinah — Lauren. — Seus olhos marejados desviaram até sua irmã, que silenciosamente, a puxou para um abraço acolhedor. — Laur, você está aqui há três dias inteiros, você precisa ir para casa, ver o Louis, comer algo sólido e ter uma noite bem dormida.

A menção ao seu filho a fez voltar à realidade. Sua mente estava tão ocupada, cheia de dúvidas, culpas, medos e inseguranças que simplesmente a fizeram esquecer que tinha uma vida fora daquele quarto de hospital. — Eu vou, mas não agora. — Disse ao desvencilhar-se do abraço de sua irmã. — A Sinuhe mal consegue olhar a Camz nesse estado, e a Ally está exausta, leve elas até o apartamento e peça para que peguem coisas essenciais e as leve para nossa casa.

Dinah — E depois, eu voltarei aqui e ficarei cuidando da Camila enquanto você estiver descansando em casa, combinado?

Sem uma única palavra, somente um aceno sutil de cabeça, Lauren confirmou, vendo sua irmã sair do quarto, sussurrando algo para o segurança próximo a porta. Lauren os ignorou, voltando sua atenção para Camila.

Enquanto a observava pela milésima vez naquele mesmo dia, Lauren perguntou-se, se de alguma forma, ela estaria sonhando como os livros sempre descreviam, se estaria presa às lembranças felizes de sua infância. Sorriu incrédula. — É óbvio que não. — Sussurrou. Aqueles eram pensamentos otimistas de que talvez a mulher que amasse não estaria sofrendo em sua inconsciência.

Seu nível de consciência havia diminuído drasticamente, não havia pensamentos, lembranças ou sonhos felizes que a impediam de acordar. Era um simples vazio em uma consciência apagada. Ela não ouviria todos os pedidos de desculpas proferidos por Lauren, ou os seus choros abafados, seus pedidos para que voltasse ou os seus “eu te amo.” Mas ainda sim, apesar de destruída e sem esperanças, Lauren sempre estava sentada ao seu lado, acariciando seus cabelos castanhos e suas mãos gélidas enquanto sussurrava para que voltasse, para que acordasse, para que sorrisse, para que enfim a abraçasse e afastasse todo esse pesadelo que a atormentava. Apesar de saber que seu filho precisava dela, Lauren não conseguia sair do lado da mulher que amava, silenciosamente, oferecendo sua vida a qualquer divindade existente para que pudesse tirá-la do coma, mesmo que precisasse entregar sua vida para isso.

Lauren não sabia, mas sua irmã se culpava silenciosamente, torturando-se ao pensar no quão poderia ter sido diferente se ela mesma tivesse descido e pegado a porcaria do vinho ela mesma, ou se até, não tivesse esquecido a garrafa. Apesar de seu carro ter sido lavado inúmeras vezes, podia sentir o cheiro do sangue impregnado em seu banco, ou até mesmo enxergar a vermelhidão manchar suas roupas e mãos. Talvez, se tivesse-a encontrado alguns minutos mais cedo, poderia estar acordada, recuperando-se. Seria ótimo se pudesse voltar ao momento em que estavam sentadas uma ao lado da outra, tentando decidir qual dos bolos favoritos da Ally fariam juntas. Dinah abriu as janelas do seu carro, tentando afastar o cheiro imaginário do sangue.

O trajeto entre o hospital e o apartamento havia sido rápido. Dinah havia se certificado de que não havia ninguém no apartamento de Allyson antes de deixá-la sozinha para que pegasse algumas roupas e objetos pessoais, e logo fez o mesmo no apartamento de Camila, acompanhando Sinuhe para ajudá-la com as duas bagagens. Enquanto Sinuhe pegava suas próprias roupas, Dinah estranhamente notou um envelope branco sobre a cama, e sem que Sinuhe notasse, o pegou, guardando-o em seu bolso rapidamente.

Dinah — Eu posso voltar aqui depois e pegar mais coisas caso precise. — Sinuhe acenou tristemente. — Eu vou ver se a Ally está bem, e já volto, qualquer coisa grite, ok? — Mais uma vez viu a mais velha acenar.

Com seu coração disparado e o medo iminente de que algo estava errado, Dinah correu para fora do apartamento, batendo na porta de Allyson desesperada. — Estou indo. — A voz calma da mulher a fez respirar aliviada. — O que houve Dinah? — Disse ao abrir a porta.

Dinah — Eu encontrei isso. — Tirou o envelope do bolso, e com um olhar compreensivo de Ally entrou em seu apartamento, retirando alguns pequenos papéis de dentro.

Suas mãos tremeram no exato momento em que viu fotos suas daquela mesma manhã em frente a cafeteria. Dinah levou uma de suas mãos à própria boca, como se estivesse prestes a abafar um grito.

Ally pegou as fotos de suas mãos, observando todas as quatro, a última sendo do exato momento em que ela entrou no carro a caminho do hospital. — Ele estava nos vigiando… ele entrou no apartamento da Mila… Ele…

Dinah — Não vamos contar a ninguém sobre isso. — Sussurrou em segredo, pegando as fotos e as colocando novamente no envelope. — Ele quer nos assustar, e a Lauren está abalada demais para saber disso.

Ally concordou, pegando a mala que estava no chão, sentindo uma leve pontada em sua perna recém recuperada. — Então vamos, não podemos ficar aqui. — Dinah pegou a mala de suas mãos, observando Ally trancar a porta antes que voltassem para Sinuhe, que estava em frente à porta, trancando-a.

Sinuhe — Terminei. — Disse ao arrastar as duas malas. Sem uma única palavra, Dinah pegou uma das malas, levando-a consigo.

Ally — Vamos, aqui não é seguro.

Rewriting The Stars (G!P)Where stories live. Discover now