31. Correndo em suas veias

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   O som era alto o bastante para que não conseguisse ouvir nem mesmo meus pensamentos. O chiado grave feria meus tímpanos enquanto fracassadamente tentava me mover contra a força que me pressionava. Meu corpo estava pesado demais para sequer conseguir respirar com facilidade, menos ainda conseguia mover-se contra as amarras que o circundavam.

O vento era forte e batia em meu rosto impiedosamente. Era frio e intenso demais, como pequenos estilhaços de vidro contra minha pele.

Eu mal conseguia enxergar e tudo o que via eram vultos e clarões que machucavam meus olhos conforme tentava focar em algo específico.

Tive a impressão de ouvir Jungkook gritar e forcei meus olhos a abrirem-se apenas um pouco mais.

–AGARREM ELE.

Disse alguém, tão longe que mal pude decifrar a voz grave.

Pisquei os olhos mais algumas vezes, com o vento cortante contra eles, tentando recapitular os acontecimentos recentes e como exatamente fui parar ali. Mas assim como minha visão, minha mente estava coberta por uma névoa densa e amarga que me impedia de entender claramente o que houvera.

– ME SOLTA – rugiu a segunda voz.

Jungkook? Resmunguei.

Sabia disso pois pude sentir o vibrar de minhas cordas vocais. Forcei meus olhos a continuarem abertos por mais um pouco, mesmo que já estivessem lacrimejantes demais.

Pude ver a minha frente, amarrado em um branco marrom escuro, Tio Jin. Estava com uma mordaça entre os lábios, seus olhos fixos em mim demonstravam tamanho pânico a ponto de me fazer arrepiar. Ele parecia gritar, implorar por baixo do pano cinza em sua boca, movimentando o corpo com tanto afinco na tentativa de libertar-se das cordas a sua volta. Sua testa sangrava e suas roupas manchadas de sangue faziam meu coração doer no peito em completa ansiedade.

Tio Jin se debatia e tentava soltar-se das amarras quanto o via fracassar sem mesmo poder ajudar.

Meu corpo parecia tão incapaz e cansado. Meus olhos sonolentos e pesados insistiam em fechar mesmo contra minha vontade. O pavor e a ansiedade consumiam todo meu ser, enquanto as lágrimas traiçoeiras e inconvenientes embaçaram minha visão ainda mais.

Ao seu lado pude ter o vislumbre das mechas de Yoongi. Seus olhos estavam fechados parecendo pequenos tracinhos. Sua boca estava coberta por uma fita e ele dormia profundamente. Seus braços e pernas estavam amarrados e sua cabeça por vezes chacoalhava fazendo as mechas negras entrarem em contato com um longo corte na lateral de sua sobrancelha.

Havia em sua bochecha um rastro escarlate que aumentava conforme os segundos se passavam, manchando o rosto pálido do garoto, surgindo de seu corte e escorrendo até seu pescoço.

Hoseok ao seu lado movia os olhos sonolentos, piscava lentamente, olhando seus braços cobertos por hematomas contidos com as mesmas cordas que tio Jin. Ele assim como eu, não parecia conseguir se mover, o via engolir em seco, parecendo se esforçar para entender onde estávamos. Por fim, seus olhos fecharam e ele adormeceu.

– O AMARREM LOGO – o grito pareceu ecoar nas paredes de metal que nos abrigavam.

–ESTOU TENTANDO.

Não tenho certeza do momento exato, mas senti minha garganta vibrar em um grito doloroso quando alguém caiu aos meus pés, esmagando-os e comprimindo minhas pernas. Meus olhos preguiçosamente se arrastaram até o corpo e mais uma vez senti meu corpo entorpecer.

O homem desacordado era alto e esguio, cabelos de um ruivo rosado e rosto com traços delicados e bem acentuados.

Hyunjin.

Whisky CerejaWhere stories live. Discover now