06 - Da morte à manhã

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     Acordar era a palavra menos adequada para o que fiz naquela manhã, isso porque nem mesmo consegui dormir. Não fora por falta de sono nem mesmo cansaço, eu apenas não consegui fechar os olhos sem lembrar do que vi. Entretanto não estive sozinha. Bam pareceu empenhado em me fazer companhia pela grande parte do tempo, se recostando ao meu lado e sentindo o carinho que fazia em sua pelagem em silêncio. Sem julgamentos ou olhares atravessados. Ele era como Nezuko, uma companhia perfeita.

A cama de Jungkook era grande, macia e confortável. Tinha o cheiro dele por todos os lados, amadeirado com um toque de amaciante de algodão. Sua camisa era grande demais em mim, mas não me importei, sempre amei camisetas largas. Seu quarto era estranhamente organizado, com cada objeto em seu devido lugar.

A parede onde a cama estava encostada era de tijolos a vista, com várias placas de carro postas uma abaixo da outra no quadrante direito. A esquerda era composta por alguns pôsteres de super herói. E no centro havia uma guitarra azul cintilante. A mesa de cabeceira era um amplificador e perto de uma janela com cortinas blackout havia uma cômoda marrom claro com alguns action figures de heróis da Marvel e miniaturas de veículos. O armário das rupas, sem portas, ficava ao lado da porta do banheiro. Haviam alguns livros que curiosamente peguei para ler no meio da noite. Em uma tentativa falha de me distrair. Dentre eles, um conto de duas cidades. Me surpreendi com o fato de Jungkook ter um livro tão antigo como aquele. Li uma página ou duas antes de fecha-lo e devolvê-lo a seu lugar de origem.

Segui bisbilhotando como uma menina de cinco anos e encontrei, em cima do amplificador, um caderno com capa de couro escura. Com desenhos curvilíneo feio no próprio tecido envolvendo duas letras "JJ".

Jeon Jungkook.

O abri e me surpreendi por se tratar de um caderno de desenhos, com várias obras decorando as páginas. O traço delicado, sombreado e tão bonito que me fez ficar longos minutos admirando. Haviam desenhos de todos os tipos, pessoas, lugares, moto do Hoseok. Todos assinados com Jk.

Quando a luz do dia apareceu abaixo das cortinas escuras decidi levantar e sair. Não aguentava mais ficar sobre uma cama que não me pertencia, por mais gostosa que fosse.

Assim que sai do quarto Bam me seguiu como se fosse meu guarda costas. Hoseok estava sentado sobre a bancada da cozinha, debruçado sobre a mesma segurando seu celular. Assim que fechei a porta e um leve ruído afastou o silêncio, o loiro mirou para mim.

-Acordou cedo, garota. - disse ele.

O loiro vestia uma camiseta branca com um colete jeans por cima e calças jeans no mesmo tom. Os cabelos alinhados e escovados para trás o deixavam um tanto mais bonito que na noite anterior. Parecendo mais amigável, entretanto haviam vestígios em seus mirantes, vestígios aqueles que entregavam o que haviam sido testemunhas na noite anterior.

-Eu tenho nome, e não é garota. - Respondi ido em sua direção.

Ao lado de Hoseok havia uma cafeteira que continha um pequeno bule de vidro. A sua frente haviam dois cupcakes de morango e uma caneca com chantili e granulados azuis, que só consegui ver quando me aproximei.

-Conseguiu dormir noite passada? -perguntou o loiro parecendo realmente interessado.

-Um pouco. - Aquilo era mentira.

-Pra você.

Hoseok timidamente estendeu os bolinhos e a caneca. Meu estômago roncou e foi só então que percebi o quão faminta estava. Eu os peguei no mesmo instante enquanto encarava o loiro que parecia envergonhado demais. Beberiquei do café agradecida.

Café com granulado

-É um macchiato, não sei se gosta. – disse ele com os olhos enrugados. - Queria me desculpar pelo que aconteceu ontem. Não sou, não somos ...os monstros que mostramos naquela hora. Sinto muito por ter te assustado.

Whisky CerejaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora