Prólogo

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     Havia uma certa beleza no pôr do sol. O crepúsculo do dia surgindo em tons de roxo, rosa e azul e pouco a pouco trazendo a noite para aqueles que adoravam admirar a lua. Era engraçado o quanto achava ridículo os que ficavam horas admirando um astro que nem se quer estava vivo, feito de buracos e mais buracos. Mas agora eu conseguia ver que o idiota era eu, que nunca teve tempo suficiente para gastar admirando essa coisa. Ou se importou o bastante para tal.

Mas acabei descobrindo que aquele momento havia se tornado importante, o pôr do sol indicava que em instante as estrelas iluminariam a escuridão e rodeariam a lua, emoldurando a mesma como uma grande rainha do céu. Havia descoberto que eu e ela éramos similares, ambos cheios de buracos necessitando que algo pequeno e brilhante tirasse a tristeza e escuridão que nos assolava. E dentre todo aquele breu que era minha vida eu encontrara a minha estrela. E mais uma vez eu soube o quanto doía perderde-la, o quanto a magoara.

Apesar da lua no céu roubar toda a tenção para si naquela noite fria de dezembro, eu não conseguia olhar para cima. Apenas para a única coisa que roubara meu folego a anos atrás.

Gostaria de dizer que os dias que passaram, anos atrás, se tornou algo que eu amaria relembrar. Mas não é... Sempre foi e sempre será a história de como eu perdi a minha luz.

         ..............4 anos atrás......

    Azul sempre foi a cor que mais odiei. Nunca soube dizer ao certo o motivo, mas naquele momento eu desejei que ele permanecesse.

O sangue se espalhava aos poucos na camisa azul anil que aquele desconhecido vestia. Era vibrante e aos poucos a tonalidade foi se tornando intensa. Como se algo a estivesse queimando. Os olhos dele olhavam pra mim com espanto, suplicantes como se dissessem.

"Por favor. Não me deixe morrer."

Mas o que eu poderia fazer?

Aparentemente éramos dois fugitivos. Eu nunca soube do que ele realmente fugia. Mas pelo modo como estava ofegante isso era evidente.

Ele deu mais um passo na minha direção. Cambaleante e incerto arrastando a mão ensanguentada nos tijolos amostra do lugar, deixando seu rastro escarlate. O beco estava escuro, não o bastante para que não pudesse enxergar seu tosto ou as marcas de balas. Mas ele não parecia ser muito mais velho que eu. Estava assustado e disso eu me lembro muito bem.

Outro passo. E lá estava. Na palma de suas mãos. À primeira vista eu não entendi.

Por que diabos aquele cara 'tava me dando um colar?

Eu o peguei. Mas não porque o queria de verdade. Mas porque senti pena.

Ele estava morrendo. Mas seus olhos eram tão azuis, tão temerosos e ansiosos, e pareciam mais preocupados com aquilo do que com a própria vida. Senti o pingente metálico gelado sobre minha palma e meu corpo todo se arrepiou.

-Wh...whisky...ce... cereja.

Whisky cereja?

Parecia ainda mais ridículo.

Coisas estranhas sempre aconteciam comigo. E parecia que merda atrás de merda era o nome do filme da minha vida. Minha vontade era correr para o mais longe possível e não dar chance para que ninguém me ligasse aquela morte. Eu quis. Mas não consegui me mover depois de ouvir aquelas palavras. Como se me congelasse por completo.

Whisky cereja

Por fim o homem caiu de joelhos no chão, batendo a cabeça com força. Os olhos seguiam nos meus, esbugalhados e cheios de algo que eu sabia muito bem o que era. Medo. Mesmo sem precisar sentir sua pulsação eu sabia que já era tarde para se fazer algo. Tarde demais para salva-lo.

Whisky CerejaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant