Whisky Cereja

27- A casa dos segredos

–A casa está silenciosa demais. Será que tem alguém?

O sussurro de Yoongi pareceu ecoar na rua deserta.

Rua Backer, número 109. Já estivemos frente a frente momentos antes, estes que trouxeram consigo algumas perguntas cuja Jungkook já tinha as respostas e egoistamente não queria compartilhar com os demais do grupo.

Por um momento esqueci do quão furiosa estive, mas agora, olhando para tudo o que estávamos prestes a fazer e como eu estava até o pescoço envolvida naquela situação, era ridículo dizer que não fazia parte do time.

Meu salto estava cravado na grama úmida, enquanto a barra de meu vestido de cetim encostava na lama e formava uma pequena crosta amarronzada em sua fina costura. Havia prendido meus cabelos em um coque alto que irritantemente insistia em desabar me forçado a refazê-lo algumas vezes.

Vez ou outra sentia os pequenos grãos de areia rasparem em minhas coxas ao andar, assim como os sentia se acumularem entre meus dedos dos pés.

Gostaria de ter tido a oportunidade de tomar um banho antes de nossa caçada noturna.

Ao meu lado estava Yoongi e Seokjin que analisavam inquietamente Hoseok e Jungkook pularem o muro de uma das casas vizinhas ao nosso alvo e arrombarem, sem dificuldade alguma, a garagem dos moradores.

– Não... – respondeu meu tio. – Se tiver alguém, deve estar dormindo uma hora dessas.

Em menos de cinco minutos os dois voltaram correndo, com Hoseok trazendo um corta-vergalhão na mão direita.

–Pronto – disse o loiro parando a nossa frente e mostrando o que acabara de conseguir –Podemos entrar pela grade de trás.

Todos assentimos e seguimos para dar a volta na mansão. Poderia simplesmente ter avisado aos dois assaltantes que tinha uma ferramenta igualzinha àquela na minha casa, e que não precisávamos ter roubado de outra pessoa, menos ainda invadido sua garagem. Mas decidi ficar em silêncio, visto que ninguém mais se mostrou incomodado o bastante.

Ladeamos a casa até encontrarmos a grade que delimita a cerca viva servindo de decoração nos arredores da mansão.

Hoseok começou a cortar os arames grossos que vez ou outra eram ruidosos demais em meio a calada da noite.

–Por que o garoto escreveu seu nome na janela? – foi Seokjin quem perguntou, silenciosamente, mas alto o bastante para Yoongi arregalar os olhos e o mandar fazer silêncio.

–Se eu soubesse não estaríamos aqui – respondeu Jungkook mal humorado.

Desde o momento em que recebemos a ligação na praia, Jungkook manteve seu semblante sério. No telefone, Seokjin disse para que voltasse a mansão rapidamente, pois o garoto que espiava a tempos pela janela, havia escrito seu nome no vidro.

– Você conhece ele? – perguntei.

–Não.

–E a mulher? – insistiu Yoongi. –Parece ser mãe dele.

Jungkook não respondeu, deu alguns passos para perto de Hoseok e segurou a grade para ajudá-lo a cortar os pedaços que faltavam.

–O que ele fez exatamente? –perguntei.

Seokjin balançou a cabeça, evidentemente afetado com a pergunta.

–Ele ficou parado por uns 20 minutos na janela encarando o carro – respondeu. – Bufou no vidro e escreveu Jungkook.

–Depois disso, a mãe dele apareceu e o levou embora.

–Foi assustador.

–Nem consigo imaginar o quanto – debochou Jungkook. – Vamos indo.