02

39K 2.1K 172
                                    

Lucas Santiago.

— Já tem a lista de quem precisa ser cobrado? — perguntei a LL enquanto acendia um cigarro.

— Aqui está, patrão. — Ele me entregou um caderninho.

Ao ler os nomes e as dívidas, meu olhar parou em um específico.

Eric de Souza, 30 mil, Rua três.

— Que merda é isso, cara? Como ele deve 30 mil? Já disse que, quando chegasse a cinco, não era para vender sem ter pago. — Mostrei para ele, e ele me encarou.

— Não sei, cara, não sou eu que cuido dessa parte.

— Porra. — Passei a mão no rosto. — Dividam com o Gb e cobrem todo mundo, deixem o Eric que eu resolvo.

Luan concordou e saiu da minha sala. Sentei-me, dando uma tragada no meu cigarro e respirando fundo.

Às vezes, nem a maconha consegue me acalmar.

Já avisei mil vezes para não vender maconha fiado se já deviam cinco mil.

Vou ter prejuízo; óbvio que o cara não vai pagar. Quem tem trinta mil na conta mora num morro?

Resolvo na base do tiro mesmo, foda-se; quem compra já sabe como funciona, pô.

Deixo o caso do Eric para amanhã e vou para casa. Já me estressei o suficiente hoje.

Em casa, encontro Agatha sorridente no sofá, mas seu sorriso desaparece ao notar minha presença.

— Se liga, Agatha. — Fuzilei ela, e Agatha mostrou a língua, subindo para o quarto.

Subi para o meu quarto e fui direto para o banheiro tomar um banho.

Hoje tem um pagode na quadra, mas confesso que não estou com ânimo para sair; estou cansado.

Terminei o banho, vesti uma bermuda preta, uma blusa branca da Lacoste no ombro, minhas correntes, anéis e, por fim, meu boné da Lacoste.

Pai é bonitão, fi, esquece. — Pensei, encarando-me no espelho.

Coloquei meu radinho, o fuzil na cintura e minhas Kenner, saindo do quarto.

Fui ao quarto de Agatha, abri a porta sem bater, encontrando-a olhando para roupas na cama.

— Vai ao pagode? — Ela olhou para mim e concordou com a cabeça. — Passo para te buscar às 21h; se não estiver pronta, vai a pé. — Ela revirou os olhos e concordou novamente.

Saí do quarto dela, deixando a porta aberta só para irritá-la; ouvi xingamentos e uma porta batendo no corredor.

Saí de casa e decidi passar na Dona Márcia para almoçar; a comida lá é ótima, e estou faminto.

No caminho, encontrei LL e JV, que logo se convidaram para almoçar comigo.

Maria Júlia.

A aula terminou, e fui direto para o bar. Cumprimentei Dona Márcia ao chegar e fui me trocar. Trabalhava como atendente, mas às vezes ficava no caixa.

Encostada na bancada, vi Chefin, LL e JV entrando; eles se sentaram, e respirei fundo antes de atendê-los.

— Boa tarde, como posso ajudar? — Perguntei educadamente.

— Um litrão e aquela comida boa da Dona Márcia. — Anotei, concordando, e sorri antes de sair quase correndo.

Entreguei o pedido na mesa deles e atendi outros clientes.

O resto do dia foi assim, atendendo mesas e olhando para o nada. Agora, terminando de limpar as mesas, tirei meu avental e fui me trocar. Cruzei com Dona Márcia.

— Já estou indo, Dona Márcia.

— Certo, minha filha, se cuida.

— Pode deixar! — Beijei-a.

Saí do bar com minha bolsa nas costas e fui a pé para casa. Já passavam das 20h, e a rua estava movimentada.

Cheguei em casa, abri a porta e encontrei meu irmão de olhos vermelhos no sofá. Tentei sair despercebida, mas foi em vão.

— Onde pensa que vai, Maria Júlia?

— Eu… eu estava indo para o meu quarto — gaguejei.

Por que não consigo enfrentá-lo?

— Você vai pagar a minha dívida com o Chefin, entendeu?

— Mas... O dinheiro que ganho mal dá para o aluguel e comida.

— Não perguntei, você vai pagar, não importa como.

— Eu não vou pagar nada; a dívida é sua, não minha. — Minha bochecha ardeu, e os olhos encheram d'água.

— Olhe como fala comigo, ou bato de novo. — Engoli em seco. — Você vai pagar, certo? — Ele passou a mão por mim.

— Vou. — Falei em um sussurro, segurando as lágrimas.

— Ótimo! — Afastou-se e saiu de casa.

Corri para o meu quarto, trancando a porta, e sentei na cama, chorando.

Por que isso está acontecendo comigo? Eu nunca fiz mal a ninguém.

Entre lágrimas, acabei dormindo.

• aperta na estrelinha •

Lucas Santiago, Chefin
28 anos.

Lucas Santiago, Chefin28 anos

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
Vendida ao TraficanteWhere stories live. Discover now