49 . TEORIA DO CAOS (PENÚLTIMO CAPÍTULO)

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Eu estava completamente ensopado da cabeça aos pés e agora todo o meu corpo tremia de frio como se eu estivesse me deitado sem roupas em neve durante o inverno no Alasca.

O carro de Dimitri já havia se distanciado o bastante para que a luz dos faróis já estivessem quase invisíveis por conta da chuva forte que ainda lavava a terra. Contudo, isso não me impedia de continuar correndo pelo gramado rumo à casa dos Harper para enfim encontrar-me com Blake.

Como já era previsto, eu tropeço e caio algumas vezes, fazendo com que o joelho das minhas calças se rasguem e que um ferimento não muito profundo comece a derramar sangue não só pelo restante da calça, mas também, um pequeno rastro vermelho como naqueles filmes de terror slasher.

E enfim, chego a porta dos Harper e o som da televisão logo chega aos meus ouvidos também junto do aroma maravilhoso de sopa de cenoura com gengibre que invade minhas narinas.

Ouço a doce voz da Sra. Harper falando com Seamus que parece não estar muito feliz com algo e por isso me pergunto se eu devo bater à porta e pedir para falar com Blake, ou se devo continuar sendo torturado pelos meus próprios pensamentos e medos e aguentar, ou ao menos tentar aguentar até a manhã seguinte para retornar a casa dos Harper.

— Mãe! Eu não vou aceitar que ele faça isso! Quem ele pensa que é? — Brada Seamus de modo irritado.

— Filho, fique calmo... por favor, ele vai te ouvir e eu não quero outra briga. — Implora Amelia.

— E você acha que eu lá quero outra briga aqui dentro? Esse filho da puta merece uma boa surra até ficar aleijado. — Rosna Sammy e ouço um som de soco atingir algo metálico.

— Fique calmo por favor! — Pede a Sra. Harper mas Seamus pisa firme no chão como um grande terremoto.

— Se ele tocar outra vez em Blake eu irei chamar a polícia de Melbourne! E ai a casa dele vai cair e então poderá apodrecer na cadeia pelo restos dos dias de cão que esse bosta merece.

Meu coração se torna uma completa pedra de gelo ao ouvir aquilo e por um momento acho que as minhas pernas iram ceder ao meu peso e irei cair.

Blake não estava bem. O monstro o atacou e o faz mal novamente. Eu estava certo o tempo todo, o meu maior medo realmente era realidade e isso fez com que um bolo enorme se formasse em minha garganta e eu não conseguisse nem ao menos respirar e nem piscar.

Era como se por um momento o meu espirito tivesse saído do meu corpo e agora vagasse pelo vazio do céu e da noite. Eu não podia acreditar. O meu Blake foi ferido, ele estava ferido e precisava de mim.

— Você não pode fazer isso. Já pensou o que será de nós se ele for embora? — Amelia indaga calmamente.

Se faz um minuto de silêncio antes da voz de Seamus soar mais uma vez.

— E você mamãe, já pensou o que será de nós se ele continuar aqui? — Ele pergunta e então tudo se cala por um longo tempo.

Acho que se passou pelo menos cinco minutos antes de Amelia falar novamente e então possivelmente subir as escadas.

— Eu sei, Sammy... eu sei que é difícil. Me perdoe. — Ela diz pacificamente e então tudo se cala.

Eu não queria pensar na hipótese de que Blake estava machucado, que David o fez mal, que o feriu mais uma vez. Porém, era simplesmente impossível não pensar já que da própria boca de Seamus eu o ouvi dizer.

Meu coração se enche de dor e culpa. Eu não deveria tê-lo deixado.

As lágrimas caem pelo meu rosto, mas por toda chuva que eu tomei, é quase impossível de notar o meu choro brando, porém cheio de dor.

APPLE HARVESTWhere stories live. Discover now