21 . O SONHO

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Seamus grita e posso ouvir seus passos que soam um tanto abafados correrem até mim.

Posso ouvir também uma segunda voz a qual não reconheço muito bem gritar de horror e também começar a correr ao meu encontro.

Sinto o solavanco atingir minha nuca, e logo em seguida também o rosto por quase cinco vezes, e não demora para que meu corpo colida com algo sólido que chega a quase esmagar o meu ombro.

E assim, minha visão se torna completamente escurecida e apagada feito a tela de um computador quebrado.

***

Não sei ao certo se é uma realidade ou um sonho. Mas quando abro meus olhos com muita dificuldade por causa do peso das minhas pálpebras, me vejo deitado em uma cama com lençóis cor de caramelo e travesseiros cappuccino.

Estou em um quarto com baixa luminosidade e que tem um forte odor de perfume amadeirado que conheço muito bem.

Imagino que seja o quarto de Blake Harper. Apesar do cômodo ser vazio e muito peculiar, posso me arriscar dizer somente pela fragrância no ar que estou nos aposentos dele.

Bom, isso é ao menos o que eu acho, mas talvez eu esteja errado porque já que ele não está parado ao meu lado me vigiando feito um falcão, talvez eu deva estar no quarto de Seamus, ou realmente apenas ainda apagado pela queda e adormecido em um sonho.

A cama é confortável. Faz todo o meu corpo relaxar como se estivesse flutuando em uma piscina de água quente depois de um dia exaustante de compras fúteis ou um dia inteiro no Club de Campo jogando golf e comendo salmão defumado com torradas de pão italiano.

No entanto, é estranho que eu não consiga mover sequer um único dedo dos meus pés ou mãos estando ali deitado, mas tento não me desesperar com isso, e respirando fundo, apenas fico deitado de barriga para o alto olhando o teto cor de capim seco que parece alto como o infinito céu acima de nós.

Alguns momentos se passam, meia hora talvez, e nem ao menos ouço um único som familiar ou consigo me mexer.

E com isso, aproveito da brecha para dormir um pouco mais já que meu corpo ainda dói em cada milímetro como se ao invés de ter rolado uma pequena colina abaixo, eu tivesse sido espancado por uma torra de madeira de carvalho até que todos os meus ossos estivessem quebrados.

Ignorando o fato de o quarto estar submerso em um profundo e assustador silêncio cortando que parece me sufocar lentamente. Fechos meus olhos calmamente, e apenas deixo que o sono me atinja e que meu corpo possa descansar e se recuperar.

Já faz algum que não me deito em um colchão tão macio quanto aquele. E sei que se ficar ali, poderei me sentir cem por cento revigorado após a decaída que tive com o fora que levei de Blake Harper.

Isso realmente me destruiu internamente, e ainda mais depois que ele tentou usar seu irmão para que pudesse se reaproximar de mim.

Minha mente começa a trabalhar em se aprofundar outra vez naquela comiseração que me consumia até o último segundo em que me lembro de estar cem por cento acordado.

Me esforço para não permitir que toda aquela dor volte a dominar meu peito, mas em questão de segundos, lágrimas quentes começam a descer pelo meu rosto e pingar nos travesseiros os quais minha cabeça está encostada.

Mordo os lábios e seguro o fôlego, lutando contra o choro que começa a se instalar em minha garganta, e é nesse momento que tenho a garantia concreta de que estou preso em um sonho... - ou na verdade um pesadelo -, e que ainda estou inconsciente no mundo real.

— Ah... enfim você acordou, Cherry. — Ouço a voz dele dizer e seus passos se aproximam de mim, mas não consigo vê-lo em lugar algum.

Uma energia negativa muito assustadora se instala no quarto, me fazendo sentir todos os pelinhos do meu corpo ficarem em pé.

APPLE HARVESTOnde histórias criam vida. Descubra agora