43 . CONTRATEMPO ( RETA FINAL )

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O sol entra pelo tecido fino da barraca me fazendo despertar logo no meio da manhã. Blake ainda tem seus braços em tono de mim como se eu fosse um ursinho de pelúcia. Pequenas gotas de suor se formam em minha testa causados pelos raios solares que aquecem a barraca, pelos nossos dois cobertores e um lençol de seda e pela troca de calor corporal que estamos trocando há mais de seis horas.

Tento me mover para ir ao lado de fora fazer xixi, mas Blake ainda ronca suavemente apagado em um sono profundo, eu não quero que ele acorde, a noite foi difícil para ele depois de tudo o que me contou, então acho que posso segurar minha bexiga por mais algumas horas até que ele acorde.

Eu ainda me sinto em transe depois de tudo o que Blake me contou. Não difícil de acreditar que ele realmente viveu tudo isso já que não é a primeira vez que ouço tal história. Já ouvi diversas que seguiam uma ocasião similar, mas nunca de alguém tão próximo a mim e principalmente de alguém que eu amo.

Meu coração doía todas as vezes que eu pensava no inferno que meu Blakey Cakey viveu e vive com aquele monstro filho de uma puta chamado David. É realmente bom que eu não o conheça, ou caso contrário, eu não sabia o que eu seria capaz de fazer se colocasse meus olhos neste homem miserável depois de saber das inúmeras vezes que ele espancou Blake, Seamus e inclusive a Sra. Harper.

Juro pela minha própria vida que se eu ainda tivesse o dinheiro que costumava ter, eu ajudaria essa família e os levaria para longe dali, minha alma clamava para que eu os ajudasse, mas não havia nada o que eu pudesse fazer por enquanto senão apenas esperar junto de Blake.

Eu estava ciente de que assim que possível, Blake e eu iriamos fugir juntos para Sydney e nisto poderíamos levar Amelia conosco até que ela se estabilizasse. Longe de tudo e todos, David não iria encontrar Amelia e nem Blake, e por mais que ele o fizesse, Sydney era uma cidade grande... muito grande, e com isto, eu poderia incentivá-los a correr atrás da justiça perante a lei para que David passasse o resto de sua vida de merda atrás das grades.

Me esforcei ao máximo que pude quando fomos dormir para não pensar no sofrimento de Blake, mas foi quase impossível, e quando adormeci naquela noite, tive pesadelos onde éramos perseguidos pelo seu padrasto.

Acordei algumas vezes na madrugada para me certificar de que Blake estava bem, e ele parecia sempre estar dormindo feito um bebê. Seus braços me envolvendo naquele casulo me transmitia segurança, demorei algum tempinho até que eu pudesse me acalmar dos sonhos ruins que tive naquela noite e dormir sossegado sabendo que Blake estava ali comigo e eu ali com ele, e que nada poderia nos atingir.

Como Blake parecia que ainda iria demorar a acordar, eu decidi que minha bexiga poderia esperar um pouco mais, e com isso, fechei meus olhos e quando menos percebi, eu havia adormecido mais uma vez nos braços dele.

Me vi em meu sonho em minha antiga casa em Los Angeles. A mansão de vidro estava exatamente como eu lembrava, sempre perfeita e brilhante. Tudo estava em seu devido lugar e me senti contente por estar ali mais uma vez apesar de saber que ali não era o meu lugar.

Caminhei pelos corredor que davam para o jardim completamente de orquídeas que ficava próximo a piscina. O sol entrava normalmente por todos os lados já que as paredes eram de vidro, então pude ver que ao lado de fora, o dia estava lindo.

Cheguei até o pequeno bar que ficava antes da porta de saída para piscina de águas estonteantes azuis e puras, e ali eu parei sem ir para o lado de fora já que alguém estava sentado em um dos bancos de veludo azul do balcão do antigo bar da minha casa.

Não reconheci a princípio de quem se tratava, o que foi uma verdadeira tolice a minha por não ter reconhecido aqueles cabelos ruivos escuros brilhosos e macios que uma vez amei acariciar até que ele estivesse adormecido em meu colo.

APPLE HARVESTWhere stories live. Discover now