7 . CEREJAS SILVESTRES

87 17 306
                                    


A viagem de carro até a Fazenda Daramour não foi especificamente o que eu chamaria de longa, no entanto, foi desconfortável o que era bem pior em minha perspectiva.

Por algum tempo, enquanto ainda estávamos nos limites de Melbourne, acreditei que Seamus começaria a tentar se socializar comigo, todavia, ele não o fez. 

Talvez ele pudesse estar se sentindo  cansado após ter carregado cinco malas médias que eu trouxera, ou estivesse envergonhado em começar a falar comigo. 

Ele apenas deixou o rádio ligado em uma estação de música country dos anos setenta, e dirigiu calmamente sem tirar os olhos da estrada. 

Blake ficou em silêncio também, mas não deixou de segurar minha mão enquanto ainda estávamos na estrada. 
A mão dele era pesada, bem diferente das mãos de Charlie que sempre foram leves como um tecido de seda. 

As mãos de Blake também não eram macias, e sim um tanto ásperas pelo trabalho provavelmente árduo que ele exercia na fazenda. Eu considerava desconfortável sentir o toque dele, já que eu estava acostumado com o toque sedoso de Charlie. Entretanto, por alguma razão, não fiz objeção contra o afeto dele.

Contudo, um ponto positivo do toque de Blake Harper, era que sua mão era quente como uma brasa de uma lareira. Consideravelmente chegava a arder, mas de uma maneira satisfatória que chegava a ser impossível de descrever. 

Em certos momentos, Blake olhava de canto de olho para mim, e esboçava um sorriso malicioso no canto dos lábios, causando-me uma estrondosa chama ardente na barriga. 

Porém, na maior parte do tempo, ele somente tinha seu olhar frio com aqueles profundos olhos azuis para a paisagem verde que começou a nos cercar após quarenta minutos de viagem. 

Um silêncio congelante se instalou sob nós três presentes na picape, e durante todo o trajeto que durou cerca de uma hora e meia, ninguém sequer disse uma única palavra. 

Foi um tanto frustrante, eu precisava admitir isto. Mas tendo em mente que eu havia acabado de chegar em um país do outro lado do mundo, após trinta e duas horas de viagem, possivelmente eu sequer conseguiria me manter concentrado em conversas aleatórias com os garotos. 

Eu me sentia absolutamente exausto, e tudo o que eu precisava além de doze horas de sono, era um bom banho morno com espuma e uma taça de champanhe ou algumas doses de vodka ou quem sabe talvez, uma boa transa. 

Entretanto, eu acreditava que a única coisa que estaria ao meu alcance em meu novo lar, seria um banho de espuma, porque Naomi nunca teve o costume de ingerir bebidas alcoólicas, e o meu Charlie se encontrava em outro continente para que pudéssemos transar. 

Eu precisaria me adaptar ao meu novo estilo de vida, já que agora, eu não era mais um garoto californiano com uma grande mansão em Bel Air, e sim, um Cody Daramour que vive em uma fazenda de maçãs na Austrália. 

Não cheguei a perceber, porque acreditei que permaneci de olhos abertos por toda a estrada até a Fazenda Daramour, mas quando percebi, fui despertado por uma voz suave e um tanto rouca que chamava pelo meu nome. 

Era impossível não reconhecer, visto que ele fora o último com quem falei ainda no aeroporto.

- Cody... acorde garoto americano! - Ele toca meu ombro me fazendo despertar de uma soneca. 

Abri meus olhos com relutância, o sol ali aparentava ser ainda mais reluzente do que na cidade. O clima no lugar não era nem quente e nem frio, e sim fresco. O perfume de maçãs e das flores das macieiras dominavam toda a área, chegando a fazer inclusive o meu nariz coçar.

APPLE HARVESTOnde histórias criam vida. Descubra agora