Capítulo 12 - Branca como a Neve

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Uma coisa curiosa, é que nesse tempo todo eu sentia como se eu não existisse. Quando eu não estava com a Camila, eu não estava em lugar nenhum. Era como se tudo estivesse no branco. Mas pensar nisso, fazia a minha mente parar na visão de um céu estrelado. Apenas...

O pequeno convívio que passamos a ter, comecei a criar novas lembranças. Essas eu não quero esquecer nunca. Mesmo que nosso convívio tenha sido difícil no começo, até porque para mim foi um incômodo encontrar uma estranha em minha casa. Mas relevei isso, né? Eu estava gostando de participar dessa corrida para descobrir quem eu era.

E agora, correndo perdida por diversos corredores de paredes brancas deste hospital, e fugindo da verdade, eu sentia uma espécie de força sobrenatural me puxando. Era como se fosse algo magnético. Algo me atraía e eu não sabia explicar o que. E minhas memórias iam voltando cada vez mais, ainda de forma retalhada e aos poucos conforme eu corria naquele desespero.

Tum tum...

Certa vez um paciente me contou sobre projeção astral. É um estado de consciência, uma experiência extracorpórea em que o corpo astral — o perispírito — sai do campo físico — o corpo — e viaja pelo plano astral — um plano espiritual de realidade extra-física onde os espíritos se encontram.

As pessoas costumam passar por essa experiência quando estão doentes ou em situações de proximidade com a morte, mas também é possível fazê-la por vontade própria e de forma consciente, durante o sono. A alma está ligada ao corpo por uma força invisível, chamada "cordão de prata". Essa força sempre nos guiará na direção do corpo e jamais pode ser quebrada. Talvez esse magnetismo que eu estou sentindo no momento, seja isso. A ligação do meu corpo com o meu perispírito se atraindo para que eu volte. Talvez ainda haja uma esperança...


POV Camila Cabello

— E-ela está morta? — repeti a pergunta com a voz trêmula.

Senti os braços de Dinah me apertarem mais. Ally se levantou da cadeira e veio em minha direção me envolvendo em um abraço. As outras meninas, que antes só observavam com olhares melancólicos, vieram também na minha direção. Ficamos em um abraço em grupo enquanto Mani e Vero choravam vendo a minha reação... Elas também passaram por este acidente, afinal. Deve ser doloroso lembrar de uma coisa tão horrível. Então minha pergunta só foi respondida depois de minutos.

— Ela está viva — respondeu fungando —, mas está em coma desde o acidente. Vem aqui... — falou a Morena com uma voz mais mansa.

Ela está viva! Ela está viva!!!

Saímos da sala de Terapia Holística e seguimos o longo corredor, virando a direita onde tinha mais um corredor, mas este repleto de portas. Eram os quartos particulares de pacientes em situação de coma, e enquanto caminhávamos, tive a sensação de enxergar tudo em câmera lenta. Veronica abriu a porta lentamente. De um lado eu tinha Dinah com o braço entrelaçado ao meu, do outro eu tinha Normani, que mal me conhecia, mas me dava certo apoio.

Passamos pela porta e meus olhos percorreram todo o ambiente, parando somente sobre o leito, onde havia uma linda mulher dormindo serena, ligada a alguns aparelhos. A pele era branca como a neve, o cabelo escuro se destacava em meio aquele tom. Olhei de relance e a Lauren em espírito já estava lá, olhando a si mesma sobre o leito. Seu olhar estava vago. Aproximei-me a passos lentos de seu corpo sobre a cama, com os olhos lacrimejados. Eu não sabia se eu estava assim por finalmente encontrá-la e sentir alívio por ela estar viva, ou por encontrá-la nesta situação. É quase como estar na estaca zero, mas pelo menos a encontramos.

— Se não fosse a Vero, acho que nem eu estaria aqui. Tive um pneumotórax e perdi muito sangue, e a Lauren bateu com a cabeça em uma árvore... — Mani proferiu com a voz baixa.

Assunto Inacabado (Camren)Where stories live. Discover now