XXXIX - Perdoe-me, Pois Estou Falhando Como Pai...

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Em um ponto mais adentro da floresta, um jovem acabava de se sentar à sombra de um imenso pinheiro, com um pacote em suas mãos. Esse jovem, um alfa, tinha sua pele quente e face corada devido ao esforço do trabalho que teve ao buscar lenha para estocar em sua cabana que não ficava muito longe dali, visto que faltava pouco tempo para o inverno chegar e aquela floresta ter seus tons de verde e marrom serem substituídos pelo tom branco e cristalino da neve.

Abrindo o pacote que trazia consigo, que era seu almoço, um simples sanduiche que ele preparara ao sair de casa, ele dava uma última olhada em seu carrinho de mão, agora cheio de pequenas toras de madeira, que iriam alimentar o fogo da lareira de sua casa. A cada mordida, ele ia divagando sobre sua vida, sobre como ele fora parar ali.

Até há algum tempo atrás, ele morava em Lawrence junto com sua mãe e seu pai. A cabana que ficava na floresta, era usada pela família em ocasiões especiais, como o aniversário de um deles, quando seu pai o levava para caçar e pescar no rio próximo quando era criança, entre outras lembranças.

Porém a vida é uma caixinha de surpresas e de uma vez, ela tirou os dois dele de uma vez, em um acidente de trem, que havia descarrilhado e caindo da ponte que levava direto para o fundo do abismo nas montanhas de Lawrence, onde não houve sequer um sobrevivente.

Ao saber que seus pais estavam entre os que jamais voltariam para suas famílias, seu mundo desabou e ele não entende até hoje de onde ele havia tirado forças para fazer todos os procedimentos necessários para que os restos mortais das pessoas que ele mais amava tivessem seu descanso final, no jazigo da família no Lawrence Memorial Cemetery.

Porém quando todos os procedimentos envolvendo o funeral de seus pais havia acabado, aí sim ele se permitiu ficar de luto e extravasar toda aquela tristeza que havia se acumulado em seu coração, chorando tudo o que tinha direito por vários dias. O que de certo modo funcionou, pois com o coração mais leve e a imensa dor da perda reduzida a apenas saudades de seus pais, ele tomou a decisão de que morar na casa da família na cidade, onde o cheiro dos pais estava mais do que impregnado no local o faria sofrer de saudades, ele vende a casa onde passou grande parte da vida, vindo morar de vez na velha porém aconchegante cabana da família, onde ficava a maior parte dos dias sozinho, deixando sua solidão crescer cada vez mais, achando que nunca mais ia ser feliz novamente por causa do destino que havia levado sua família, sua principal razão de ser feliz.

Ele sabia que se isolar naquele local era um eterno sofrimento, pois as memórias contidas naquele local, sempre voltariam a sua mente, machucando-o cada vez mais e mais. Porém ele não tinha coragem de se desfazer daquele local tão especial para si, tampouco ir morar em outro lugar e deixar aquele local abandonado.

Como fazia de tempos em tempos, ele sempre ia para o interior da floresta para abastecer o estoque de lenha para a lareira, levando consigo seu machado e o carrinho de madeira que ajudara seu pai a fazer quando era criança, o que sempre lhe dava um aperto no coração de saudade quando o tocava.

Naquele dia, vendo que o tempo estava agradável, ele decide colocar uma calça jeans surrada e uma camisa de flanela xadrez em azul e branco, um dos últimos presentes de sua mãe, antes de falecer. Ignorando novamente aquela pontada de saudade, ele pega uma pequena bolsa, onde já tinha deixado seu almoço previamente preparado e tranca a porta da cabana, indo logo em seguida para a floresta.

Já havia se passado algumas horas após o horário de almoço quando ele por fim termina o trabalho de cortar a lenha, tendo o seu carrinho de mão cheio. O jovem alfa então senta-se à sombra de um imenso carvalho, pegando a pequena bolsa que continha o lanche que lhe serviria de almoço. Distraído, ele começa a mastigar o alimento, deixando sua mente vagar livremente. Porém, uma brisa o faz voltar à realidade bruscamente. Todavia não era a brisa em si que havia mexido com ele, e sim o que ela trazia junto consigo: um cheiro.

Encontro de Almas GêmeasWhere stories live. Discover now