Permissão

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Acordei já no fim da tarde. Em meio a nossas conversas sem sentido, ele ofereceu uma camiseta e um short caso eu quisesse tomar um banho. Aceitei. Apesar de ser um estranho, estar ali era exatamente o que eu precisava.

Certa hora, enquanto se jogava no sofá-cama comigo, ele deu uma alfinetada:

— Já que você não vai transar comigo, podemos assistir alguma coisa na TV.

Sorri e dei espaço para ele se acomodar ao meu lado. Entre um seriado e outro, ele ofereceu:

— Quer uma cerveja?

— Quero.

Então se levantou e nos trouxe duas garrafas pequenas de cerveja. Eu estava adorando aquele momento à vontade.

— Agora só preciso de um saco de salgadinhos e terei oficialmente desistido da vida — falei.

Ele riu.

— Devo ter algum, se você... — sugeriu.

— Não... por favor, deixe-me ficar com o que resta da minha dignidade.

Aproveitando a onda de ficar à vontade, extravasei:

— Ei — chamei, fazendo-o olhar para mim. Então eu o beijei e ele retribuiu daquela maneira fantástica que só ele consegue fazer. — Mas isso não significa que vamos...

— Ah, sim, eu entendi — ele disse, continuando a me beijar.

Eu não sei explicar o porquê. Suas mãos não passaram por lugares que não deviam, ele não fez nenhum movimento impróprio, mas era como se seu mero beijo me excitasse. No começo, me segurei e tentei apenas aproveitar aquele beijo maravilhoso ao máximo, mas logo era eu quem estava em agonia. Quando cheguei perto demais, ele parou.

— Não — ele disse. — Ou não consigo manter isso por muito mais tempo.

— Eu... — Eu ia falar algo, mas ele me interrompeu:

— Eu te vejo... e vejo a energia que está em você — ele falava entre beijos. — Não sei exatamente o que você é, mas sinto que preciso pedir permissão.

— Permissão? — perguntei, já ofegante.

Ele respondeu:

— Sinto que... eu... sou um reles mortal... e você é...

O que ele falou me chamou a atenção. Sem saber, lembrou-me de quem sou e demonstrou reverência.

Reverência.

Algo muito diferente do que eu estava recebendo em casa.

Ao me lembrar de quem sou, aquilo de certa forma me encheu de coragem e confiança. Sem saber, ele me deu a solução para todos os meus problemas.

Eu sou a mãe. Cesar é meu guardião e teria que me respeitar como tal.

Eu mal conseguia me conter em mim mesma após ter vislumbrado essa saída.

Antes de ir embora, senti que precisava tocar em um assunto.

— Então... Espero que não me entenda mal, mas... eu gostaria de te perguntar uma coisa, mas é só pela natureza da sua profissão.

Ele parou o que estava fazendo e me deu um olhar calejado, como se já tivesse ouvido mil vezes o que eu estava prestes a dizer.

— Manda.

— Quanto eu te devo?

— Não se preocupe com isso.

— Quero saber.

— É por conta da casa.

— Sério, vai. Você me deu abrigo...

— Na escada.

— E muito mais do que isso no fim de semana. Eu preciso te pagar.

— Se você insiste, pode me pagar depois. Qualquer coisa registrada agora definitivamente prejudicaria seu processo de divórcio.

— Você aceita dinheiro? — respondi, sorrindo.

Real.Doc - Parte 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora