Miguel

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À noite, fui até a casa dos vampiros.

— Por onde andou?! Você faz ideia de que o seu sumiço comprometeu todo o nosso trabalho? — Velma gritou.

— Me desculpe, tive um compromisso.

— E agora? Não temos ninguém preparado para entrar com você! Achamos que não viria hoje também e...

— Por que você não entra comigo? — perguntei, chamando sua atenção.

— Eu? — ela disse com um pouco de receio.

— Sim, você. Por que não?

— Bem... suponho que não teria problema...

— Então venha. Vamos ver o Guilherme — falei, já a puxando pelo braço até a porta. Antes de entrar, como vi que ela estava um pouco nervosa, tentei acalmá-la. — Não se preocupe. Basta seguir os passos conforme combinado e tudo sairá bem.

Outra menina veio nos trazer a cabra. Velma estava tão nervosa que eu me ofereci.

— Quer que eu leve a oferenda?

Para alguém que conhecia tanto sobre aquele estudo, ela estava surpreendentemente nervosa. Balançou a cabeça como uma menina e me passou a cabra. Entramos na casa e subimos a escada. Ela foi para o quarto com a luz acesa, enquanto eu fui para o outro lado.

Acreditei ter encontrado o quarto quando entrei em um recinto fedorento, com restos de animais. Fiquei enojada e senti pena da cabra. Quando me virei para sair do quarto, percebi que alguém já estava se aproximando da porta. Era Guilherme, e ele trazia um ser horrível pendurado em seu ombro. Esse ser gemia, seu rosto estava desfigurado... estava muito magro para um ser humano... Levei um susto tão grande com aquele ser que acabei derrubando a cabra, que saiu correndo.

— Olá, Sarah — disse Guilherme, com a cara de um assassino. — Este é o meu irmão, Miguel. — Então o ser em seu ombro gemeu mais uma vez. — Como vê, ele está fraco demais para saudá-la devidamente. — Ao dizer isso, Guilherme esboçou um leve sorriso.

A criatura olhou para mim, e aquele ser era mais horrível do que eu pensava. Eu estava tremendo de medo. Então, a mão do tal Miguel se estendeu, tentando tocar o meu pescoço. Ele era tão magro que chegava a ser esquelético. Não parecia real. Foi uma surpresa ver que se movimentava.

— Sim, irmão. A nossa mãe é de sangue infinito. —  Então ele olhou para mim. — Com a sua permissão, ele provará o seu sangue agora.

Enquanto permaneci imóvel, ele foi aproximando aquela criatura de mim. Eu olhava apavorada para o Guilherme, sem ter coragem sequer de olhar para aquele ser que trazia consigo. Para me manter calma, eu imaginava que o beijo da morte daquela criatura seria indolor, apesar de sua horrenda aparência. Para não entrar em pânico, fechei os olhos e respirei fundo pela boca enquanto Guilherme calmamente aproximava Miguel de mim. Quando os seus dentes tocaram o meu pescoço, senti dor. Soltei um pequeno gemido e Guilherme disse:

— De forma gentil, irmão. A nossa rainha é demasiado preciosa e precisas de ser gentil com ela.

Então, a dor parou e a criatura bebeu do meu sangue com mais calma. Guilherme envolveu os braços finos daquele ser ao meu redor. Ouvimos Velma me chamar, assustada. Abri os olhos e encarei Guilherme que, ainda nos observando, dava passos para trás em direção à porta para ir acalmar Velma. Logo que ele saiu de lá, eu me apavorei. Não sabia o quanto aquela criatura já havia recuperado a sanidade! Ele poderia me matar bem ali, e Guilherme somente ficaria sabendo depois. De qualquer forma, a criatura não parava de sugar o meu sangue. Quando comecei a me sentir fraca, me abaixei para não cair e acabei me sentando no chão. O ser continuou colado no meu pescoço. Fui ficando mais cansada, até que me deitei.

Algum tempo se passou, e quando achei que a criatura fosse sugar de mim até a última gota, ele parou, levantando a cabeça, aliviado. Um pouco tonta e com a vista confusa, vi que o que era antes uma criatura horrenda se transformou agora em um homem, lindo e forte, cabelos longos e negros assim como os seus olhos. Sua pele era clara, fosca e bem lisa. Como era belo!

— Ah, minha mãe... — ele disse, me beijando a testa e segurando o meu rosto com as suas duas mãos. — Como lhe sou grato!

Assim, ele me pegou no colo e me levou até o quarto das visitas, onde estavam Guilherme e Velma.

— Miguel!!! — gritou Guilherme, contente. Miguel me deitou na cama e correu para abraçar Guilherme, enquanto Velma veio correndo ao meu socorro.

— O que eles fizeram com você? — Então ela virou a minha cabeça e assustada, disse: — Eles te morderam! — Antes que ela se apavorasse ainda mais, tentei tranquilizá-la:

— Estou bem.

— Velma... — disse Guilherme, tocando seu ombro. — Deixe-a. Ela precisa descansar agora. Permita-me apresentá-la ao meu irmão.

Com isso, apaguei.

Acordei com o dia já claro. Velma estava sentada na cama ao meu lado. Parecia estar chorando.

— O que aconteceu? Onde eles estão?

— Foram dormir.

— Por que você está chorando?

Ela segurou o choro e me estendeu suas mãos, mostrando-me seus pulsos. 

Real.Doc - Parte 1Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt