Espalhados como os raios de sol

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Então continuamos nossa pequena família. Cesar ainda falava muito pouco, mas não sumia. Quando queria ir mais longe, sempre me dizia. Isso me acalmava.

Eu percebia que ele e o Rony estavam tentando em conjunto. Ele se demorava cada dia mais quando saía, mas o Rony sempre estava lá para me acalmar e dizer que logo ele voltaria. Era como se estivessem me preparando para a sua partida.

Um dia, inesperadamente, me transformei naquele monstro de novo.

Percebia ser invadida por um sentimento bem peculiar. Um desespero enorme em contraste com uma determinação feroz. Ambos eram tão fortes que me mantinham aparentemente calma. Como uma vibração que, por vibrar tão forte, passava a impressão de estar parada. Eu me sentia diferente e fazia o que sentia de fazer.

Rony estava na cozinha e me acompanhou em silêncio ao me ver sair de casa. Ele passou a me seguir de certa distância e tentava conversar.

— Lute, Li. — Então ele tomou uma distância ainda maior, mas eu ainda conseguia ouvi-lo com perfeição. — Ela está indo. Bem, não ela mesma realmente.

Senti repentinamente uma raiva muito grande de Rony. Eu parei e me virei para ele e, com uma raiva que não condizia com minha pessoa, passei a persegui-lo. Ele nada dizia, apenas fugia. Ao chegar a uma distância razoável, eu parei. Não era até ele que eu queria chegar. Meu destino estava do outro lado. Então parei, me virei e voltei a caminhar.

Eu dava passos longos e decididos. Meu corpo estava todo tenso.

Logo eu vi o Cesar dentro de uma jaula no meio de um acampamento abandonado. Ele estava muito machucado, parecia ter levado uma surra. Aquilo me enfureceu.

Não sabia explicar como, mas cheguei até ele e destruí a jaula com as próprias mãos. Parecia-me tão fácil fazê-lo. Uma vez que estava deitado no chão, segurei em seus ombros com raiva, constatando o que haviam feito com ele. Estava enfurecida.

Em meus pensamentos, vi quem havia feito aquilo com ele. Eu sabia a direção na qual cada um estava. Eu disse algo inteligível, mas o que eu queria dizer era:

— Espalhados como os raios de sol.

Eu perseguiria um a um e os destruiria. Mas antes de me levantar, eu o ouvi dizer:

— Não. — A voz dele me causava um grande impacto. Imobilizava-me. — Fique aqui.

Eu não conseguia falar. Era como se não soubesse. Era como se eu morresse de amor meramente ao ouvir o som da sua voz.

Então eu disse outra coisa que não se poderia entender, mas o que eu queria dizer era:

— Não deixarei que fiquem impunes.

— Proteja-me aqui — ele insistiu. Segurou a minha mão e apagou.

Eu me deitei ao seu lado e ali fiquei, protegendo-o, como me havia pedido.

Real.Doc - Parte 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora