Tavius & Klaus

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No dia seguinte, Ian me ligou logo cedo perguntando se eu não queria fazer mais um happy-hour, mas disse-lhe que não poderia. Tinha outros compromissos.

— Vamos lá, Sarah. Tem mesmo que ser assim?

— Não estou tentando brincar com você. Realmente tenho um compromisso esta noite e não posso adiar.

Um pouco contrariado, ele aceitou.

~ ~ ~

Mais tarde, ao me ver colocar roupas comuns para sair, Cesar comentou:

— Apenas tome cuidado com esses vampiros, ok? Lembre do que conversamos.

— Pode deixar. Até! — falei, me despedindo dele com um beijo no rosto.

E realmente, o que o Cesar me falou sobre os vampiros me seduzirem apenas para conseguir o meu sangue ficou na minha cabeça. Iria investigar isso hoje.

~ ~ ~

Não encontrei Velma antes de entrar na casa e os estudantes falaram que, sem ela, não teriam como estudar nada. Disseram que se eu quisesse, poderia entrar na casa por minha conta e risco. Eles iriam esperá-la. Pude sentir que, sem ela, todo o projeto estaria comprometido.

Assim que fechei a porta atrás de mim, ouvi a voz de Miguel vindo do outro extremo da casa.

— Ah, mãe! Deixe a oferenda aí mesmo e venha até a biblioteca. Estamos aqui.

Caminhando lentamente até a tal da biblioteca (que ficava ao fim de um escuro corredor), me lembrei de como o Les conseguia enxergar tudo no escuro. Questionei-me se algum dia seria capaz de fazer isso.

Enquanto não conseguia, caminhava lentamente tateando tudo em direção a uma sala escura. Havia um abajur com uma luz fraca em um canto, causando mais sombras do que luz. Assim que entrei, enquanto ainda tentava me situar, fui atacada por quatro vampiros. Dois, no pescoço... Um no pulso e outro na perna. Eu sentia dor no lado esquerdo do meu pescoço e na perna... Os outros dois deveriam ser Guilherme e Miguel. Eu estava apavorada. Tentei falar, mas não consegui. Estava em choque. Não demorou muito até eles sugarem todo o meu sangue e eu desmaiar.

Acordei no quarto das visitas, onde normalmente Guilherme se reunia com os estudantes. Não havia ninguém lá. Levantei-me e vi que havia um rasgo na minha calça logo acima do joelho e muito sangue. Fiquei irritada com a emboscada que eles fizeram e quis ir embora imediatamente. Eles tiraram os meus sapatos, então me sentei para calçá-los.

— Estás desperta, mãe! — falou Miguel, animado, entrando no quarto. — Não faças movimentos bruscos ou desfalecerás novamente.

— Eu sei — respondi, seca. Miguel ignorou a minha rispidez e se aproximou, se abaixando na minha frente.

— Os meus dois irmãos despertaram e já estão completamente restabelecidos. — Já com os sapatos calçados, fiz menção de me levantar. Ele estendeu a mão para me ajudar, mas me apoiei na cama. — Estás chateada, mãe?

Então foi a vez de Guilherme entrar no quarto.

— Mãe! Aqui está o nosso irmão Tavius! Ele está muito ansioso por conhecê-la.

Então um homem entrou no quarto. Ele era alto e tinha dreads enormes. Seus olhos expressavam nobreza e seu andar era muito charmoso.

— É um prazer conhecê-la, mãe.

— Igualmente — falei, já de pé.

— O nosso irmão Tavius vem da Inglaterra. Gostou dele, minha mãe? Gostou? — perguntou Miguel, como uma criança, ficando em pé ao lado do irmão.

— Sim. Parece ser um cavalheiro.

Então ouvimos passos no corredor. Passos lentos, porém firmes.

— E aqui vem o nosso outro irmão, Klaus! — anunciou Guilherme.

Um homem tão alto quanto Tavius, porém muito forte (gordo) e com a aparência séria. Parecia ser o mais forte de todos. Tinha uma barba espessa e cabelos longos e crespos. Seu olhar demonstrava força.

— Mãe — ele disse, acenando com a cabeça. Acenei de volta.

— Não lhe preste atenção, mãe. Ele é mesmo assim, mal educado. — brincou Guilherme.

— Posso ler mentes, é só — ele disse. Sabia que eu não tinha gostado do que fizeram comigo.

— Não sejas rabugento, meu irmão. Aqui está a nossa mãe! Devemos tratá-la bem — repreendeu Miguel.

— Nos perdoe, mãe — Klaus falou, baixou o seu olhar e saiu. Ele conquistou o meu respeito ali.

— Não dê atenção, mãe. Klaus, às vezes, pode ser bastante sentimental — explicou Tavius.

— Venha, mãe, quero mostrar-lhe algo — disse Miguel, me segurando pela mão e me tirando do quarto. Guilherme veio logo atrás.

Eles me levaram até um quarto da casa. Estava todo enfeitado para uma menina. Estava lindo.

— O que acha, mãe? — perguntou Miguel, sorrindo.

— É para a pequenina — explicou Guilherme.

— É lindo... sem dúvida, mas não tenho certeza de que ela ficará bem. Naquele dia ela me pareceu atormentada.

— Mas agora, com o nosso irmão Klaus aqui, ela ficará bem. Ele consegue acalmar até as criaturas mais selvagens — falou Guilherme.

— Hum... bom — falei, sem muito entusiasmo. Ainda estava ressentida com a emboscada. — Agora devo ir. Já fiquei tempo demais por hoje.

— Tem mesmo de ir? — perguntou Miguel, com a inocência de uma criança.

— Sim. Devo ter dormido tempo demais.

— E quando retornará, mãe?

A inocência de Miguel chegava a ser impressionante. Não tinha como continuar brava com ele.

— Não sei ao certo, acho que levarei alguns dias.

— Precisávamos do seu sangue, mãe, não tem ideia do quanto precisávamos! É demasiado precioso e o nossos irmãos não... — Miguel tentava explicar, aflito.

— E eu teria permitido, se me fosse perguntado — respondi. 

Real.Doc - Parte 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora