Não se preocupe, Sarah, serei o melhor namorado que você já teve

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Fiquei isolada depois destes últimos acontecimentos.

Eu não tinha mais os vampiros, não sabia onde o Cesar estava e, sinceramente, estava sem paciência com o Ian. Acabei ficando em casa durante o final de semana inteiro, realizando pequenas tarefas domésticas.

Ficar naquela casa enorme no meio do deserto era sufocante, isolado e assustador. Além disso, parecia que os funcionários da casa brincavam de esconde-esconde comigo. Eu nunca os via, mas eles sempre davam um jeito de fazer tudo. Eu saía para trabalhar e quando voltava, a despensa estava abastecida e o jantar, feito.

Eu estava extremamente solitária naquela casa.

Uma noite dormi na cama do Cesar. De alguma forma, dormir ali me ajudou a não sentir-me mais tão sozinha. Com o passar dos dias, dormir ali foi ficando cada vez mais normal e a solidão foi voltando.

Por mais rabugento que Cesar fosse, eu sentia falta da sua companhia. Era gostoso estar com alguém por perto, nem que fosse apenas para assistir televisão junto. Lembrar do Cesar largado no sofá me deu mais uma ideia. Vesti uma das camisetas que ele usava como pijama e me deitei na sala, como ele fazia. Ali a tristeza me pegou um pouquinho. Senti saudade dele, queria que estivesse ali, comigo. Acabei derramando uma ou outra lágrima, mas tratei de secá-las logo. Se ele foi embora, eu precisava aceitar. Continuei ali até adormecer.

Um dia bateu o desespero, uma agonia de ficar sozinha. Não ter ninguém para conversar estava me deixando louca.

Foi num ato de insanidade que tomei a minha decisão: procurar Ian.

Ao bater na porta do seu apartamento, eu ainda me via insegura quanto ao que estava fazendo. Foi o que o desespero me levou a fazer. Quando Ian atendeu a porta, disse:

— Sarah? — A minha agonia aumentou um pouco mais, pois este homem, a quem recorria por socorro, não sabia nem o meu nome.

— Posso ficar um pouquinho aqui com você? — perguntei sem jeito, sem saber o que realmente queria.

— Claro, entre. — Enquanto eu entrava, ele perguntou: — Você parece chateada. Aconteceu algo?

— Nada. Só não queria ficar sozinha esta noite.

— Claro, sente-se. Só estou terminando um relatório e...

— Sem pressa. Não se preocupe comigo.

— Bem, então... eu só vou terminar isso... Não deve demorar muito, mas vá em frente. Ligue a televisão. Fique à vontade.

— Eu não vou te incomodar?

— Não, de modo algum. Às vezes deixo ligada apenas pelo barulho.

Então eu me sentei no sofá e liguei a TV. Só de estar ali já me sentia melhor, mas também sem jeito. Acho que o Ian estava tão sem jeito quanto eu, mas tentava disfarçar.

Aos poucos, o clima tenso foi saindo pela janela e eu fui me sentindo mais à vontade.

— Adoro essa série — ele comentou, ouvindo o que eu estava assistindo.

Pouco tempo depois, ele terminou o que estava fazendo e perguntou se eu aceitava dividir um vinho. A partir daí, inevitavelmente, uma coisa foi levando à outra. Beijos, apertos... e então ouvi a voz do Cesar falando na minha cabeça: "Pelo menos ele está pagando pelos seus serviços".

Não deixei mais o Ian continuar.

— Espera — pedi, gentilmente afastando-o de mim.

— O que foi? — ele perguntou, mas eu não quis responder. Para falar a verdade, eu não saberia nem como responder. Apenas me afastei dele e me sentei (direito) silenciosamente no sofá. — Me diga, o que há de errado? — Ian insistiu.

— Eu não quero que isso seja apenas sobre... sexo — respondi, quase sem coragem. Tentei encontrar uma forma elegante de dizer, mas não consegui. Foi a única justificativa que eu consegui pensar na hora. Logo percebi que tinha sido mal formulada. O Ian primeiro fez uma cara de interrogação e depois, de ansiedade.

— Você quer um relacionamento?

— Eu só não quero que seja algo apenas... físico.

— Você quer mais — ele falou, como se já estivesse formulando suas próprias conclusões. As quais eu logo vi serem erradas.

— Ou apenas algo diferente de... — Eu estava tentando me corrigir e passar a mensagem correta para ele, mas fui interrompida.

— Não se preocupe, Sarah, serei o melhor namorado que você já teve. — Quando ele disse isso, o meu coração quase parou. — E eu darei a você tudo o que deseja... — A este ponto eu estava prestes a interrompê-lo e corrigir o que fiz, então ele me beijou repetidas vezes, até que uma coisa levou à outra e acabamos na cama.

Na manhã seguinte, ele insistiu para me levar até em casa. Recusei, mas enquanto saía, ele me perguntou:

— Logo isso vai mudar, certo?

Respondi simplesmente:

— Claro.

Covarde. Fui covarde demais.

Então voltei para casa. Assim que cheguei lá, joguei a minha bolsa e me encostei na porta como se tivesse adicionado uma tonelada de peso nas minhas costas. Cobri o meu rosto com as mãos e disse:

— Ah, Cesar... Olha o que você me fez fazer.

Real.Doc - Parte 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora