O novo emprego

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No dia seguinte, logo pela manhã, Vince comentou:

— Há um restaurante não muito longe daqui. Eles estão contratando.

— Sério?

— Sim — Vince me disse, mostrando o anúncio em um jornal local. — Por que você não vai lá dar uma olhada?

— Eu vou! — respondi, animada. — Obrigada.

Tomei meu café da manhã e, em seguida, me arrumei com minha melhor roupa. Vince estava na sala quando passei por lá. Pareceu contente em me ver.

— Boa sorte lá.

— Obrigada. Eu vou precisar! — eu disse e saí.

Realmente, o restaurante ficava perto. Conversei com o gerente de lá e logo ele concordou em me contratar. Eu começaria no dia seguinte.

Voltei animada para casa. Assim que cheguei, Vince estava bebendo com dois amigos na cozinha. Ele parou a conversa e olhou para mim, curioso.

— E aí?

— Eu consegui o emprego! — respondi, eufórica.

— Conseguiu?

— Começo amanhã.

— Uau, isso é... ótimo, Lilly. Estou muito feliz por você.

— Obrigada — disse, eufórica. — Vou deixar vocês com sua conversa agora — falei e subi correndo as escadas. Realmente estava muito animada com a ideia de começar uma nova vida.

No dia seguinte, comecei em meu novo emprego. Era muito trabalho braçal, mas eu não me importava. Voltei para casa com meu uniforme, o que chamou a atenção de todos quando cheguei. Markus e Vince falaram algumas gracinhas sobre o meu uniforme. Eu apenas sorri e subi para o meu quarto.

A semana passou voando... em boa parte porque eu não aguentava ficar acordada por muito tempo depois que chegava do serviço. Certa vez, quase dormi sentada na mesa de jantar, mas Vince me acordou e subi para o meu quarto.

No domingo, tive minha primeira folga. Fiquei o dia inteiro descansando e assistindo televisão. No final da tarde, Vince se juntou a mim.

No começo ele fez algumas perguntas aleatórias sobre o que eu estava assistindo, comentários genéricos. Passei o controle para ele, porém, não quis. Algum tempo depois, falou.

— Sabe... Estou muito impressionado com você e com a maneira como as coisas aconteceram.

— Sério?

— É... Por um segundo, pensei que você estava me enganando e que nunca arranjaria um emprego, mas você conseguiu.

— Sim. Logo conseguirei caminhar com minhas próprias pernas.

— Não tem pressa. Agora que você está trabalhando, sei que é apenas uma questão de tempo até que encontre seu próprio lugar. E eu quero que você encontre um bom lugar, então... pode ir com calma, ok?

— Obrigada.

Então, Vince pegou meus pés e começou a fazer massagem.

— Acho que precisa de uma massagem nos pés, hein? Mulher trabalhadora.

— Isso é bom.

— É verdade. Principalmente agora, que nos conhecemos um pouco melhor.

Ficamos mais um tempinho ali, e então voltei a beijá-lo.

— Eu nunca cheguei a... agradecer por tudo que você está fazendo por mim.

~ ~ ~

No dia seguinte, ele já estava acordado quando desci para trabalhar. Estendeu-me a mão e me puxou para um abraço gostoso. Tinha acabado de fazer a barba e dava para sentir o cheiro do pós-barba. Ele me beijou e disse:

— Tenha um ótimo dia de trabalho.

— Com certeza terei... Especialmente depois deste mimo de bom dia.

Ele sorriu e eu saí.

A semana passou corrida, assim como as próximas. Vince e eu não voltamos a ficar juntos, mas eu percebia seu olhar quando passava.

No dia em que recebi meu primeiro pagamento, voltei eufórica para casa. Estava cheia, como sempre, mas fui direto falar com Vince. Joguei o envelope na mesa, na frente dele.

— O que é isso?

— Esse é meu primeiro pagamento... — Ele ia me dar os parabéns, mas interrompi: — E é todo seu por todo o trabalho que você teve para me trazer até aqui.

As pessoas ao redor vibraram e Vince ficou impressionado.

— Não paga tudo o que você gastou comigo, mas é um começo.

Vince me puxou para si e me deu um abraço.

— Você não me deve nada.

— Mas quero que você fique com ele. Afinal, eu não teria encontrado este emprego se não fosse por você.

Vince me beijou e todos comemoraram. Logo me afastei dele e subi.

Corri para tomar banho e já me ajeitar para dormir, como faço sempre. Acho que já estava dormindo quando ouvi batidas na porta. Era Vince.

— Acordei você?

— Não... Eu só estava... — ele riu — descansando meus olhos.

— Certo... — Ele tirou um sarro e então, entrou no quarto, sentando-se na minha cama. Ele tinha o envelope nas mãos.

— Olha... — ele começou a falar. — Entendo o que você está fazendo e agradeço por isso, mas... por que você não pega essa grana e guarda para o seu aluguel?

Confesso que foi como um soco no estômago.

— Tudo bem.

— Ei... — ele consertou, vendo minha expressão. — Tudo o que quero fazer é ajudá-la a...

— Ir embora. Eu entendi.

— Não, não, não, não... ei... — ele falou, se aproximando. — Ei... — ele insistia, chamando minha atenção. — Eu só quero te ajudar.

— Pelo menos você está me dando um tempo para... — eu disse, mas não consegui terminar minha frase.

— Nããão, não, Lilly! Não é isso... Olha...

— Acho que só estou cansada.

— Você pode me pagar mais tarde. É só que... você precisa desse dinheiro agora, mais do que eu.

— Ok.

— Vou deixar na sua mesa de cabeceira.

— Tudo bem. Boa noite.

Sem graça e, aparentemente com o coração partido, Vince deixou o envelope lá e saiu do quarto.

Real.Doc - Parte 1Where stories live. Discover now