Street Food

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Eu não sabia o que Ian tinha planejado, ou não teria me arrumado toda. Ele me levou a uma feira no centro. Uma praça de alimentação, basicamente. Não que eu não gostasse, mas ele poderia pelo menos ter me avisado. No mínimo, eu não teria usado salto.

Quase não conseguia entender o que ele estava dizendo por causa da multidão ao nosso redor. Fiquei pensando: "Essa foi uma ideia terrível...", então ele voltou minha atenção para uma espécie de comida típica.

— Hum... parece delicioso... — eu disse, sem pensar muito nisso.

— Sim, é a nossa herança da cozinha francesa... Gostaria de experimentar?

— Claro!

— Então espere aqui, vou comprar um para você. — E ele desapareceu no meio de uma multidão em torno de uma tenda. Ótimo! Era tudo o que eu precisava! Ficar sozinha naquele mar de gente.

Ao meu lado, um vendedor de pipoca discutia com uma mulher. Eu até achei engraçado, porque eles pareciam dois velhos rabugentos brigando. Até que uma palavra dita pela mulher chamou minha atenção:

— Vampyrs!

— Vampyrs? — perguntou o homem fazendo pouco caso, e a mulher mais uma vez confirmou. Aproximei-me de entender o que eles estavam dizendo e traduzindo:

— Sim, vampiros! Eles estão lá na velha casa abandonada.

— E as crianças estão brincando com eles?

— Brincando não, estudando! Eles são um grupo de alunos da faculdade de História. Estão procurando reunir dados históricos deles.

— Então por que eles simplesmente não os levam para a Universidade? Haveria mais recursos lá, não acha?

— Não se pode brincar com os mortos, você sabe disso! Um deles já está acordado e tudo!

— Bah! Para mim, você é apenas uma velha louca!

Então o homem saiu para atender um cliente. Sem ninguém para acreditar em sua história, a mulher parecia angustiada.

— Desculpe-me a intromissão, mas onde fica a velha casa? — perguntei em seu idioma local. A mulher se animou e imediatamente veio conversar.

— Em um antigo bairro perto do deserto.

— Mas tudo aqui é perto do deserto.

— É no distrito das flores, em uma velha casa francesa. Há quatro vampiros morando ali. Um deles já está acordado.

— Acordado? Como?

— Aqui estamos! Tenho certeza de que você vai gostar! — falou Ian, chegando e interrompendo nossa conversa. A mulher ficou desconfiada ao ver Ian e logo tratou de desaparecer na multidão.

— Quem era aquela?

— Uma senhora que estava me contando uma história sobre uma velha casa no distrito das flores.

— Nah, no final das contas, ela só quer ler a sua mão ou algo assim. Eles tratam todos os turistas da mesma forma. Agora prove este lanche.

~ ~ ~

Não demorou muito e pedi a Ian que me deixasse na empresa. De lá, pegaria um táxi. Depois de muita resistência, ele concordou. Quando ele chegou na empresa, saiu do carro para falar comigo.

— Então, acho que é isso.

— Sim, acho que sim — falei, já olhando para o final da rua, procurando algum táxi por perto.

— Hmm, Sarah?

— Sim? — perguntei, voltando minha atenção para ele.

— Eu ganho um beijo de boa noite?

Por alguma razão, pensei que nossa caminhada nada romântica me salvaria daquele momento. No entanto, decidi me divertir com isso.

— Me desculpa, quase esqueci...— falei e lhe dei um beijo na bochecha.

Um táxi logo chegou e eu saí.

Quando cheguei em casa, o Cesar já estava dormindo. Talvez fosse melhor assim.

Real.Doc - Parte 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora