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Mantive uma respiração calma, tentando focar na paisagem ou no barulho do ar que saia pela ventilação do carro, mantendo o ambiente ali dentro menos gélido e desconfortável

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Mantive uma respiração calma, tentando focar na paisagem ou no barulho do ar que saia pela ventilação do carro, mantendo o ambiente ali dentro menos gélido e desconfortável. O calor fazia bem para a minha pele, eliminando a tremedeira que me alastrava quando entrei ali, ansiosa e receosa.

Quando eu vi a BMW estacionada do outro lado da rua, branca e brilhante como sempre, engoli em seco e parei no lugar, me dando conta do que realmente estava acontecendo.

Eu tinha aceitado uma carona de Jasper sem protestar muito. Óbvio, fiquei remoendo na minha cabeça o que poderia acontecer desde o momento em que ele ofereceu e como a estúpida que sou, vi ali uma oportunidade de pisar no meu medo e enfrentar aquilo que eu tinha guardado em um baú a muito tempo.

Desde o acidente, entrei em dois carros apenas, e foram as piores sensações que eu poderia ter sentido, ficando só atrás do dia que causou esse trauma tão ridículo.

Eu nunca tinha ouvido falar de alguém que sofreu um acidente de carro e não conseguiu mais pisar em um. Eu sabia que poderiam sim existir pessoas que compartilhavam da mesma experiência, mas com certeza eram mínimas, porque como eu estava dizendo, é rídiculo.

Pensei que se entrasse no carro de Jasper essa noite, poderia averiguar se eu ainda sentiria minhas pernas bambas e as mãos sem conseguir mexer pelo formigamento, seguidas da palpitação no peito e a boca seca.

Porra, eu estava sentindo exatamente isso agora.

Engoli o nó na minha garganta e puxei uma respiração funda discretamente, o que foi difícil pra caralho, porque Jasper é o ser humano mais observador e sempre percebia tudo.

Isso me tirou do sério.

De canto de olho, Jasper me olhou. Não olhei diretamente para ele, mas vi esse movimento quando sua cabeça mexeu.

— Se continuar apertando sua corrente desse jeito, ela vai quebrar — ele tentou descontrair, tirando a mão que estava em sua coxa apoiada ali despretensiosamente para abaixar o nível do aquecedor.

Soltei o colar devagar, ajeitando as costas.

Esfreguei a mão na coxa em uma tentativa de parar com a tremedeira que ameaçava voltar e olhei pela janela.

Focar demais em Jasper era perigoso, focar demais na estrada era angustiante, e fechar os olhos seria vergonhoso.

Outro motivo por ter aceitado a carona, era que se eu fosse normal e não uma fodida da cabeça, não negaria a viagem de volta para casa em um carro confortável que te faz parecer nas nuvens com os bancos de couro e leveza ao andar. Foi por isso também que eu disse sim, pois Jasper poderia começar a imaginar coisas e eu não o queria fazendo isso.

Mas aqui agora, parece ser pior do que se eu tivesse negado.

— Tem compromissos dia 17? — Sua voz de repente rouca me trouxe de volta. Tomei a decisão perigosa.

RECOVERYWhere stories live. Discover now