RECOVERY

20

— Pensei que não gostasse do meu tipinho.

Perséfone levou a mão ao peito e bateu a porta, puxando uma respiração assustada ao me fitar de olhos arregalados. Ela os revirou e soltou a maçaneta de forma desleixada, deixando o braço cair ao lado de sua cintura.

— Não creio nisso — seus olhos brilhavam sobre a luz que nos cobria do teto, ela era amarelada e baixa, mal nos iluminava. Contudo, eu podia ler cada uma de suas expressões e entender exatamente o que ela estava pensando. Perséfone podia não saber, mas os olhos dela transmitiam mais do que qualquer reação corporal que ela pudesse ter.

Dei de ombros, cruzando os braços na frente do peito.

— Só checando, porque da última vez, eu podia ouvir repúdio na sua voz quando usou as minhas palavras, só que contra mim.

— Não preciso gostar de alguém pra sair com ela, ou fazer qualquer outra coisa — ela deixou um tom lascivo cobrir o ar.

Ela estava querendo falar sobre sexo?

Não consegui não sorrir, o que ela me disse despertou algo em mim.

— Se você diz.

Perséfone bufou e passou por mim, murmurando.

— Inacreditável.

Peguei no braço dela, com força o suficiente para ela parar mas ao mesmo tempo para não machucá-la. Seu corpo ficou mais próximo do meu, aquele castanho profundo ligeiramente surpreso e conectado comigo.

— Ele é pior que o Brandon, Perséfone — ela conteve um sorriso, tombando o rosto levemente para o lado.

Não precisava me lembrar da raiva que senti no dia que fomos tirar as fotos, com ele se engraçando pra cima dela e não desviando o olhar do bundão que ela tem. Naquele dia, foi necessário juntar todo um autocontrole que eu não sabia que existia.

— Isso é ciúmes capitão?

Um riso curto me escapou. Não pude evitar sentir o desejo de me aproximar mais, também não me preocupei em não umedecer os lábios antes de olhar para os dela.

Vi na feição de Perséfone que ela não esperava por isso, vi também o choque que cruzou seu rosto. Muito provavelmente, ela sente o mesmo que eu.

Foi uma sensação esquisita que se alastrou pelo braço que segurava ela, minha mão começou a queimar no desejo de sentir mais.

— Quando eu sentir ciúmes de você, Perséfone, você vai saber.

Ela engoliu e empurrou o nó alastrado em sua garganta para baixo, pude ver. Em seguida, ela tirou o braço do meu alcance e foi embora, sumindo de vista.

Pelo restante da noite, eu e Noah ficamos com Hailey em uma mesa separada conversando e bebendo cerveja. Eu ainda estava no meu primeiro copo, para falar a verdade. A bebida já tinha se tornado quente e não borbulhava como antes, toda a camada nojenta branca formada por bolhas agrupadas tinha sumido, deixando espaço apenas para o líquido amargo amarelado.