CONFISSÃO

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POV: Jeffrey

Sinto o estômago gelar.

Quando estávamos transando no estábulo, no dia do Torneio de Primavera, Anna me disse que havia coisas que deveria saber – e eu, apaixonado, ainda envolto pelo calor do momento, me recusei a saber.

Pelo visto, minha ilusão de que tudo ficaria bem por muito tempo irá por água abaixo.

- Anna... Não importa o que seja. Estou do seu lado... Não suporto mais esta situação, de adiar meus planos de ficar com você porque há outras coisas no caminho. Não me importo!

Ela me olha, a taça de vinho na mão, parecendo um pouco atônita. Eu continuo:

- Você matou alguém, Anna? Foi presa? Você se prostituiu? Olha... eu não ligo. Sério! Se vai me contar alguma coisa por desencargo de consciência, você não...

- Jeffrey – ela diz, séria, colocando a mão no meu braço – por favor, me escute. As coisas que vou te contar agora, são por desencargo de consciência, sim – ela desvia o olhar para suas mãos, respirando fundo – e há um detalhe no meio dessa história toda que nunca contei a ninguém. Nem mesmo para o Munir, ou Blue, ou o André. Só você vai saber disso, e tem a ver com uma dessas hipóteses que lançou agora. Sim, Jeffrey. Eu matei alguém. Mas preciso que saiba de tudo o que aconteceu para me levar a essa decisão...

POV: Anna

Paris, 2012

Fiquei por alguns segundos olhando, perplexa, para a figura sorridente que me abordava na mesa do Moulin Rouge. Não, não é possível. Não pode ser ele...

- Toni?

- Você continua uma beleza, chéri. Está mais madura, mais linda, mais... encantadora. Pelo visto, ter me dado um pé na bunda foi a melhor coisa que poderia ter feito.

Toni está irreconhecível. Muito magro, o rosto encovado livre da barba, o cabelo aparado rente ao couro cabeludo – as roupas de grife que veste não são o suficiente para recuperar a aura de sedução e prosperidade que tinha nele, quando o conheci.

- Foi você quem me dispensou. Você! – digo entre dentes, com uma raiva repentina – não tínhamos nada além de sexo, Toni. Eu só precisava do meu emprego e de apoio, e o que você fez? Me trouxe aqui com a promessa de uma carreira de modelo e, no fim, queria me explorar como uma prostituta! E aí? Continua nessa sua vida de merda, enganando as pessoas?

Ele ri. Um riso enviesado, cínico, amargurado.

- Não engano ninguém. Quem trabalha comigo, é porque quer e tem plena consciência do que faz. Nunca forcei ninguém a nada. Você é uma prova disso... Podia estar lá, agora, sendo um sucesso, empreendendo, ganhando muito dinheiro... mas decidiu cair fora. O que posso fazer?

- Pois estou muito bem, obrigada. E se quer saber o que pode fazer, você pode sumir da minha frente, por favor. Não quero te ver mais.

Ele ri mais uma vez, e se levanta com dificuldade, apoiado em uma bengala, os braços trêmulos tentando dar o apoio necessário para que não caísse. Mas que diabos...

- Vou sair agora, Anna. Mas virei te ver mais vezes. Au revoir, chéri.

Meu coração está aos pulos e sinto o rosto queimar de ódio – ainda estou assim quando Bertrand volta de sua conversa com Monsieur Oller.

- Nossa... quem é aquele cara? – pergunta ele – não parece estar muito bem.

- Estimo que não esteja, mesmo – respondo, bebendo minha água tônica e olhando o burburinho da plateia se preparando para uma nova apresentação – Aquele lá é o Antoine Beaufort. O filho da puta que explora as modelos da agência e que me expulsou de lá por eu não aceitar isso e por decidir ter meu filho.

MISS MADEMOISELLEOnde histórias criam vida. Descubra agora