ENCONTRO

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POV: Jeffrey

A chegada do final de semana traz também a alegria de poder receber Gus e George novamente. A presença dos dois é mais um item a completar as minhas realizações nesses últimos dias – e também me daria um pouco mais de tranquilidade e sossego antes de dar as primeiras cartadas contra o Sr. Felipe Werner.

Previsão de problemas e planejamento. São duas expressões correntes no vocabulário de Alexandre, dentro de sua área de atuação. Prever todos os possíveis problemas e se planejar para enfrentá-los, com frieza e sem deixar margens para erro.

É por isso que Anna diz que ele pode resolver pepinos; é porque é um mestre em antecipar e planejar coisas. Quase uma Olívia Pope. Precisa estar sempre dez passos à frente.

Não é à toa que está sempre com aquela cara de quem está pilhado. Só espero que não acabe tendo uma úlcera duodenal por excesso de preocupação.

Bem, mas não preciso pensar sobre isso agora.

André me ligou há cerca de dez minutos perguntando se eu não gostaria de levar as crianças pra casa dele no domingo, pois Anna estaria lá com Blue e os garotos poderiam gastar energia juntos. Concordei, óbvio. A energia deles poderia abastecer a usina de Itaipu, e, embora não possa reclamar de minha disposição até o momento, é bom para eles interagir com pessoas da mesma geração.

- Amanhã, iremos passar o domingo na casa do tio do Blue – digo a Hilarie, enquanto Gus e George terminam de levar suas mochilas para o lounge – Mas à noite estaremos aqui, te esperando.

- Ah, tudo bem – ela responde – sem problemas. Chegarei por volta das oito.

- Combinado – respondo – e como estão as suas filmagens? Já terminaram?

- Sim... Posso respirar um pouco antes da pré estreia – diz Hilarie, dando um sorriso aliviado – Mal posso esperar para ver o resultado final. Foi um trabalho muito árduo.

- Imagino. Não se esqueça de me avisar quando for lançar.

- Claro!

- Estaremos todos lá assistindo.

Ela me olha, rindo.

- Ok, Jeff – me abraça – bem, vou me despedir das crianças. Até domingo!

- Até domingo, Hil.

De modo que, aqui estou eu sentado no tapete da sala com os dois, enquanto Barbie e Susie tomam café com Rick, Negan e Daryl.

- Esse Daryl é um porcão – diz Gus – olha a sujeira no rosto dele!

- Pelo menos, lavou as mãos – diz George.

- Não digam isso ao tio Norm – respondo, rindo.

- A Barbie fica muito chateada quando vão à casa dela e não lavam as mãos antes do café – observa a garotinha.

- Eu também fico – respondo.

- Pai, amanhã vamos passar o dia na casa do Neto?

- Vamos.

- Ebaaaa – diz George, batendo palmas.

- O Neto me disse que tem um controle SNES de reserva – diz Gus

- Que ótimo! Embora eu não faça a menor ideia do que seja isso, posso imaginar que vocês vão poder jogar o que quer que seja juntos.

Gus ri.

- É um controle para jogar Mario 64.

- Nossa, 64? Mas já estamos em 2023! – digo.

O garoto se dobra de rir por alguma razão que desconheço – mas desconfio que seja porque eu tenha falado alguma besteira.

POV: Anna

Quando era mais jovem, não costumava acordar tão cedo aos domingos. Depois que me tornei mãe, o relógio biológico fez disso uma rotina.

Eu e Blue estamos aqui na casa de André (antiga casa de Munir, bons tempos...) desde ontem à noite. Daqui a algumas horas, Jeff e os filhos dele vem para cá, e, embora eu não seja uma mestre em Gastronomia como meu irmão, me dispus a ajudá-lo a preparar tudo.
Por mais que a vida e a minha carreira tenham me rendido alguns luxos, ainda gosto de colocar a mão na massa quando posso. Terceirizar serviços da casa acabou se tornando algo importante na minha rotina atribulada, e sou imensamente grata a meus prestadores de serviço – mas às vezes, sinto falta de poder fazer minhas próprias coisas, dentro do meu lar. Fico pensando naqueles dias em que morávamos somente eu, Munir e Jeff, e cada um era responsável por determinadas atividades nessa casa. Não se trata de ser uma “Amélia”, mas sim de poder fazer coisas simples por mim mesma e pelos outros, ao invés de passar a maior parte do dia fora de casa.

Queria mudar algo nessa rotina, tirar um tempo pra mim... Desacelerar. Diminuir o ritmo.

Quem sabe, em um futuro próximo, eu não possa me programar para isso?

- Mãe – diz Blue, irrompendo na cozinha – Você quer ajuda para preparar o café?

- Claro, filho. Onde está Neto?

- Dormindo – ele responde, encaixando uma cápsula na máquina e colocando água para ferver em uma chaleira - Ontem, ficamos até tarde jogando basquete ali na quadra.

- É, eu ouvi.

- Quando papai chegar com Gus e George, vou convidá-los para jogar com a gente.

- Tenho certeza que eles vão adorar. Só cuidado para não ferrar os joelhos do seu pai.

Blue ri.

- Vou cuidar dele. – ele me olha e sorri – Fico feliz que vocês estejam se dando bem.

- Jeff é um cara legal – respondo, me abraçando a ele e beijando-o no rosto – e é pai do meu filhão grandão...

Blue retribui o abraço e eu me sinto um pouco culpada por não poder contar logo a ele sobre mim e Jeff. Mas logo isso seria possível...

POV: Jeffrey

Resolvo pegar o Cuda para irmos à casa de André, um pouco pelo saudosismo, e também para despistar eventuais fofoqueiros ou paparazzi de plantão.

Ao chegarmos, já são 10:30 e está um calor considerável – estaciono o Plymouth dentro da garagem, onde já estão a SUV de Anna e a caminhonete de André. Quando saímos, Neto vem correndo em direção a nós, e Blue logo atrás, com seu sorriso aberto.

- Oi, tio! – diz Neto, me abraçando forte, e fazendo o mesmo com George e Gus logo a seguir. Percebo os três trocando alguns cochichos e rindo, e depois correndo para trás da garagem, em direção ao amplo gramado com uma horta ao fundo. Sinto uma inveja enorme dessa capacidade que crianças tem de compartilhar tudo entre elas.

- Oi, pai – diz Blue, beijando meu rosto e me abraçando.

- Olá, Blue – digo, retribuindo o abraço – chegamos muito tarde?

- Non. Tio André ainda está preparando o almoço e eu estava conversando com minha mãe ali na piscina.

- Hum, que legal. Vamos lá com ela, então. Depois vou trocar uma ideia com seu tio.

- Ah, vou ajudá-lo na cozinha e aviso que você chegou.

- Tudo bem.

Blue vai até a cozinha e caminho em direção a Anna, que está deitada na espreguiçadeira, à sombra.

MISS MADEMOISELLEWhere stories live. Discover now