MISS MADEMOISELLE

TURFE

POV: Anna

O Jockey Club de Manhattan fica relativamente distante da metrópole, em um local quase paradisíaco: grandes sequências de arvoredos contornam lagos e campos de golfe nas cercanias, os gramados se estendendo até onde a vista não alcança. Digo "quase" paradisíaco porque, apesar das belezas naturais do local, não posso conceber um paraíso em que haja um extenso complexo onde se reúnem os milionários e demais protagonistas do cenário da elite local, discutindo sobre bolsa de valores enquanto bebem mimosas e apostam em corridas de cavalo.

A primavera chegou com temperaturas amenas, o que permite certo conforto de vestimenta dentro de um quadro daquilo é adequado a esse evento: Blue está absolutamente lindo, com seu traje de passeio completo, a pele alva e os olhos cor de pistache evidenciados pelo tom cinza escuro e uniforme de sua roupa – ele optou por contrastar brilho e textura, ao invés de cores. Perfeito. Irretocável.

- Mãe – ele diz, me abraçando pela cintura em meio ao salão onde ocorre o coquetel antes da competição – olhe ali, Dolly e Camille chegaram! Será que o árabe do tio Mark vai competir esse ano?

- Ainda não. Dolly me contou que ele está em fase de treinamento.

- Ei, Anna! Oi, Blue! – diz Camille, puxando Dolly para perto de nós.

Trocamos nossos cumprimentos, Blue ficando levemente corado pelos elogios das duas, mas sorrindo simpaticamente mesmo assim.

- Susie foi até a mesa pegar uma bebida, Blue. Não quer ir até lá com ela?

- Sim – ele responde – mãe, quando a competição estiver começando, nos encontramos na tribuna, certo?

- Combinado, meu anjo. Nada de álcool, hein.

- Fica fria... – ele responde, me dando um beijo e se afastando.

- Blue é uma gracinha – diz Dolly, olhando o rapaz abraçando Susie, mais ao longe – os dois formam um casal bonito... Mas faço votos que aproveitem a juventude, acima de tudo.

- Também acho – respondo – estou aproveitando a minha até hoje.

As duas riem. Camille pergunta:

- Falando nisso, onde está Felipe?

- Deve estar nas baias, preparando o cavalo... Hoje ele vai competir com Telamon, o puro sangue inglês que venceu da última vez em que participou. Está ansioso... Veio para cá logo de manhã, e desde então, não o vejo. Mas disse que viria ao coquetel, embora não possa beber antes da competição, logicamente.

- Ele fica lindo naquela roupa de jóquei – diz Dolly.

- Fica mesmo.

- Mark também veio logo de manhã, mas para analisar alguns cavalos para uma possível compra.

- Pra eles que gostam, isso aqui é o paraíso – responde Camille – Ei, terá presença VIP este ano?

- É possível – respondo – Nos dois anos que durou a pandemia, não houve evento. Ano passado, não teve participações. Esse ano, Felipe insinuou que terá, mas essa noção de VIP é bem subjetiva, não? Talvez seja alguém totalmente aleatório que não conheçamos, mas que faça sentido para eles.

- Bem provável - diz Dolly, chamando o garçom com a bandeja repleta de taças de champanhe – Mas vamos brindar à nossa presença! – ela diz, erguendo a taça.

Passamos algum tempo bebendo e comentando sobre as pessoas em volta e o evento, quando vejo um rosto conhecido adentrando o recinto.

Felipe está vestido de jóquei, e de longe eu o vejo fazendo sinal para Blue se aproximar.