CAPÍTULO XX - PERFUME DE MULHER

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POV: Anna

Estou com o coração dolorido, mas essa sensação me é familiar... Não é uma novidade.

Com Lucas foi assim. Com Augusto, também. E agora, Jeffrey.

Todos eles diziam me amar, obtiveram coisas de mim, e depois se deram ao desplante de me tratar como uma posse, como uma qualquer.

Eu não tive o amor da minha mãe, o abraço do meu pai. Meu irmão está distante... Posso dizer que o único afeto que eu recebo é de Munir. Ah, e claro, tem também Dolly, e Camille.

Quando aquela merda toda aconteceu e eu quase morri, abandonada e grávida, eu prometi a mim mesma que nunca mais iria ser trouxa de alguém...

Os homens vem e vão, usam nosso afeto, nossa paciência, nosso corpo, arrancam tudo que podem; e quando se cansam, somem, vão para os braços de outra, e o ciclo se repete.

Eu acho que eu deveria ser igual a eles: correr só atrás das vantagens. Das delícias. Das loucuras...

Ser carente e esperar compreensão e bondade, não tem dado certo para mim.

Acho que não nasci pra ser amada. Nem para amar.

Está para nascer o homem que me faça mudar de ideia.

POV: Jeffrey

Estou me sentindo horrível.

Não rolou nada entre mim e Louise além do beijo, mas meu Deus, foi ela quem tomou a iniciativa de me beijar e eu... retribuí.

Tenho maturidade o suficiente para saber que nossa amizade não vai mais ser a mesma, a menos que eu retribua esse afeto dela, da forma como ela o sente. Mas seria uma puta sacanagem estar com ela só por carência, sendo que eu amo mesmo a outra mulher.

Anna.

A Anna que eu não sei se é mais a mesma Anna.

Estou cansado de debater, de colocar coisas na balança, de pensar sobre isso.

O amor deveria ser uma coisa fácil e gostosa de se sentir, e não um pesadelo, uma luta, uma competição de interesses.

Em algum momento, a gente tem que confiar um no outro, compartilhar, ceder, compreender... e não está havendo isso da parte dos dois.

Ao mesmo tempo em que me sinto frustrado por não ser correspondido em minhas perspectivas de amor, eu me sinto completamente preso a ela; sempre me senti. Não consigo me imaginar olhando Anna do outro lado da calçada, algum dia, e saber que não vou estar com ela, transar com ela, beijá-la, dormir abraçado a ela. Não consigo me sentir neutro e dizer "Isso acabou".

Na real, por mais que nosso lance não dê certo, eu acho que isso nunca vai acabar.

POV: Anna

As malas já estão organizadas, os documentos, separados.

Contei a Munir sobre a discussão que tivemos; falei que talvez não tivesse volta.

- Anna, eu não vou mais opinar - ele diz, suspirando - vocês dois são adultos, e eu sinto que são coisas demais, para eu falar que um ou outro deve fazer isso ou aquilo. Às vezes eu penso que o amor deveria ser fácil, mas aí lembro que pra mim, sempre foi difícil. Quem sou eu para cobrar isso dos outros?

- Ele saiu daqui furioso, eu o mandei sair da minha frente... Provavelmente, daqui a pouco estará de volta, e só de pensar que vou ter que olhar de novo pra cara dele reprovando tudo que faço, me dá um ranço, sabe? Eu também acho que amar deveria ser fácil, mas eu, sinceramente, cansei.

MISS MADEMOISELLEWhere stories live. Discover now