POV: Anna
O inverno já se foi há dias.
Dolly propôs que eu e Camille a acompanhássemos até a casa de campo para termos alguns momentos de bebidas e conversas descontraídas - de modo que agora estou aqui, reclinada perto da piscina fazendo render uma taça de dry Martini enquanto escuto, com Dolly, Camille explanar acerca de suas mais recentes aventuras no Tinder.
- Avise a Mark que vou me lembrar do dia em que ele me incentivou a dar match com aquele advogado fetichista – ameaça, sob nossas risadas.
- O que custava ter cuspido no cara? – pergunta Dolly, bebendo em sua taça para rentar refrear o riso, sem sucesso.
- Minha sanidade mental – ela responde.
- Podia ter sido pior – observo.
Camille procurando um relacionamento sério é algo recente. Após o divórcio, cinco anos atrás, decidiu que quer um "namoro", mas que não se casa novamente.
- Talvez até um filho ou dois nós tenhamos – diz, distraidamente – eu e meu príncipe encantado.
- A essa altura do campeonato, meu Deus!
- Ah, Dolly. Me deixe sonhar. Já vou fazer trinta e nove anos. É o que me resta.
- Também, não é o caso de ser pessimista – digo – você é linda, talentosa, legal. Pode sonhar, ainda tá em tempo.
- Ah, obrigada. Por isso que vocês são as únicas amigas que tolero – ela diz, rindo.
Passamos algum tempo em silêncio, apreciando as bebidas. Dolly deixara Mark em casa revisando alguns processos; Susie, a filha deles, também optara por ficar (desconfio que, se Blue estivesse aqui, Susie certamente optaria pelo contrário). Camille não tem ninguém (além de seus gatos) esperando por ela, e eu... Bem, Blue está com o pai e os irmãos. Da última vez que liguei, garantira que todo estava correndo bem. Pude confirmar isso pelos gritos alegres de crianças e a menininha (irmã dele) dando um "oi" risonho ao telefone.
- Falando em tolerar – diz Dolly – como vão as coisas entre você e Jeffrey, agora que ele sabe do Blue?
- Não vão – respondo – estamos em uma espécie de trégua armada. Ele se mantém frio, eu me mantenho blasé. Não o julgo por isso, afinal, tem suas razões... Mas também, não vou ficar me ajoelhando aos pés dele. Ele e Blue estão indo bem, é o que importa.
- Quando a gente é jovem, faz umas coisas que não dá pra entender... – diz Camille, olhando ao longe.
- Pois é, mas já está feito. Não há como voltar atrás... No mais, tive meus motivos para não ter revelado isso antes. Força maior... vocês me entendem.
Dolly suspira e coloca mais bebida na taça.
- Que coisa – diz ela – e pensar que há quase vinte anos, você e Jeffrey estiveram aqui nessa casa, quase subindo pelas paredes. Eram tão apaixonados... Apostaria tudo que iriam ficar juntos.
- Ainda está em tempo – provoca Camille.
- Nem pensar! – respondo – nem uma palavra sobre isso. Sabem de uma coisa? Aquele homem não tem nada a ver comigo! Nada! Foi ótimo que não ficamos. Ele é inadequado aos meus ideais.
- E qual é o seu ideal? Felipe? – pergunta Dolly.
- Não quero pensar nisso – respondo – só penso em meu filho e no meu trabalho, nessa ordem. Homem é técnica, diversão e arte, só.
- Ué, mas se é técnica, diversão e arte, por que não se divertir um pouco com o velho Jeff? Talvez isso o acalme um pouco – diz Camille, rindo – ele ainda é bem bonito, hein. Na minha opinião, tá até melhor agora. E tá divorciado!
ESTÀS LLEGINT
MISS MADEMOISELLE
FiccióAnna e Jeffrey - ela brasileira, ele americano - vivem suas histórias individuais, as frustrações, as realizações e como encontraram um no outro formas diferentes de ver a vida - e amar. Organizei um perfil no Instagram onde vocês podem conhecer mel...