RENDIÇÃO

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POV: Anna

Estou no apartamento onde Jeff tem ficado nesses últimos dias – ele concordou que, no meio desse turbilhão que se instaurou depois daquele escândalo, seria melhor se resguardar em algum lugar que não fosse tão "manjado" por jornalistas.

Assim, ele está apenas três andares da cobertura onde moro, com o apê de Alexandre entre nós.

A despeito da encrenca toda já ter esfriado um pouco, Jeffrey se mostra ansioso e irritadiço, embora sempre se esforce por se mostrar agradável e otimista (o que, nestas circunstâncias, parece um esforço e tanto). Fica genuinamente feliz com a presença constante de Blue, Gus e George, e excessivamente carente e grudento comigo – o ato de amor se tornou algo demorado e emotivo, com ele se apegando como se tivesse o poder, por meio disso, de esquecer de tudo (o que, em parte, é verdade). Depois de transarmos, ficamos abraçados por longos momentos, em que seu humor oscila entre chorar, fazer planos ou me provocar até obter uma outra ereção e começar tudo de novo, seus gemidos saindo quase como um choro de rendição ao final.

Blue tem ficado aqui com ele, mas, acredito eu, não desconfia que temos ficado juntos. Estou sentada no sofá da sala folheando uma revista de cinema e sinto o perfume do shampoo de Jeff, que entra na sala vestindo um roupão atoalhado verde-musgo enquanto enxuga os cabelos úmidos com uma toalha.

- Blue vai ao restaurante, hoje? – pergunto.

- Não. Ele me enviou uma mensagem avisando que iria passar na redação da Glamour. Parece que a poderosa chefona do Derek deu muito trabalho a ele, e o garoto resolveu fazer hora extra.

Rio alto dessa observação.

- É, aquele garoto é bem aplicado. Fica fácil explorar a mão de obra dele. Mas, brincadeiras à parte, eu havia dito que não teria problema terminar aquilo amanhã...São alguns HDs cujo conteúdo precisa ser lançado na nuvem, ou no site das empresas. E depois, serem formatados... é algo importante e que necessita ser feito em tempo hábil, mas não que ele precise se sacrificar por isso.

- Eu sei, meu amor... estava brincando – Jeff diz, se sentando ao meu lado e me beijando – Acho que o Derek prefere trabalhar até tarde para não ter que fazer sala pro padrasto de merda e pra mãe negligente dele.

Dou um suspiro.

- Que coisa horrível. Sei bem como é ter uma mãe assim... Tanto que não olho pra cara da minha até hoje.

- Nem tem notícias dela?

- A última vez em que fiquei sabendo dela, tinha se casado com um ricaço da Argentina. Se ele a suporta, deve ser bom para os dois. Só espero que não tenha tido mais filhos, pra ela negligenciar... Ah, Jeff... Eu não deveria falar sobre essas coisas, mas ainda sinto muita raiva quando me lembro.

- Tudo bem, meu amor. Não se fala mais nisso.

- Vamos focar em você, agora. Em como resolver essa merda.

- Sim.

- Você conversou com o Mark hoje?

- Conversei... Ganhamos dois processos em primeira instância, porque os veículos mencionavam meu nome. Os outros, os advogados recorreram e ainda estão em andamento. Mas ainda estou impossibilitado de provar que não fiz aquilo, e isso me deixa puto.

Faço um carinho sua barba grisalha. Os olhos dele estão melancólicos, embora a aparência de cansaço tenha dado uma amenizada.

- Tudo isso vai passar, Jeff. Olha só, estive conversando com Alexandre sobre...

Não pude terminar de falar porque fui interrompida pela chegada repentina de Blue, que passou por nós sem parecer se dar conta de que estamos aqui.

MISS MADEMOISELLEWhere stories live. Discover now