MISS MADEMOISELLE

CAPÍTULO III - A PRIMEIRA NOITE DO RESTO DE NOSSAS VIDAS

POV: Anna

Naquela primeira noite em que assistimos filme juntos, o grandão acabou pegando no sono e acordamos juntos no outro dia. Não houve constrangimentos por isso. Tanto que essa rotina de assistir filmes se tornou regular: virou algo que fazíamos duas ou até três vezes por semana.

Ah... Também comecei a estudar, de modo que quase não me sobra tempo, durante do dia, para frivolidades: se antes minha rotina era encontrar os amigos e fazer compras, agora, tenho quatro dias semanais de aula e o restante do tempo fico grudada nos livros ou fazendo algo no notebook.

Munir leciona na parte da manhã, à tarde fica disponível caso algum orientando queira marcar horário com ele. Eu passo a maioria das tardes em casa.

Jeffrey agora está compenetrado em correr atrás de audições (a última foi para um seriado sobre uma viúva, sei lá se é isso mesmo, cujo nome me foge agora; também faz comerciais e sessões de fotos) e de mulheres (ouvi várias vezes ele falando ao celular com uma delas, Sarah, e é comovente o esforço que ele faz pra tentar encontrar um jeito de comer essa. É óbvio que não quer trazer pra casa. E é óbvio também que ele tá na seca há muito tempo. Coitado). Quando está aqui, a gente procura um modo de passar o tempo; às vezes passo texto com ele; outras vezes leio trechos de Charaudeau para que ele opine. Como Bandit e Bisou precisam também se distrair, às vezes colocamos as guias neles e passeamos pelo bairro. Ele é um bom ouvinte e acredito que eu também esteja sendo uma boa companhia a ele.

Aos finais de semana, Paul costuma vir aqui em casa e sair para jantar com Munir, de modo que os dois passam os fins de semana juntos - e com isso, também saio pra dançar com os amigos ou fazer alguma outra coisa; e Jeffrey sabe lá Deus o que faz - talvez, se encontrando com Sarah (apesar que, pelo teor das conversas dos dois - escuto porque sou curiosa mesmo, admito - ainda não chegaram aos finalmentes).

Estou me adaptando à rotina daqui e me sinto bem. Nem parece que tinha outra vida antes.

POV: Jeffrey

Fiz teste para um novo seriado. Vamos ver no que vai dar. Ou melhor... fiz MAIS um teste para MAIS um seriado.

A rotina mudou completamente depois que Anna e Munir passaram a se ausentar com mais frequência. Anna fica em casa à tarde; porém, está sempre compenetrada em suas leituras ou na frente do notebook - mas não se recusa a me ajudar quando peço para ela me dar uma mão com o texto. Pensei que ela ficaria a maior parte do tempo escrevendo algum artigo ou pesquisando apenas, mas acabei vislumbrando no PC dela (no dia em que esqueceu o Messenger aberto) conversas dela com um tal de Harry da universidade (panaca espaçoso querendo se dar bem com mulher) e o mais preocupante, um tal de Augusto, do Brasil, cujas conversas não faço ideia do que digam por causa do português; mas sei lá, não parece ser coisa superficial. Não sei explicar o porquê, mas fiquei muito incomodado, tanto com essas conversas quanto pelo fato de estar deliberadamente bisbilhotando as conversas de alguém. Jamais me veria fazendo algo assim, e no entanto...

Tenho estado bem ocupado decorando textos e procurando oportunidades de fazer mais testes, mas também tenho me dedicado a não ficar sozinho... Tenho investido algum tempo em Sarah, embora ela tenha estado os últimos dias passando por audições fora daqui. Nós ainda não transamos... Mas confesso que estou impaciente por esse momento com ela. Nossas conversas têm ficado cada vez mais íntimas e excitantes, e é um tormento pra mim ficar guardando esse tesão. Opa, se eu tenho mãos e para que elas servem? E quem disse que não as uso? Mas estar com alguém é diferente disso, certo?

Ah... estou me sentindo estranho em relação a isso. Quer dizer, em relação aos meus desejos. Me sinto cada dia mais confuso, com a mente fodida por algumas ideias que passam pela minha cabeça. Vamos entrar em um assunto muito... er... privado agora: quando você se masturba, sua mente vai pra lugares que, depois, tendemos a ficar meio que "meu Deus, porque pensei nisso?" ou "Por que essa pessoa me veio à mente?"