CAPÍTULO II - RECEBENDO JEFF EM CASA

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POV: Jeffrey

Quando diminuo a velocidade da moto e entro na estrada ladeada de árvores que irá me levar ao bairro referido pelo meu amigo, percebo quão cansado estou. A pele do meu rosto parece se esticar de tão castigada pela ação do vento, e certamente meus cabelos não estão melhores depois de horas sendo amassados pelo capacete. E nem vou mencionar sobre o meu traseiro - se vocês já tiveram o privilégio de viajar esmagando o banco de uma motocicleta por horas, devem imaginar o estado em que o meu está. O meu anfitrião ficou muito admirado quando lhe informara que sou ator... mas pobre dele, se está esperando um Brad Pitt.

Entro por uma das sebes altas do bairro e avisto o casarão enorme, e penso que talvez tivesse feito melhor se investido na carreira acadêmica. O tal professor que me alugou o quarto parece uma pessoa feliz. Seria eu feliz lecionando em uma universidade? Apesar dos pesares, sou feliz fazendo o que faço. Preciso ser mais otimista. Estou entrando em uma nova fase da minha vida.

Estaciono a velha Harley próximo à casa e desço, sentindo as pernas (especialmente os joelhos) reclamarem depois de tanto tempo na mesma posição. Tiro a bolsa das costas, arranco o capacete, os óculos escuros, desço o zíper da jaqueta e me alongo, sentindo o corpo ficar mais relaxado e diminuindo as minhas chances de me estabacar de exaustão. Olho meu rosto no retrovisor e penso que raio de ideia foi aquela de sair sem ter feito a barba. Passo a mão pelos cabelos, tentando dar um ar mais casual bagunçado - que no fim fica só bagunçado mesmo. É... o professor teria uma bela visão do ator com cara de maluco desesperado.

Subo os dois degraus da entrada e paro diante da imensa porta janela, localizando na parede o botão da campainha. Suspiro involuntariamente, aperto os olhos, passo mais uma vez a mão pelos cabelos e pressiono o botão, ouvindo o barulho reverberar dentro da casa.

Espero.

Dentro da casa, nenhum movimento.

Era só o que faltava, não ter ninguém ali. Pffff.

Pressiono o botão de novo, dessa vez, duas vezes seguidas.

Ouço uma voz feminina gritar MUNIR!!!!

Ahh, Munir. Munir alguma coisa em árabe.

Hummm... Bill me disse que o professor mora sozinho. Será alguma namorada? Filha? Não parece ser a voz de uma mulher muito mais velha.

Ouço a voz gritar de novo, dessa vez em um idioma desconhecido pra mim, de modo que só consigo "pescar" algumas palavras: "você de novo", "esqueceu"... Soa um barulho "tum tum tum" de alguém pisando duro, talvez uma pessoa de meia andando sobre um tapete ou carpete (o que se confirmou depois), e logo o barulho de chave e de trinco girando.

Estou com uma das mãos apoiada no batente e a outra segurando o capacete e a bolsa, quando a porta se abre num ímpeto. Uma mocinha morena de nariz arrebitado, vestida numa blusa de moletom cinza enorme e de meias três quartos azuis nos pés, segurando uma caneca e com as bochechas infladas pelo líquido indefinido que está bebendo, olha pra cima e me encara com olhos arregaladíssimos, me olhando por baixo da bagunça de cabelos sobre a sua testa emoldurada por um coque improvisado no alto da cabeça.

É, parceira. Obrigado pela sua solidariedade involuntária à minha aparência lamentável.

Ela vai engolindo o líquido aos poucos, o rosto mimoso ainda me encarando como se eu fosse um milhão de novidades. Será que bati na casa errada?

POV: Anna

Meu Deus, esse Munir é muito desligado.

De manhã já havia esquecido de levar as chaves, e agora, de novo...

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