Amor a toda luta!

35 - Carta

- Este NÃO é o final -

CARTA.

Guilherme...

Os últimos meses foram mais do que suficientes para conhecê-lo e saber que ao ler esta carta você terá muitos sentimentos, e acredito que poucos deles serão bons, também conheço bem sua personalidade curiosa, que o leva a ter muitos questionamentos e perguntas, e talvez por isso eu tenha covardemente escolhido não respondê-las enquanto você me encara, desperto e com seu doce e esperançoso olhar... depois de todas as coisas pelas quais passamos juntos, eu e você, pelas coisas que lhe fiz passar, sei que lhe devo muitas respostas, e acredite, há muitas das quais eu também gostaria de tê-las, para mim mesmo, e por este motivo, infelizmente não poderei responder todas as suas, na realidade, o que mais tenho feito desde que nos conhecemos foi buscar por respostas, e tudo que encontrei foram mais perguntas sem respostas e mais e mais dor, e não apenas para mim, mas para nós... principalmente para você, infelizmente a maior delas foi vê-lo nesta maca de hospital, sem saber se algum dia voltaria a vê-lo em toda sua vivacidade, alegria e coragem... vivo, de verdade.
Enquanto o escrevo esta carta, e disfruto por uma última vez da sua companhia, eu gostaria muito de poder expressar meu desejo de que toda esta situação fosse diferente... gostaria de poder ter feito mais por você, gostaria de nunca ter entrado na sua vida, mas não me compreenda mal, assim desejava para que pudesse poupá-lo de tamanho sofrimento... dor e tristeza, para que egoistamente eu também pudesse me livrar da dor que sinto agora, em me despedir, em observá-lo uma última vez, e saber que não poderei vê-lo novamente, em saber todo o mal que minha presença lhe causou.
Por mais que isto não pareça fazer diferença perto de tudo que minha presença já lhe causou, sei que seria uma das suas infinitas perguntas, então eu gostaria que soubesse que eu sempre estive por perto e em todos os momentos da sua recuperação, da sua estada aqui, neste hospital, eu jamais o deixei, ou abandonei...
Imagino que você já deva desconfiar que seus pais não permitiram que me aproximasse de você, e eu não os questionei, bem como não pude concordar mais com sua decisão, por mais que ansiava em poder vê-lo eu não poderia jamais, negar tudo que causei a você e sua família Guilherme. Ajudei em tudo que fui permitido e respeitei a vontade dos seus pais em me manter afastado, e respeitarei eternamente este desejo, mais do que justo, pois concordo que não posso mais continuar lhe causando dor e o colocando em risco... Vou assumir meu papel de adulto, fazer o que é o certo.

Mas não poderia deixá-lo de ver por uma última vez, o ver vivo, sereno, longe dos perigos em que minha presença o colocaram, em sentir a textura macia dos seus cabelos, sentir o arfar de sua respiração... seu perfume... ver por uma última vez mesmo que nessa penumbra, seu semblante igualável a de um anjo, um anjo que me salvou, salvou minha vida de diversas maneiras, não apenas daqueles que tentaram nos matar, mas dos meus monstros pessoais, da vontade inconsciente de deixar de viver, de tantas tristezas que me rondavam e que sua simples presença dissiparam. Serei eternamente grato a você, por aliviar a minha dor nesses dias que tive a oportunidade de desfrutar de sua companhia...
Saber que este é um adeus, que não poderei vê-lo novamente, me faz sentir livre em compartilhar sentimentos desconhecidos e ainda incompreensíveis que você me causa, que jamais seria capaz de confessar em voz alta, olhando em seus olhos tão doces e ingênuos, não sou capaz de explicar e não sei se algum dia serei, mas você mudou algo em mim, algo que me tornou vivo novamente, algo que fez com que sua presença fosse indispensável, desde que nos conhecemos, você ocupou um lugar que antes era apenas de dor, eu tentei, mas nao consegui me desvencilhar desses sentimentos, eu sabia que não era certo, que não era lógico... não saber explicar já deveria ter sido o suficiente para que eu tivesse mantido o controle sobre tudo isso, mas não fui capaz, eu precisei, egoistamente, de você perto de mim, e tudo isso quase custou a sua existência, não fui capaz de protegê-lo, e nada nunca me machucou tanto... nunca.
Sei que você questionaria isso, caso eu não tivesse sido fraco e covarde em apenas deixar a você esta carta, sem a possibilidade de respondê-lo, enfrentar suas perguntas... mas isso faz parte do plano de deixá-lo seguro, peço para que não me odeie por isso, eu não suportaria causar mais dor a você...

Você é mais corajoso que eu Guilherme, sua juventude, sua ânsia em viver, sua capacidade de ser aquilo que deseja, de enfrentar e assumir o que erra, sua maturidade, e sua ingenuidade, você é uma mistura das coisa mais incríveis que alguém pode ter, não perca isto no meio do caminho.
Me pergunto as coisas maravilhosas que perderei de ver você realizando, porque tenho plena convicção de que será o autor de belos momentos e conquistas... Gostaria de ver como lidará com as escolhas que terá que fazer, como superará os desafios que a vida adulta irão te impor, tenho certeza que enfrentará tudo corajosamente, como fez até agora, sorte daqueles que poderão acompanhar seu crescimento, sei que se destacará, ah Guilherme... como gostaria de poder auxiliá lo a não errar onde errei, em poder ajudá-lo e participar desse trajeto, da sua vida... como gostaria de poder continuar a ter sua presença!
A verdade é que invejo profundamente como tão jovem já és tão dotado de personalidade, de como é capaz de atrair todos a sua volta, de como todos, de alguma forma, giram ao teu entorno... você é como o sol, enquanto todo o resto são apenas pequenos planetas girando ao teu arredor... de como sem sua presença tudo se escurece, tão jovem... e tão apaixonante, viciante.

Talvez essa seja a resposta para minhas próprias perguntas... para minhas próprias angústias e fantasmas pessoais, não consigo entender o porque me causa tamanha dor a ideia de me afastar de você. Talvez protegê-lo seja apenas uma desculpa para me afastar, para fingir que tamanhos sentimentos não existem, uma forma menos dolorosa, menos difícil, de lidar com todos esses sentimentos incompreendidos, algo da qual já estou tão familiarizado, mas que já não suporto mais viver, esta dor, estas despedidas, já não as suporto, não posso manter mais feridas abertas, continuar deixando que a dor me corroa aos poucos, e também não posso permitir que isso aconteça com você, não suporto esta dor e não permitirei que você a sinta também. Ainda assim, você, pequenino, ainda é a parte menos dolorosa da minha história, ao passo que hoje, aqui, ao me despedir, sinto como se fosse a maior das dores que já pude sentir...

Estremeço ao lembrar de que esta dor, de ter que me despedir de quem amo, jamais irá passar.

E agora, sinto meu coração se dilacerar, enquanto ao mesmo tempo sinto que nem mais o possuo, pois o deixo aqui, com você.

Adeus.

Com amor.
- V.

                                    Continua....