Capítulo 24

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P.O.V Alex

Professora:Bom dia a todos, hoje vamos falar sobre reprodução.-disse a professora de biologia.

Todos sentados nos devidos lugares, encarávamos a professora e ouvíamos atentamente as explicações. Se fôssemos a observar a sala, poderíamos ver o Sam sentado ao lado do Charles, ambos a fazer apontamentos. A Kay e o Chris também ambos concentrados, e o Jake, a tentar ignorar a rapariga que estava ao lado dele, enquanto passava o que a professora dizia.

A aula seguinte é educação física, e as cheerleaders iriam treinar. Um jogo amigável estava programado e elas não falham nem um único jogo. Por falar em cheerleaders, ainda nem perguntei à Mary se ela tinha sido aprovada.

Alex:Mary?-ela olhou-me, e fez uma expressão que dizia que queres?-Não me chegaste a dizer se tinhas passado nas cheerleaders.

Mary:Não é que te importe, mas sim, passei.-eu dei um sorriso fraco.

A aula terminou, e quando todos já estávamos vestidos a rigor para começar a aula, vi a Mary sentada na bancada. Era impressão minha ou hoje ela não iria fazer a aula?

Durante a aula, vi que ela estava a comer bolachas. Pouco depois, quando voltei a olhar, ela já estava a comer mais algum doce. No fim da aula, quando fui ter com ela, ela continuava a comer. Eu diria que ela está nervosa, para estar a comer tão seguido.

Alex:Mary? Não tenho nada a ver, mas tu não costumas comer assim. Isso seria mais eu, não tu.-ela olhou para o pacote que tinha na mão, e pousou-o entre nós.

Mary:É... tens razão nisso. Mas só nisso.

Dentro de mim, eu sabia que uma batalha interior estava a acontecer. Aquela parte carinhosa, sentimental, e carente dela, o coração, quer falar comigo e até perdoar-me. Mas a razão, a cabeça, diz-lhe que ela deve manter a defensiva.

Alex:Mary, está tudo bem.-eu coloquei a minha mão  entre a barriga e as costas, e ela retirou-se por instinto.

Mary:Alex, não comeces. Eu não confio em ti.-disse tentando distrair-me a mim e a ela mesma sobre aquele gesto.

Alex:Eu não preciso que confies em mim. Mas também não precisas de tentar desviar o assunto.-ela baixou o olhar, o que apenas comprovava que algo está errado.

Mary:Eu não desviei nada.-eu franzi uma sobrancelha.

Alex:Não finjas. Eu posso não ter o dom da tua amiga e do Chris, mas eu não sou parvo.-ela suspirou.

Mary:Ok ok, o que queres que te diga? Que tenho problemas? Acho que todos temos.

Alex:Eu quero que tu me digas quais são os teus problemas.

Mary:Para quê? Para tu os espalhares por toda a escola? Não, eu dispenso.

Alex:Não,Mary. Tu tens razão em não confiares em mim, eu também não confio em ti.-ela olhou-me com uma expressão de eu nunca fiz nada para que isso acontecesse.-Apenas faz parte de mim, não precisas de me olhar assim.

Mary:Quando eu tinha 8 anos, eu era uma criança com peso a mais. Eu odiava-me. Eu era gozada na escola, e era olhada de lado em todos os lugares.-fez uma pausa.-Nesse mesmo ano, os meus pais adotaram a Kay, e por razões que apenas ela tem o direito de contar, caso queira, ela começou a bater-me. Quando eu tentava brincar com ela, ou quando eu me aproximava dela, ela batia-me.

Alex:Isso não é correto.-ela deu um sorriso de lado.

Mary:Eu também pensava assim. Mas no momento em que tu começas a conhecer a Kay, tu começas a perceber a razão de toda aquela agressividade. Quando ambas fizemos 11 anos, ela parou de me bater, e desde aquele dia, ela começou a ajudar-me a gostar mais de mim. Então eu comecei a treinar com ela, e hoje em dia eu gosto de mim, muito. Tenho o corpo que sempre quis.

Alex:Ahmm, honestamente eu nem sei o que te dizer. É complicado.-ela assentiu.

Mary:E nestas semanas, sem a Kay, com o pensamento o tempo todo na tua "traição".-fez aspas com os dedos.-Senti-me sozinha, então refugiei-me novamente na comida. Só ontem é que eu e a Kay fizemos as pazes, pedimos desculpa uma à outra. Bem, ela não me pediu em palavras, mas...

Alex:Eu sei, é como o Jake.

Ela deu uma gargalhada, e naquele simples momento, senti que nunca ninguém, mesmo sem saber, me tinha captado tanto a atenção. Nunca seria capaz de ouvir a história do passado de alguém, ou ter vontade de contar a minha história alguém, até porque de certa forma, sinto que lhe devo contar.

Alex:Mary, eu quero-te pedir desculpa por te ter usado, e quero te explicar algo. Eu sinto que tenho de te explicar.

Mary:Ok, diz o que tens para me contar.-Eu respirei fundo, na tentativa de ganhar coragem e não voltar atrás.

Alex:Quando eu tinha 9 anos, eu saía da escola e como os meus pais trabalhavam muito, colocaram-me numa senhora. Uma amiga deles que tomava conta de mim até os meus pais me irem buscar.

A cada palavra que dizia, e sentia que aquelas específicas palavras estavam prestes a ser proferias outra vez, o meu coração apertava.

Alex:Um dia, os meus pais demoraram mais, e... ela... ela abusou de mim.-disse por fim.

Mary:Oh meu Deus, Alex. Eu sinto muito.

Alex:Eu era só uma criança, e a partir desse dia eu comecei a crescer rápido demais, isolado do mundo. E foi quando o Jake me encontrou, ele salvou-me. Eu sei que é estranho ouvir dizer que o Jake salvou-me, até porque ele não tem cara disso. Mas quando ele realmente gosta de alguém, ele faz de tudo para a salvar.-ela olhou para o chão, e naquele momento, pareceu que o seu pensamento voou para outro lugar.

Mary:É estranho mesmo.

Alex:Mary, eu tenho como "estilo", as raparigas como tu, porque na maior parte das vezes elas são virgens, e eu sinto que estou no controle. Quando fodi a Kay, eu não estava no controle...

Mary:Sentiste medo que acontecesse o que aconteceu antes? Porque ela nunca o faria.-eu neguei com a cabeça.

Alex:Não, nada disso. Eu confiei nela, não tive qualquer medo, mesmo não me sentindo no controle. Querendo admitir ou não, ela acabou por me fechar uma ferida que ainda estava muito aberta.-ela abriu um sorriso, algo que eu pensei que não fosse acontecer.

Mary:A Kay tem essa capacidade, mesmo não sendo esse o objetivo dela, ela acaba por fazê-lo. Pena que não se salva a ela mesma.

Mesmo eu querendo saber o porquê daquela frase, mantive-me calado e respeitei. Até porque nisso a Kay é igual ao Jake, salva os outros, mas não se salvam a eles mesmos.

The dealWhere stories live. Discover now