Cruni alto diversas vezes ao perceber que minha esposa não saíra do lugar em nenhum instante. Eu não conseguia vê-la em meio as plantas. Fiz muito barulho e saí pela floresta pedindo ajuda. Felizmente consegui.

Ela tinha desmaiado.

As fadinhas a socorreram e notaram a criança já morta nos seus braços. Todos ficaram desacreditados.

Sophie foi levada para ter seu corpo embalsamado e Malévola ficou sendo cuidada pela sua espécie até acordar, coisa que demorou poucas horas.

Lembro perfeitamente o como ela despertou agoniada, procurando por nossa caçula. Aurora não pôde acreditar quando soube a notícia. Mesmo que estivéssemos todos esperando desde sempre que Sophie iria partir um dia, ainda nos permitimos nutrir falsas esperanças. Eu mesmo tinha feito muito isso.

Mas não deveríamos.

Na cerimônia de despedida do dia seguinte, Malévola praticamente foi arrastada para participar. Ela não conseguia ver o corpo de sua filha sem vida. Não queria.

As trevosas fizeram uma linda homenagem para nossa caçula e ela foi transformada em uma flor da morte, assim como acontecia com todas as fadas da espécie de sua mãe.

Tereza foi a primeira a falar em meio a todo o silêncio que a dor da perda causara nos presentes da cerimônia:

-Sophie partiu... -começou ela, claramente sentindo dificuldades para prosseguir seu discurso –Ela precisou nos deixar, mas antes disso...conseguiu...conseguiu nos ensinar preciosas lições... -as lágrimas a calaram.

Vendo isso, Maynon seu filho deu continuidade:

-Mesmo com pouca idade,Sophie nos ensinou que devemos viver e aproveitar o hoje, pois o amanhã pode não chegar. -ele fez uma pausa, detendo seu olhar no "túmulo" mágico onde as fadas faziam o corpo de minha caçula tornar-se uma vegetação florida  –Ela nos ensinou a vivermos um dia de cada vez da melhor maneira que pudermos.

Olhei para ele e assenti com a cabeça;Maynon conhecera Sophie mas convivera pouco com ela. Só que pelo visto, esse pouco fora o bastante.

Daisy, sua então noiva, começou:

-Sophie ensinou a cada um de nós aqui a viver de verdade. -disse ela –Muitas vezes, podemos achar que somos experientes, que já sabemos de tudo nessa vida e que não precisamos de conselho, mas a verdade é que nós não...não sabemos de nada... -a fada trevosa olhou para baixo – Sophie nos mostrou que o melhor da vida não é ter conhecimentos, riquezas, poder...o melhor da vida... é apenas vivê-la.

Malévola,ao meu lado, cruzava os braços entre si, parecendo distante. Ela observava as fadas soltarem magia pelo corpo de Sophie e a transformarem aos poucos em uma linda flor.

Me vi na obrigação de abraçá-la segurando a parte de trás de seus ombros e colocando minha cabeça em um deles. Gostaria muito de ter boas palavras para dizer a ela, mas não possuía nenhuma sequer. A dor em meu peito também estava imensa.

-Uma vez eu estava com Sophie,observando ela desenhar coisas abstratas em uma pedra – Rustolf embalou as mãos e deu um passo para frente –Ela me convidou para entrar na brincadeira e eu disse que aquilo era coisa de criança...

A atenção de todos se voltou para o rapaz.

-Então...então ela me respondeu que... - ele chorou e espremeu os olhos com os dedos. Aquela que parecia ser sua mãe ao seu lado fez um carinho em suas costas,próximo ao tronco de suas asas –Ela me respondeu que... -ele se recuperou –ser criança é ser feliz e que gostaria de compartilhar essa felicidade comigo. Desde então, descobri que gosto de pintar. E desde esse dia, descobri que a felicidade não é inalcançável. Isso porque ela está nas coisas mais simples da vida.

LOVE-MALÉVOLA E DIAVALWhere stories live. Discover now