Capítulo 25: O Toque Humano

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Foi preciso cada segundo das seis semanas, mas eu voltei para a escola mais curada do que jamais pensei ser possível. As palavras do velho padre haviam lentamente liberado meu pesar e amansado minha culpa. Eu ainda sentia a perda e a solidão paralisante, mas, pelo menos eu fui capaz de aceitar.

Eu também estava começando a aceitar a mim mesma. Eu estava tentando usar minhas visões para controlar minha vida, mas não era esse o propósito delas. Elas eram apenas um olhar a frente. As visões mostravam um futuro possível e podiam mudar rapidamente, mas eu não precisava ser aquela a forçar os acontecimentos que via para dentro ou para fora da sua existência. O futuro iria revelar-se por si só, e as únicas coisas que eu poderia mudar eram aquelas que estavam sob meu controle direto. A compreensão de que eu apenas olhava adiante e não podia realmente controlar o futuro ou mudar o caminho do tempo, libertou-me. Eu não mais sentia a forte compulsão de forçar o futuro a curvar-se perante meus desejos. O que aconteceria, aconteceria. Eu não precisava encontrar a pequena lanchonete, ou forçar meu caminho até o de Jasper. Isso estava decidido, e simplesmente iria acontecer. Algum dia.

Eu odiava “algum dia.”

“Algum dia” não era agora.

Agora eu estava sentada no pequeno restaurante familiar que Emily trabalhava para provar uma Coca de cereja na fonte de refrigerante. Eu estava bastante certa de que eu não gostaria da mistura, mas minha recente visão havia me mostrado o que era o meu “de sempre”: uma Coca de cereja com uma cereja no topo. Emily estava preparando para mim agora.

Dessa vez, quando entrei no restaurante no final de Agosto para dizer oi, Emily me abraçou. Foi muito gentil, mas todos os cidadãos na lanchonete ficaram bem quietos enquanto assistiam ela me agarrar e abraçar forte. Eles sabiam que era de alguma forma errado me abraçar, mas Emily era alegremente inconsciente disso. Na verdade, ela dava um pulinho de alegria quando eu dizia a ela o que eu queria – Eu jamais havia comido em seu pequeno restaurante mesmo que ela me pedisse frequentemente para passar ali – e ela estava agora preparando extasiada a maior bebida que eu já tinha visto.

“Eu simplesmente sei que você vai amar isso, Alice!” Ela estava borbulhando de animação enquanto colocava o enorme copo na mesa.

De repente, eu não estava mais tão certa sobre minhas visões. Eu não estava certa de que queria sentar aqui entre humanos e fazer isso comigo mesma. Eu me forcei e sorri para ela, agarrei o canudo e deu um enorme gole.

Vampiros têm uma sucção incrível.

Drenei metade do copo de uma vez. Claro que foi um pouco demais e os olhos de Emily saltaram de suas órbitas.

“Desculpa,” arfei, enquanto as bolhas estouravam por minha garganta abaixo. ” Eu estava com muita sede hoje.” De alguma forma, consegui sorrir enquanto o troço picante, borbulhante e enjoativamente doce invadiu meu estômago despreparado. Bebidas carbonatadas borbulham ainda mais quando atingem algo gelado, como o estômago de vampiros. Eu me sentiria muito desconfortável até que pudesse colocar aquilo para fora.

Tentei não pensar sobre como seria aquilo voltando e quanto tempo demoraria.

Sorri para Emily e tentei novamente, pensando que talvez o gosto pudesse melhorar para mim, mas o mesmo sabor borbulhante e horrível de cereja continuou.

Nah.

Eu não gostei da minha bebida “de sempre” da visão. Que diabos aconteceu entre agora e o futuro para me convencer de pedir tal bebida?

Tentando não mostrar meu nojo e desconforto ao ter bolhas estourando na barriga, eu sorri para Emily e perguntei como fora o verão dela. Foi como romper uma represa.

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