Capítulo 13: Pequenina e Sofisticada

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Pelos próximos quatros anos minha vida se equilibrou na fina linha entre dois mundos – o mundo dos mortos-vivos e indestrutíveis, e o mundo dos meus dois amigos humanos mortais. Eu deixei todo mundo fabulosamente rico, incluindo a mim mesma, então eu não tinha necessidades com as quais eu não podia lidar. Sempre ao fim de Julho, eu dava um baile de vampiros para celebrar nossa vitória de 1925, ou pelo menos essa era a minha desculpa. Eu daria um baile todo mês, só pela diversão disso. Todo mundo amou tanto a celebração dançante naquele primeiro ano, que isso se tornou um compromisso fixo no calendário social dos vampiros. Vampiros de todos os Estados Unidos viriam a Nova York em Julho e no Natal para dois bailes anuais. Annette e eu, boas amigas em qualquer outro ponto, tínhamos uma competição muito amigável acontecendo entre nós, já que ela era a encarregada do baile de Natal.

Eu fiz cursos por correspondência que me ensinaram como fazer chapéus, broches, jóias, e casacos de tricô. Eu comprei mais roupas do que eu podia usar em um ano – bem, quase – eu encontrei um jeito de usar todas pelo menos uma vez – e me divertia refazendo os guarda-roupas de Annette, Lena, Gerta e Marianne no meu tempo livre. E assim eu esperava.

Eu esperava que as visões ficassem claras o suficiente para me guiarem. Eu conhecia todos os rostos deles, e nomes, Jasper, Esme e Carlisle, e o traidor Edward. Eu esperei para descobrir onde ir para curar meu coração e encontrar minha família, e eu esperei para ver o que mais essa vida estranha tinha guardado para mim.

Eu tinha até ido com Paul e Annette por toda costa Leste e atravessado o Golfo para Nova Orleans em 1926, esperando que essa viagem para o Sul fosse clarear minhas visões, mas elas se tornaram muito menos sólidas quando eu entrei na Carolina do Sul, e só voltaram a clarear quando eu fui de volta em direção ao Norte.

A viagem foi divertida. Atlantic City era fabulosa, e eu amei os cassinos. Eu era ótima na roleta por razões óbvias. As praias da Flórida eram maravilhosas, e minha pele estava quente pela primeira vez na minha vida conhecida. Eu amava a vida noturna e a música de Nova Orleans. Nós dançamos e cantamos e aproveitamos tudo. Paul e Annette foram ver velhos amigos e jantar em Cajun. Eu experimentei jacaré. Enquanto a luta era divertida, o sangue era horrível. Eu decidi nunca mais beber sangue frio novamente e se eu pudesse evitar. Teriam sido férias perfeitas se as visões não tivessem se tornado tão nubladas.

Em 13 de Maio de 1929, Myrtle Dewar faleceu.

“O que eu devo fazer?” eu perguntei aos meus amigos imortais quando sua morte se tornou clara em minhas visões.

“Você sempre tem duas escolhas à sua frente quando se trata de humanos, ” Annette respondeu, “deixe-os morrer uma vez, ou dê a eles uma morte eterna. O que ela iria querer?” Ela era sempre prática sobre essas coisas. Uma escolha me forçava a perdê-la de uma vez, e a outra a perder a vida dela para sempre. Quando Annette colocou isso dessa forma, ficou claro para mim o que eu tinha que fazer. Então, eu simplesmente deixei acontecer, e ela faleceu durante seu sono.

A morte dela me causou mais dor do que eu teria sonhado ser possível. A morte dessa mulher mortal me fez me sentir mais sozinha e vazia do que eu jamais me senti desde que eu acordei há nove anos atrás. Eu agora entendia o aviso que Annette me deu na primeira noite que nos encontramos, se aproximar de humanos acarretava um alto custo, e eu estava achando isso difícil de pagar.

Myrtle deixou sua herança dividida entre mim, Herbert e Edwina. O gesto me fez sentir mais ainda a falta dela, e era muito doce, mesmo que eu não precisasse do dinheiro. De acordo com as regras de herança de vampiros, eu e o clã do Paul dividimos a herança de Michael e Brittany igualmente. Os vingadores de um clã destruído levava as propriedades daquele clã, e minha parte era de dois milhões e meio de dólares. Com isso e o dinheiro que eu fiz no mercado de ações, eu poderia viver várias centenas de anos sem precisar trabalhar.

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