Capítulo 03: Selvagem

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Eu não tinha idéia do que eu estava vendo. Meus olhos se abriram para uma cor estranha que eu não acho que eu já tenha visto antes. Era tão clara e maravilhosa que eu apenas fiquei olhando para ela por um longo tempo. Eu percebi que havia uma luz no meio desse azul magnífico, e que a luz era muito mais que linda. Era cheia de cores que eu nunca soube que poderiam existir. As cores me hipnotizaram enquanto eu as olhava mudando. Em algum lugar bem no meu interior eu sabia que esse era o céu e que essa luz era o sol, e eu estava vendo-os com meus olhos, mas de alguma forma, eles pareciam todos errados. Eu apreciei a luz e a cor. Eu olhei até sentir uma sensação estranha em volta da minha boca. Eu toquei a área em torno dela e percebi que meu rosto estava sorrindo.

Então percebi que as folhas acima de mim estavam bloqueando parte do céu. Eu podia ver cada folha como uma coisa separada – cada uma tinha seu padrão único em suas formas e seu próprio tom de verde. Haviam aranhas e teias e besouros nas folhas e nos ramos. Eu segui seus caminhos pelo tronco. E então eu vi a floresta.

Eu me sentei para ver melhor à minha volta, mas me movi totalmente errada. Foi muito rápido, e tomou muito pouco esforço. Eu olhei para minhas mãos e arfei quando vi que refletiam as cores que eu vi no sol, mas em um milhão de pedaços diferentes. Eu toquei a superfície brilhante da minha pele. Era tão lisa e dura, e ainda assim se moveu sob meu toque enquanto eu observava a luz brincando nela. Eu brilhava como o orvalho nas teias de aranha na árvore. Na minha mente, algo me alertava que isso estava errado. Eu pensei que eu me lembrasse que minha pele não se parecia com isso, mas o fantasma da memória não me disse como ela se parecia antes. Eu tentei puxar a lembrança de mim mesma para fora da minha tão alerta mente, mas não havia memória lá, apenas partes soltas de conhecimento, mas sem lembranças de como eu tinha conseguido esse conhecimento. Eu sabia os nomes de algumas coisas, mas não conseguia me lembrar de já ter visto elas antes.

Como eu sabia que o disco era o sol e que as coisas verdes eram as folhas, se eu não os tinha visto antes? O que aconteceu comigo? O que eu era? O que eu me tornei? Eu sabia de alguma forma que isso não era o que eu costumava ser, mas eu não podia me lembrar do que eu era. Eu estava muito confusa.

Eu pensei novamente no momento em que eu acordei. Minha mente rápida sabia que eu tinha acordado a apenas sessenta e nove segundos e meio, mas eu já estava começando a ver o mundo à minha volta mais claramente. Eu parei de olhar para tentar me lembrar do que aconteceu antes de eu acordar. Então, sem avisos, minha mente vazia foi preenchida com uma única imagem do rosto de um homem. A imagem levou todos os meus sentidos e envolveu a minha existência. O rosto estava ligeiramente fora de foco, mas eu podia ver seu cabelo loiro e seus olhos tristes claramente. Quem quer que fosse, ele era mais importante do que qualquer coisa que existia no lugar em que eu acordei. Eu precisava desse homem mais do que eu precisava de qualquer outra coisa, eu sabia disso com todo o meu ser. Esse conhecimento me deixou com um buraco doloroso no meu coração, um rasgo que só poderia ser fechado por ele. Todo o meu peito doía, e eu sabia que eu estaria ferida até eu encontrá-lo para me curar.

Antes que eu estivesse preparada, o rosto sumiu. Eu me sentei imóvel, mergulhada na emoção de vê-lo e esperando que a imagem retornasse para me dar mais informação. Quem era ele? Isso era algum tipo de lembrança?

Não, e sim. Se ele não era uma lembrança, o que era ele? O rosto era familiar, mas não era uma memória. Eu senti como se fosse totalmente diferente de alguma coisa no passado. Eu procurei em minha mente novamente, mas não encontrei nada que eu poderia reconhecer como lembranças. Havia conhecimento, mas não memórias.

Medo começou a tomar conta de mim. Eu não sabia nada. Eu não tinha idéia de quem eu era. O mundo inteiro à minha volta era totalmente e completamente alienígena.

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