Capítulo 15: Concha

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Minha máscara tornou-se minha concha. Minha concha tornou-se eu. Eu me movia como a Alice feliz, agia como a Alice feliz, ria, falava, dançava e comprava como a Alice feliz. Ninguém sabia ou nem suspeitava que a Alice feliz foi reduzida a pó.

Eu queria dizer à eles, compartilhar a dor de perder Jasper, mas eu não podia sem compartilhar o tamanho real de meu dom inútil. Quando eu estava com os outros, especialmente Paul, era fácil apenas confiar na força deles e imitar sua alegria. Paul estava feliz com minha escolha. Seu dom pressionava a crença de que eu tinha feito a coisa certa sobre minha concha e tornou-a ainda mais forte. Não me importava que fosse a felicidade e o prazer de Paul, seu dom deixava-me fingir que eram minha felicidade e prazer.

“Há uma diferença enorme entre Londres e Paris,” minha concha reparou quando cruzamos o rio Sena.

“É como dia e noite para mim,” respondeu Annette. “Cada prédio e placa na rua tem uma beleza própria em Paris. Verdadeiramente, a cidade das luzes,” ela suspirou.

Londres, Lisboa, Madri, Toulouse, Bordeaux, Lyon, Paris. Minha concha correu pela lista, e as claras recordações. Passamos três meses em cada e agora eu falava português, espanhol e francês. Visitamos museus, castelos e velhos amigos do clã. Cada cidade continha uma mágica para mim que a concha podia ver mas não tocar realmente. Era um desperdício patético.

“Você quer praticar de novo hoje a noite, Alice? Você poderia ser uma bailarina de primeira se quisesse, você sabe,” ela disse enquanto me trazia de volta das memórias de outros lugares. Ela sorriu orgulhosamente para mim. Ela estava certa, a concha era quase tão boa quanto ela. Ambas apreciamos dançar nos estúdios de Paris, mas mais ainda, gostávamos de dançar nos clubes noturnos. Como Nova Iorque, Paris nunca dormia. Annette e Marianne fizeram questão de que a concha conhecesse cada vampiro disponível na Europa, e dançamos com todos eles. Era a coisa mais difícil que a concha teve que fazer, ter conversas agradáveis e desinteressantes com pretendentes em potencial.

“Sim, eu adoraria isso,” a concha sorriu de volta, “precisamos mesmo partir em breve?” Parisienses eram um tanto deliciosos.

“Há tanto ainda para ver. Além do mais, não podemos ficar aqui para sempre, a população já está estressada.” Havia cinco clãs atuais em Paris e eles brigavam constantemente. A paz de Nova Iorque era um tributo a liderança de Paul.

“Tem certeza sobre Berlin?” Hitler deixava minha concha nervosa. As visões estavam ficando mais claras.

“Não se preocupe. O que eles podem fazer contra nós?” Marianne me repreendeu. Elas estava certa, claro. Eles todos estavam certos de que meu medo de Hitler era infundado. Ele tinha muito de vampiro em sua conduta e a maioria dos outros o viam como um líder forte e bom.

“Mais duas semanas é tudo de compras que podemos aguentar,” lembrou um Gregorio muito entediado, “juro que vou entrar em combustão espontânea se ver outro desfile de moda.” Ele odiava fazer compras mais que qualquer outra coisa e ele também odiava Paris mais que qualquer outro lugar.

Bruxelas, Helsinki, Berlin. Ficamos apenas três semanas em Berlin porque nem eles puderam aguentar por muito tempo. A cidade estava incrivelmente opressiva, então nos mudamos rapidamente. Zurique, Milão, Toscana, Bologna, Roma.

A concha aguentou firme. Agora falava alemão, sueco e italiano.

“Você devia ir conosco, Alice. Eles vão querer te conhecer, e eles não são tão ruins assim.” Marianne mentiu, quase implorando para que eu os acompanhasse. Se eles não eram tão maus, por que ela estava tão nervosa?

Estávamos em Roma e era hora de ir ver os Volturi. Todos eles tinham tentado me levar a cidade de Volterra, mas a concha segurou firmemente à crença de que não deveria ver os Volturi ainda. Além do mais, meus amigos insistiram em ir primeiro ver a Missa de Páscoa do Papa, o que não era exatamente um bom sinal. Se nada de ruim iria acontecer na pequena cidade de Volterra, porque eles insistiram absolutamente em ir à missa com o Papa de antemão?

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