Capítulo 01: Garotinha Perdida

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De algum lugar muito distante, alguém estava chamando meu nome. Eu podia ouvir a frenética menina gritando para mim, ” Alice! Alice! Você tem que acordar! ” Sua voz misturada com a visão recuada que me engolia. Eu tentei sair da visão, mas eu não podia deixar completamente as imagens e sons rodopiando que tinham me tornado impotente novamente. Lentamente, a visão da família na carroça, os gritos, e o rio revolto enfraqueceu e me dei conta de onde eu estava.

A voz era da minha irmã, e eu estava deitada de barriga na estrada de terra. Eu sabia disso por causa do sabor misto de sangue e terra em minha boca. Outras vozes frenéticas estavam agora perceptíveis na área ao nosso redor.

” Ela está bem?” , Perguntou uma mulher cuja voz estava estridente de medo.

” Ela precisa de um médico? O que há de errado com ela? ” Esta era uma voz de homem que parecia com raiva ou em pânico, eu ainda não podia dizer qual.

Eu virei e me sentei. Pelo menos não havia nenhuma dor dessa vez. Eu olhei para a família no vagão e fiquei imediatamente chocada ao ver que eles pareciam ter estado da minha visão. Eu os encarei em mudo reconhecimento.

” Querida, você está machucada?” A mulher estava me perguntando. Eu não podia responder, eu só olhava para seus rostos familiares.

” Minha irmã tem ataques às vezes, como epilepsia ou algo assim. ” Eu era grata pelas mentiras rápidas e habilidosas de Cynthia. ” Ela vai ficar bem, senhora. Não se preocupe senhor, eu vou levá-la para casa, para a nossa mãe. ” De repente, ela e o homem estavam me ajudando a ficar de pé. Meus joelhos queimaram com os arranhões novos, e meu vestido estava rasgado onde eu tinha raspado através do material. Mamãe ficaria furiosa.

Muito rapidamente, a família subiu de volta em sua carroça velha e foi na direção do rio próximo ao porto. Eu queria avisá-los e fazê-los parar, mas o que poderia fazer uma garota de treze anos de idade? Eles nunca me escutariam, e eu não estava sempre certa do que eu via nessas visões – não mesmo. Era como tentar discernir uma cor em meio a névoa profunda que tínhamos aqui em Biloxi o tempo todo. Nunca havia o suficiente para saber ao certo o que estava acontecendo, apenas o suficiente para me colocar em um transe, aterrorizar minha mãe, e enfurecer meu pai.

“Alice?” Cynthia estava hesitante. “Alice, temos que te levar pra casa.” Seus olhos ainda estavam cheios de medo do meu quase acidente – o acidente que eu nem sequer me lembro.

Sua voz me trouxe completamente de volta ao presente. Eu podia sentir o calor úmido do dia pressionando na minha pele molhada. A maior parte dos meus braços e pernas estavam agora incrustado com a terra da estrada que grudou ao suor pegajoso que sempre era uma parte dos dias de verão aqui. Felizmente, o meu longo cabelo estava em duas chiquinhas, por isso não estava embaraçado e grudando na minha pele também. Meus joelhos, mãos e lábio inferior estavam sangrando.

“Desculpe Cynthia, eu sinto muito. Isto não deveria ter acontecido, eu sinto muito. ” Eu estava prestes a chorar. Como eu iria conseguir passar por mamãe desse jeito?

“Não se preocupe com isso Alice,” ela murmurou. Não era justo com ela e eu sabia disso. Nenhuma criança de dez anos deveria ter que ser tão responsável por sua irmã mais velha. Eu não deveria ter pedido a ela para vir, mas depois que eu acordei, eu estava tão feliz que ela estava aqui.

“Quão ruim foi?” Eu perguntei em um sussurro. Eu não tinha certeza se eu queria saber.

“Você apenas parou. Parou bem na estrada com a carroça chegando! Eu quase não te empurrei a tempo”, ela quase chorou em sua frustração. Ela me olhou por baixo da sua pesada e escura franja e suspirou: “O que foi dessa vez?”

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