Capítulo 05: Vampira ?

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Durante o verão, outono e começo do inverno, eu vaguei e cacei na área ao redor de Ozarks, e nas profundas matas do Arkansas e norte do Mississipi. Eu caçava apenas quando precisava e deixava minhas visões me alertarem caso humanos estivessem perto demais. Cada vez que eu tomava uma vida, ou mais de uma, sentia-me menos como eu mesma e mais como o monstro dentro de mim. Cada morte matava um pedaço de mim. Eu não queria machucar essas pessoas. Muitas vezes, eu podia vê-los vivendo suas vidas ou suas famílias de luto por suas perdas em minhas visões. Doía caçar alguém cuja vida eu podia ver.

Apenas outras duas visões pareciam importantes para mim. Eram frustrantemente nebulosas e incertas, e mesmo não fazendo sentido para mim, eu sabia que eram importantes. A primeira, claro, era do homem alto e loiro que estava passando por uma porta. Só pude ver esse tanto, isso seria quando finalmente nos encontrássemos, ele entraria por uma porta. Ele era importante, mais importante que qualquer outra coisa, e eu nem sabia seu nome ainda. Mal podia ver seu rosto claramente. Queria muito ver sua face. Era o suficiente para me enlouquecer, ou pelo menos me deixar mais louca do que eu já era.

A segunda visão era ainda mais estranha, se isso fosse possível. Podia ver homens correndo na floresta. Eles corriam mais como os lobos que eu tinha visto na floresta, do que como homens que já vi. Os dois perseguiam algo grande, como um veado ou talvez um urso, e eram mais rápidos que o animal que perseguiam. Novamente, não pude ver seus rostos, apenas suas costas e cabelos. Um era loiro e o outro tinha uma cor incomum de castanho claro avermelhado. Para mim parecia que estavam caçando animais, mas sem as armas que os caçadores de que já me alimentei usavam.

Também percebi, enquanto assistia minha presa e os poucos humanos que tinha visto, que nenhum deles parecia ter imagens ou visões, e nunca paravam como eu fazia para ver coisas em suas cabeças. Então, ou eu era um ser único ou uma verdadeira lunática. Talvez eu fosse as duas coisas.

Ao final de dezembro, eu havia começado a me aproximar de vilarejos e pequenos povoados. Os caçadores, alpinistas, vagabundos e andarilhos de quem me alimentava estavam ficando mais e mais raros nas matas conforme o inverno se instalava. Eu havia descido próximo a uma pequena cidade no norte do Arkansas que era aninhada entre várias colinas. Eu estava no cume de uma delas, para que não machucasse ninguém sem querer, e eu assistia e esperava para escolher uma pessoa remota para saciar minha dolorosa sede.

Enquanto observava as pessoas irem para suas casas sob o crepúsculo, vi um vulto mover-se na rua que forçou-me a ficar de pé, inclinada e alerta. Ela era pequena e com um cabelo curto e preto, como o meu, mas não era a única semelhança. Eu sabia, mesmo distante, que ela era como eu. Ela andava graciosamente demais, sua pele era branca demais e cada nervo do meu corpo gritava que ela era perigosa como eu era. Meu corpo e meus instintos disseram-me para correr ou para lutar. Não havia uma terceira opção, mas eu estava presa no lugar. Eu precisava ficar e observar.

Minha mente estava repleta do entendimento de que eu não estava mais completamente só. As únicas outras pessoas que eu havia conhecido eram minhas presas. Mesmo esses que não matei, estavam tão em perigo que eu nem podia pensar em me aproximar deles. Ainda assim, aqui estava outra como eu, e ela estava em meio aos humanos. Eu tinha que ver como essa outra de minha raça podia caminhar pela rua de uma cidade sem pular na garganta mais próxima.

Enquanto a observava, ela desceu pela rua principal e entrou em uma loja. Eu não podia acreditar, e comecei a descer o pico rapidamente para ver se eu estava certa – que ela havia entrado em uma loja com pessoas.

Com certeza, depois do que pareceu uma eternidade, ela saiu carregando várias sacolas com o que pareciam ser roupas. Eu senti uma pontada estranha de ciúme que parecia muito fora do lugar, e continuei a observá-la. Ela foi até um parque próximo ao jardim da escola, colocou as sacolas entre duas árvores e rapidamente virou para correr de volta por entre os becos das casas, para o outro lado da cidade. Ela agora se movia tão rápido que nenhum humano poderia vê-la, mas eu não podia deixá-la desaparecer. Eu tinha que pegá-la!

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