CAPÍTULO 26

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MICHAEL

– Você estava certo. – Disse o delegado, um pouco a contragosto.

– Eu sei, mas pra mim foi difícil entregar minha irmã, por mais que ela tenha feito algo de ruim comigo. – Eu ainda estava triste pelo que ela armou.

– Não sei se você foi esperto (ou precavido) o suficiente para provar sua inocência. – O delegado soltava um sorrisinho.

– Também não sei, mas ainda bem que elas estavam lá. – E fui em direção à saída da delegacia.

– Há mais uma coisa: esta carta que encontramos com Rogers, quando o prendemos, estava destinada a você. Olhei-a, era de Valentina. Não poderia ouvir mais seu nome que minha cabeça doía; ela não acreditou em mim. Mesmo assim, peguei o envelope e fui embora.

Refleti sobre o que ele falou sobre o fato de eu provar minha inocência. Só consegui provar minha inocência por um simples motivo, que fez com que tudo que Scarlett disse sobre mim caísse por terra.

Quando a encontrei viva, temi muito por sua segurança. Isso era um fato, ainda mais depois que ela disse que tinha problemas mentais. No começo fiquei balançado, não sabia se acreditava nela; então, fiz algo que salvou minha pele agora.

Após minha irmã dizer sobre esses problemas, temi que ela fugisse da casa onde estava, que ela fez questão de ficar. Eu sabia que não poderia ficar com ela 24 horas por dia; então, sem que ela percebesse, coloquei duas câmeras no interior da casa. E desde então elas ficaram lá, sempre as deixei em um local bem escondido, e, como agora fui libertado, sei que ela nunca desconfiou delas.

Na verdade, foi uma maneira de monitorar sua situação, até porque eu nunca vi as filmagens. Não tinha o porquê de vê-las. Todos os dias em que ia até o local, Scarlett estava lá; então, nunca se fez necessário olhar as gravações, e até havia me esquecido das câmeras, para falar a verdade. Só iria olhá-las se eventualmente Scarlett fugisse, o que não ocorreu.

Mas, depois de ela me incriminar, não me restou outra alternativa a não ser dizer sobre as câmeras para o delegado, pois não preciso (e nem mereço) pagar por algo que nunca fiz.

Na verdade, o que me dói ainda é o fato de o delegado falar que tudo havia sido planejado por ela, juntamente com Rogers. Ele disse que os dois se encontravam quase todo dia no local e faziam planos para me incriminar. Falaram muitas coisas sobre Valentina, e foram eles que tiveram a ideia de Rosie entregar os bilhetes pra Valentina – parece que havia alguma dívida entre Rogers e Rosie. Como não deu certo, bolaram esse plano quando ela veio novamente à cidade.

No começo, quando conheci Valentina, Scarlett ficou com medo de que seu plano não desse certo e tentou afastar a minha amada de mim. Nem desconfiava que Rogers ficava de olho em meus passos e, quando percebeu que os bilhetes surtiam pouco efeito sobre Valentina, ela fora muito inteligente e pensou de outra maneira – usou Valentina de isca –, e então aconteceu este episódio na casa. Tudo foi perfeito, a não ser pelo fato das câmeras no local; essa foi sua perdição.

Agora, finalmente estou livre. Na verdade, o que sinto é estranho; ultimamente não ando me importando com nada. Era necessário somente provar minha inocência. Sei que não terei a pessoa que quero ao meu lado; depois de tudo que passamos, Valentina não acreditou em mim. Fiquei devastado, mas seguirei minha vida; sei que nunca irei esquecê-la e, sinceramente, nem quero. Quero lembrar todos os momentos bons que passamos juntos – pelo menos os bons.

Irei me mudar daqui. Tenho uma propriedade onde sempre quis morar, que fica em outra cidade. Ainda não havia ido pra lá por causa de minha irmã, mas nada dessa vez me impede de morar naquele local. O mais longe de Notre Ville é o melhor pra mim. Espero que Valentina um dia possa ser feliz. Tentei de tudo para ficarmos juntos, infelizmente não deu certo; se ela algum dia souber interpretar perfeitamente a última carta que enviei para ela, um dia ela me encontrará.

Não sei por que fiz isso, na verdade; estava abalado. Se eu escrevesse esta carta agora, não colocaria o que coloquei lá, não quero que ela me procure. Mas já foi, já escrevi, não tem como voltar atrás. Valentina não acreditou em mim em um primeiro momento, cansei de ficar correndo atrás de pessoas que saem da minha vida rapidamente. Olhei de novo para o envelope com a carta que Valentina havia me enviado enquanto estava preso e decidi algo: Não irei lê-la.



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