Capítulo 19

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UMA SEMANA DEPOIS

MICHAEL

Nessa semana que passou pude pensar e percebi o quão idiota fui com Valentina ao telefone; não devia ter falado com ela da maneira que falei. Estava preocupado com várias coisas... sei que não estou sendo sincero suficiente com ela, quero lhe contar a toda a verdade sobre mim, mas a verdade é que não tenho coragem. Mesmo assim tomei uma decisão: gosto demais dela para perdê-la, não posso ser um idiota igual eu fui.

Nessa semana pensei, repensei, e decidi que irei contar a ela toda a verdade. Antes não gostei da ideia das cartas por parte dela, mas peguei gosto pela coisa. Resolvi escrever uma carta, mas sei que será difícil contar o que preciso.

Olhei o papel em branco. O que eu iria escrever nesse momento? Do nada não sei o que fazer, não sei o que falar, não sei nem o que pensar. É tudo difícil. Como posso contar toda a verdade pra ela assim? Ela nunca irá me perdoar por esconder esse tipo de coisa dela, e, além de tudo, ainda posso comprometer todo o resto da minha vida. Mesmo assim, resolvi escrever a ela.

Valentina, não sei o que há comigo. Sinto uma sensação estranha, um misto de medo, excitação, pavor... é complicado descrever isso. Tento me manter estável, forte, mas não sei o que fazer. Estou com receio do que estou sentindo... é difícil descrever essa situação.

Me desculpe o modo que te tratei no telefone. Até agora estou receoso, não tive nem coragem de ligar pra você, tamanha a vergonha de mim mesmo, do que estou sentindo.

Quando relembro meus momentos com você, tento disfarçar um sorriso em meu rosto a cada dia que passa, mas sinceramente não consigo. O efeito que você causa em mim é algo sobrenatural, incomum. Tenho tanto o que lhe falar... mas quero que seja pessoalmente. Você despertou em mim um desejo insano, e não sei mais esconder o que penso e sinto. Eu te almejo, preciso de você, quero te ter ao meu lado. Nunca senti o que estou sentindo agora! Você é a pessoa que irá me completar, a pessoa com quem quero passar a vida ao lado. Estou me sentindo leve; o vazio que sentia deixou de existir a partir do momento em que lhe conheci profundamente... não consigo deixar de ter você em minha cabeça. A cada dia que passa, a cada dia que passamos juntos, é como se fosse algo mágico, não sei lhe explicar, e nem pretendo. Quero que saiba do quão importante você é e se tornou em minha vida. Não há palavras para descrever o que estou sentindo no momento, não há como expressar esses sentimentos em cartas, e sim pessoalmente.

Não posso falar que lhe amo, mas, com a força do sentimento que está presente em mim, sinto que você é a pessoa certa para amar.

E você está certa: irei lhe contar o que se passa comigo. Eu confio em você, Valentina, confio muito, e você merece saber toda a verdade... me desculpe novamente se fui grosso ao telefone. Se você puder, venha aqui pra cidade esta semana e lhe prometo que lhe esclarecerei tudo. Saiba que você está sempre em meu pensamento. SEMPRE!!!

***

VALENTINA

Ficamos sem nos falar por essa semana. Tive vontade de ligar pra ele, mas, ao me lembrar da nossa última conversa, vi que ele fora um estúpido, essa é a verdade. Se ele quiser, ele me liga, e que me peça desculpas, pois não fiz nada para ele me tratar desse jeito. Foi a primeira vez que Michael agiu feito um idiota, e espero que seja a última.

Hoje recebi a carta de Michael. Ao recebê-la primeiro fiquei surpresa, e depois feliz. Após a nossa última conversa pelo telefone, o clima havia ficado estranho; o jeito que ele estava falando me incomodou mais do que o normal.

Só que agora me sentia melhor. Michael estava disposto a me contar o que ele tanto guarda pra si. Quero ajudá-lo no que precisar, por isso tomei a decisão de ir pra Notre Ville no final dessa semana; iria já amanhã para lá. Primeiramente arrumaria algumas coisas aqui em minha cidade. "Tomara que essa semana minha valha a pena", pensei comigo.

No dia seguinte, me programei de ir pela tarde para Notre Ville. Todas as minhas coisas já estavam arrumadas, mas pensei em passar na casa de Lilian e contar sobre os últimos acontecimentos acerca de Michael. Ainda não havia dito a ela sobre a nossa última conversa, e estava bastante receosa a esse respeito. Quando me encaminhei para sair de casa, senti meu telefone vibrar; olhei e era Michael me ligando. Não pude conter o sorriso em meus lábios.

– Oi, tem alguém me ouvindo, pelo amor de Deus? – Uma voz feminina gritava ao telefone.

– Alô, quem fala? – Perguntei confusa.

– Pelo amor de Deus, me ajude, não tenho muito tempo. Ele irá voltar, por favor, me ajude. – A pessoa parecia desesperada.

– Quem é? Não estou entendendo nada, me diga o...

– Me escuta, anota o que irei lhe falar com calma, pelo amor de Deus. – Fez uma pausa. – Na saída de Notre Ville, perto da biblioteca, vire à direita e depois pegue a primeira à esquerda. Você verá uma casa amarela e vermelha, entendeu?

– Sim, mas pra quê? Onde Michael está, eu... – Ela me interrompeu novamente.

– Meu celular é bloqueado, só posso ligar pra ele, por isso consegui pegar o celular dele. – Ela falava rapidamente. – Ele está voltando, por favor, me ajude. Ele irá ver que eu peguei o celular dele, por favor, venha rápido! – E desligou. Não chame a polícia daqui, ele conhece todos os policiais, ele vai me ma... – E desligou.

A chamada caiu. Tentei ligar novamente para o celular de Michael na esperança que essa pessoa atendesse, e nada. Liguei também para o hotel, e Michael não estava lá. Tomei uma decisão... Lilian teria de esperar. Saí imediatamente de Deverland e fui em direção a Notre Ville. Estava com boas expectativas sobre o dia, estava com esperança de poder ajudar Michael de alguma forma, estava certa de que tudo iria correr bem e de que o peso que ele carrega nas suas costas iria se dissipar. Só que essa ligação que não havia entendido me fez sentir algo estranho no peito.

Chegando a Notre Ville, fui ao hotel procurar por Michael, só que ele não estava lá. Jéssica disse que havia saído de manhã e não havia voltado. Esperei-o por algum tempo. Michael não chegava; então, comecei a ficar preocupada, lembrando toda hora da pessoa que havia me ligado. Tentei organizar meus pensamentos; estava ficando um tanto quanto desesperada... O que faço?

A verdade é que imediatamente a imagem do que aconteceu com Isaac me veio à cabeça. O pavor tomou conta de mim... comecei a tremer, não sei o que fazer! Preciso me acalmar. Desse jeito que estou, não irei conseguir pensar em nada direito.

Sentei-me, recordei a ligação e o que estava acontecendo. Michael fora resolver alguns problemas e até agora não voltou; preciso tomar uma decisão. Ela disse pra não chamar a polícia, mas por quê? Não consigo entender o que está acontecendo. É a vida de uma pessoa que está em jogo, preciso tomar uma atitude. Foi o que fiz: avisei a Jéssica que iria dar uma saída e, se Michael perguntasse de mim, pedi para ela dizer que só dei uma saída.

Pedi a ela se poderia olhar uma informação no computador do hotel. Pesquisei sobre os dados que a pessoa havia falado por telefone para mim. O local ficava bem perto daqui; imediatamente peguei meu carro e fui até lá. Meu coração palpitava, mas prometi a mim mesma ser forte. Chega de ficar correndo das coisas... tenho que enfrentar meus medos!

Peguei meu carro e fui ao local que a pessoa havia falado, na saída de Notre Ville. Estava com medo, confesso, mas irei superar. Fui o mais rápido que pude, meu velocímetro bateu 140 km/h. Estava confusa... o que me esperaria no local? Mas eu tinha de salvá-la, independentemente de quem fosse.

Passei pela saída da cidade e virei à direita, como foi falado pra mim, depois peguei a primeira à esquerda. A casa que ela falou, de cor vermelha e amarela, estava lá... meu coração disparou. Meu Deus, o que faço agora? Estava trêmula, e meu coração disparava mais ainda, conforme o tempo passava. Me aproximei da casa... a porta estava aparentemente trancada, como poderia abri-la? Neste momento cheguei mais perto da porta. Era uma porta velha, e nela tinha um buraco de mais ou menos uns dez centímetros. Foi nessa hora que vi uma das coisas mais assustadoras da minha vida: uma pessoa acorrentada, machucada e cheia de sangue.

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