Alma em estilhaços

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𝙻𝚘𝚐𝚊𝚗.

Cheguei do trabalho após pegar Samuel na escolinha, Julian também veio comigo, deu carona para nós com o carro do Leonel, que por sinal disse que pretendia vir nos visitar no final de semana, cheirava a algum interesse maior estes empréstimos do carro dele para Julian, também sabia que andava dando dinheiro para ele e presentes ao Samu, como eles nunca precisaram de nada dele...não seria agora que aceitaria aquilo.

— Emma, cheguei! — Falei assim que girei a maçaneta após enfiar a chave na fechadura, meus irmãos atrás de mim.

Quando percorri os olhos diante daquela sala, entrei em choque — fiquei paralisado.

Tudo estava revirado como se um furacão tivesse passado ali, uma mancha de sangue no tapete, facas jogas pelo chão...

— EMMA. — Gritei desesperado, disparando para os outros cômodos em busca da minha namorada, meu peito foi esmigalhado com tanta força que quase senti sangue subindo pela garganta.

Julian tampou os olhos de Samu, o protegendo em sua perna, assustado.

Verifiquei todos os cômodos com uma rapidez que não sabia de onde veio.

Minha angústia me engoliu, quase desabei de joelhos pela possibilidade dela ter sido levada ou algo pior...

— LÁ EMBAIXO, LOGAN. — Berrou Julian eufórico, observando a vista da janela.

Sai correndo sentindo a adrenalina embaçar minha visão e arder meus ossos.

O céu parecia cair sob meus ombros.

Nem a chuva, nem trovões, nada me importou, somente ela caída na grama, suspirando com dificuldade —, ao lado dela, Micaela estava caída, desacordada.

Cogitei pegar o corpo dela em meus braços, mas hesitei por prudência, poderia ter fraturado algum osso na provável queda.

Aquilo quebrou minha alma.

— Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem meu anjo, estou aqui, aguente firme... — Minha voz foi sumindo diante daquela visão, Emma estirada sob a grama que era umidecida pela chuva fraca que iniciava.

Pavor se instalou em mim por inteiro.

Julian surgiu feito um flash, checando se a filha de Charles, de bruços no gramado, estava respirando...se estava viva.

— Está viva! Chamei a ambulância! — Proferiu meu irmão ajoelhando diante dela.

Eu tremia tanto que mal consegui me manter de pé, a garganta fechou, o estômago foi agredido por socos invisíveis, a visão turva...quem que que fosse o responsável por aquilo, era mais um em minha lista...mexeram com ela, mexeram comigo —, tocaram nela; mortos.

A chuva molhava meu anjo fazendo sua face pálida virar uma pintura triste, Emma respirava com dificuldade, os olhos estáticos, perdidos...a boca ferida.

Eu queria gritar até tudo esvair da minha alma...mas minha alma foi quebrada.

Acariciei o rostinho dela, a expressão mórbido e distante me feria tanto.

Os dedos em cima da barriga, desajeitados...nosso filho, nosso bebê...

Novamente, eu estava perdendo ela.

Novamente o cenário se repetia.

Perguntei ao destino; por que.

Por que eu não podia ser feliz.

Por que tinha que passar por aquilo.

Por que...

Mais se sete bilhões de pessoas no mundo...eu e ela tínhamos que sofrer daquele jeito...era injusto.

Eu encontrei o amor da minha vida, e o mundo conspirava contra nós.

Não sabia se seria um bom pai, apesar de ter praticamente criado Samuel e Julian, não sabia se nós um dia teríamos paz.

Uma família.

Apenas queria estar com ela, sem crueldade, sem ganância, sem dor.

— Fica comigo, fica comigo...vamos criar nosso bebê juntos, a Raven, a Natasha, o Samuel...eles precisam de você meu anjo. — Acariciei sua bochecha lívida, tremendo tanto, os olhos mal contemplavam seu rosto com nitidez, havia virado um borrão em meio às gotas de água da chuva que me encharcavam, meu coração gritava, gritava tanto —, e eu não podia fazer nada...

— Elas vão ficar bem irmão, os paramédicos já estão chegando. — Julian me abraçou com força, ajoelhando do meu lado, Samuel correu para dentro assustado.

Aquele cenário traumatizaria a criança.

Torci para que não como eu, fui traumatizado, pelas surras do Leonel.

Ou quando me forçou a beber, ou quando humilhou minha mãe na minha frente e eu não pude reagir, não pude enfrentá-lo.

Eram tantas as ocasiões, nem dava para citar sem demorar pelo menos dois dias.

Nunca precisei dele, nunca o quis por perto —, porém, meu filho e a mãe dele precisariam, sem nenhuma hesitação —, estaria lá por eles, para eles...sempre.

Desde quando o sol nascesse até quando a lua viesse subir ao horizonte e parar no céu acompanhada das estrelas. Família.

Falhei, falhei de novo, não os protegendo.

Se algo acontecesse com eles, eu não sei se aguentaria viver com aquela culpa...

𝙹𝚞𝚕𝚒𝚊𝚗

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𝙹𝚞𝚕𝚒𝚊𝚗.

Lívia parou a a curta distância, do meu lado e suspirou, observando a Emma.

Já tinha sido atendida e a partir dali, teria que ficar de recuperação no hospital.

Nem imaginei o quão doloroso seria acordar novamente no hospital depois do coma, e ainda contar tudo que houve...

— O bebê está bem? — Perguntei dirigindo o olhar a bela mulher do meu lado.

— Não sei se foi milagre ou algo do tipo, mas ele sobreviveu...Emma deslocou o ombro na queda, mas já conseguimos cuidar disto...eles ficarão bem com repouso. — Me senti aliviado por isso, a Doutora sorriu fraco para mim e antes que fosse sair, eu segurei seu pulso a fazendo ficar pasmada por tal atitude da minha parte.

Ela não recuou ou encolheu-se, parecia querer tentar se acostumar ao toque.

— Obrigada, Lívia. — Agradeci sorrindo curto, soltei seu pulso depois de alguns segundos e ela apenas moveu as pálpebras em resposta, saindo do quarto apressada.

Liars and treacherous looks|Trilogia Dangerous, livro IIWhere stories live. Discover now