O tic-tac do tormento

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𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐞𝐬𝐩𝐞𝐜𝐢𝐚𝐥 𝐝𝐨 𝐉𝐮𝐥𝐢𝐚𝐧 𝐞 𝐝𝐚 𝐋í𝐯𝐢𝐚.

𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐞𝐬𝐩𝐞𝐜𝐢𝐚𝐥 𝐝𝐨 𝐉𝐮𝐥𝐢𝐚𝐧 𝐞 𝐝𝐚 𝐋í𝐯𝐢𝐚

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Julian.

Não desisti da Liv, sentia que ela precisava de ajuda, depois de ver o hematoma em seu pulso, a reação dela quando o vi...estranho.

Talvez estivesse passando por violência doméstica dentro de casa, não sabia ao certo, só sabia que havia algo errado ali.

— Se sente bem? De verdade Liv. — Disse a ela ainda admirando a quebra de ondas em nossa frente, a areia quente aquecendo minhas coxas descobertas, Liv em silêncio.

— Não, eu tenho alguns problemas que você não entenderia Julian... — Lívia não terminou a frase, apenas suspirou cabisbaixa. Eu virei o rosto para vê-la.

— Se você me contar talvez eu possa tentar...não precisa ser agora, tudo no seu tempo, na hora em que sentir-se bem para se abrir comigo, tranquilo Lívia. — Assegurei movendo a mão devagar para tocá-la, Lívia recuou um tanto assustada.

— Podemos não falar disto por enquanto, eu preciso de tempo...e espaço Julian. — Lívia falou baixinho, escondendo as mãos entre os joelhos descobertos sob o pano.

Aquilo me deixava ainda mais preocupado, porque a ruiva escondia segredos, e não eram quaisquer um...segredos ruins.

Respeitei seu espaço, não tentando tocá-la novamente, se assim ela queria, seria.

— Emma, está grávida. — Contei a ruiva de biquíni verde sentada ao meu lado.

— Que notícia boa! Eles estão felizes com isto? — Lívia pareceu menos tensa.

Peguei um punhado de areia e o deixei desfazer entre meus dedos finos ardendo.

— Pareceram bem felizes. — Sorri imaginando mais um pirralho correndo pela nossa casa, ser tio poderia ser legal.

— E seu pai? Não tem bom contato com ele? — Lívia entrou no assunto com sensibilidade, eu poderia falar sobre.

Fixei meus olhos castanhos nos dela.

— Ele nunca foi muito presente sabe... — Não quis terminar meu relato trágico.

Lívia parecia mais aliviada por me escutar, como se nós tivéssemos muito em comum.

— Ele é uma pessoa ruim? Por que pelo que ouvi seu irmão dizer no telefone...sim. — Lívia tomou cautela em usar as letras.

Deitei o corpo na areia e encarei o céu.

— Quando eu era pequeno ele apagou um cigarro em mim...mas eu o perdoei. — Falei quase em chiado, respirando fundo o fresco marítimo daquela praia bem vazia.

Lívia estreitou as sobrancelhas um tanto horrorizada, em seguida amenizou a expressão e deitou-se também do meu lado.

— Você parece ser tão nobre, uma alma tão bondosa...não sei se eu faria diferente do Logan. — Lívia disse com pesar, parecia bem específica aquela frase dita por ela.

— Eu não sei se conseguiria viver a vida toda acorrentado no rancor, no ódio...não. — Espantei os pensamentos pesados.

Lívia sorriu e virou o rosto para mim.

Aqueles olhos amendoados pareciam tão melancólicos, e ao mesmo tempo vivos.

O céu acima de nós parecia querer fazer o cenário dos sonhos, algo romântico, mas também singelo, monótono e fraterno.

— Tenho certeza de que Logan tem muito orgulho de você, e o Samuel também...seja menino ou menina, aposto que seu sobrinho vai te adorar Julian. — Falou Lívia ainda me olhando profundamente, o olhar meigo e a voz angelical para comigo.

Os cabelos ruivos espalhados pelo pano brilhavam intensamente a luz solar.

Ela tinha um semblante tão doce, apesar dos prováveis problemas, não apagava.

— Liv, posso te pedir uma coisa? Sei que é cedo, mas você é minha amiga, não é? — Aproximei mais o meu rosto do dela.

Lívia não recuou.

— Se eu puder te ajudar. — Respondeu calma e gentilmente, deslizei os dedos pela areia e alcancei a ponta do indicador dela.

— Se alguém te machucar...irá me contar? — Pronunciei em tom baixinho, o som sendo levado pelos ventos marítimos.

Lívia sorriu fraco.

— Prometo tentar. — Respondeu Liv tímida, e nós ficamos ali, nos encarando tanto horas debaixo do azul do céu.

Eu podia esperar o tempo que ela achasse necessário para me contar tudo sobre si.

Lívia

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Lívia.

Eu passei a infância toda em um convento de freiras, depois fui para um internato de regime bem severo, lá eu desenvolvi transtornos alimentares e ansiedade, depois disto meus pais me tiraram de lá por falta de paciência e tempo para me ver.

Todo final de semana nós saímos e íamos tomar sorvete por meia hora e fingir ser uma família feliz e normal como outras.

A verdade é que meus pais nunca me amaram, eu era um fardo para eles.

Eu não conheci o amor, portanto não podia dá-lo a ninguém, não tão cedo...adaptação.

Eu precisava me adaptar, reconstruir meu interior, tentar dar brecha para aquele sentimento desconhecido por mim.

Tinha um medo absurdo do contato físico, de ouvir alguém dizendo coisas bonitas para mim...aquilo era de outro mundo.

Eu contava cada minuto, cada segundo, para sair daquele inferno onde eu era obrigada a limpar e rezar por qualquer coisinha, até que minhas mãos estivessem sangrando e meus joelhos ardendo sob caroços de milho...o próprio inferno.

Meu pai era agente do FBI, minha mãe tenente coronel do exército, portanto nunca tiveram muito tempo para dedicar a única filha não desejada deles, infelizmente nunca fui nenhum pouco querida por eles.

Um pássaro acorrentado, sangrando.

As feridas eram as mais profundas imagináveis e possíveis, tudo doía.
Eu era só uma criança inocente...

Por causa da ansiedade, comecei a me ferir, o mecanismo da minha mente quebrou.

Só restou cinzas do que um dia eu sonhei ser, da menina doce e inteligente que não recebeu um pingo sequer de afeto, amor.

Priah e Patrick não eram meus pais, eram somente aqueles que me geraram, que me deram o básico do básico e traumas rudes.

Eu me fechei para o mundo, no meu casulo e ninguém podia quebrá-lo com facilidade.

Liars and treacherous looks|Trilogia Dangerous, livro IIWhere stories live. Discover now