Dente de Leão

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𝙀𝙢𝙢𝙖.

Leonel disse que iria visitar os filhos hoje, Logan fez pouco caso, afinal ainda guardava rancor do próprio pai, e não o julguei por isto, minha situação era igual.

Liguei para Naty pela manhã e ela disse que as coisas iam bem, que sentia minha falta e todos os dias estava torcendo por mim, para que as coisas dessem certo.

Charles comunicou que a próxima audiência não ia demorar muito, portanto eu não podia deixar que aquilo afetasse tanto meu psicológico, pois seria ruim...ou pelo menos tentar não deixar né.

Contei para Natasha da minha gravidez, acho que nunca vi ela tão empolgada na vida (exceto quando ingressou na universidade de medicina neurológica), com certeza meu bebê seria amado (a) por ela tanto quanto Lilian, Naty se tornou uma irmã de consideração e tia da minha pequena, trata ela como se fosse sua própria filha —, achava incrível o quanto ela era carinhosa com minha bombom.

Vejo Micaela vindo e a ignoro.

— Como está a gravidinha mais bonita que eu conheço? — Aquele sorriso surgiu nos lábios pintados de vinho da smurfette.

— Estou ótima, obrigada, e você? — Decidi tentar amolecer meu instinto desconfiado.

Assoprei o dente de leão e ele saiu desmanchando no ar pela janela.

Micaela chacoalhou o pulso fazendo as pulseiras de prata falsas tilintarem.

O clima estava quente, então coloquei uma camisa larga de Logan e um short de elastano preto acima dos joelhos, meus pés não incharam por sorte, mas ainda sim as articulações doíam demais na maioria das vezes, apenas tomei remédios para dor.

— Podíamos dar um passeio pela praia, o que acha? O dia está lindo. — Sugeriu a mulher pouco mais alta que eu, juntando os fios azuis para amarrar no alto com a xuxinha presente no pulso fino.

Meu estômago revirou ao ouvir aquela palavra. Praia.

— Não consigo, não...voltar naquele lugar é como pisar na própria casa do diabo. — Falei sentindo pressão na garganta, o segundo cenário mais traumatizante da minha vida, não superaria tão cedo.

Micaela ficou silenciosa feito um túmulo.

Calafrios percorrem minha espinha.

Coloquei a mão na barriga onde o pequeno brotinho crescia dentro do meu útero.

— Não estou protegida, ninguém perto de mim está...ainda não...não quero que ninguém se machuque por minha causa. — Ciciei sentindo a dor do passado invadir.

Micaela soltou um suspiro pesado.

— Eu já sofri muito coisa, não é qualquer um que irá me derrubar...cresci tentando digerir o fato de que minha mãe me jogou em uma lixeira assim que sai do útero. — A voz saiu carregada de mágoa, sofrimento.

— Como Charles te encontrou? —Entrei naquela confissão de vida, tentando não parecer insensível ou invasiva demais.

Micaela sorriu lívida, colocando as mãos nos bolsos de trás da sua calça de couro falso preta.

— Nesta lixeira, ele sentiu tanta pena de mim, tanta compaixão que não conseguiu me deixar ali feito uma ratazana morta. — A frieza que dizia era assustadora.

Os cadeados dela, tinha muita coisa guardada provavelmente...muito mais.

— Depois ele me levou para casa e cuidou de mim desde então, apesar de ter sofrido muito com toda a papelada e burocracia que queriam fazer para me tirar dele...um homem solteiro e não muito rico, não seria bom ambiente para uma criança crescer sem uma figura materna; disseram eles...patético, quando minha própria geradora me jogou no lixo sem piedade. — A dor dela se misturou a gratidão e orgulho nítido que sentia pelo pai adotivo.

Liars and treacherous looks|Trilogia Dangerous, livro IIWhere stories live. Discover now