Bandeja

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𝙴𝚖𝚖𝚊.

Acabei de sair do banheiro, escovei o cabelo e iria exercitar as pernas caminhando pelo hospital, afinal Liv tinha instruído que eu caminhasse, parte da fisioterapia recuperativa.

Também indicou que eu lê-se alguns livros que ela mesma trouxe da sua sala particular, livros de Shakespeare e literatura brasileira também, havia um muito incrível sobre criaturas do folclore que devorei em um dia -, este conselho foi porque estimulando a mente, eu estimularia a fala também, logo estaria recuperando a dicção, a voz pouco a pouco.

Segui por aqueles corredores deprimentes e cinzentos, até chegar ao refeitório, minha pernas doíam, admito — porém fiquei tanto tempo deitada na cama que já me sentia um cadáver, parte dela, como um lençol ou o próprio colchão.

Eu era um caso raro da medicina, então não deveria desperdiçar o privilégio que o universo me deu de conseguir andar, proferir duas palavras em um intervalo de dias, consegui respirar sem ajuda de tubos.

Poxa, eu era uma mulher foda.

Não esperei a visita do Logan pela manhã, porque certamente estaria ocupado demais - já era de bom tamanho as noites que ele passou comigo no hospital, estando em coma e lúcida, de volta.

Samuel e Julian, ele tinha família - portanto não deveria ser egoísta, os irmãos mais novos precisam do pai postiço.

Assim como Lilian deveria sentir minha falta do outro lado do mundo... ainda não conseguia ligar para elas, havia um bloqueio pesado entre aquele computador e eu, infeliz angústia, medo.

Nosso elo era forte demais, nossa ligação merecia mais que uma ou duas palavras.

Chegando no refeitório, estranhamente estava vazio, mesmo assim ignorei - deixei por um segundo a paranoia esvair, a lembrança daquele dia na praia me atormentava, quando fechava as pálpebras conseguia estar no cenário que me traumatizou - não conseguiria nunca mais retornar lá. Certeza.

Movi as pantufas para perto da máquina de bebidas e lanches prontos, passando pelos espaços entre as mesas extensas.

Silêncio, era tudo que eu conseguia escutar... até sentir aquele mesmo sentimento macabro que apertou meu coração, quando cruzei com aquele homem próximo a minha casa alugada -, uma sombra passou atrás de mim, imediatamente derrubei o copo de plástico no chão, apavorada. Pensei ter sido coisa da minha cabeça, paranoia novamente... mas não era, confirmei isto quando o coração gelou, as batimentos desaceleraram, meu piscar virou letal e turvo -, havia alguém ali... busquei forças nos ossos para não desabar ou ser fraca novamente.

Aquele presságio sombrio engoliu tudo que me construía, não foi parecido com a luta entre Logan e Ricardo, muito menos com a nossa própria luta corporal, aquilo era dez vezes pior.

Me senti prestes a cair de um abismo.

Minhas mãos suavam frio, a garganta seca, as córneas ardiam feito fogo violento.

Um flash.

Ele estava ali, bem na minha frente, atrás da mesa. Parado, me encarando como a morte silenciosa.

O consideraria o próprio diabo se não fosse pelos olhos azuis e a face angelical.

— Você. — Ele proferiu cortante feito lâmina, a suavidade vingativo me golpeou drasticamente. Movi um passo para trás colidindo com a máquina atrás de mim, o coração disparado, a visão afetada.

Ele deu a volta na mesa a passos lentos mortíferos, não conseguia mover os chumbos que me sustentavam em pé.

Estranhamente tive um dejavu, quase consegui me sentir meu avô Joseph, será que foi aquele pavor que ele sentiu quando o assassino apontou a arma para ele? Será que eu conseguiria escapar? Aquele sentimento me lesionou brutalmente.

Liars and treacherous looks|Trilogia Dangerous, livro IIWhere stories live. Discover now