Ligação (+16)

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𝐋𝐨𝐠𝐚𝐧.

Emma escondeu os hematomas do pescoço com base, ficou deitada o dia inteiro, chorando baixinho e não se alimentou.

- Trouxe estas violetas para você, e o Malcom deu esta carta pelo carinho que tem por ti, infelizmente não pode vir. - Ergui o buquê da cômoda ao lado da cama onde Emma mantinha-se deitada e silenciosa, aquilo me machucava tanto...vê-la sofrendo depois de tudo que passou e o pior...os culpados não haviam sofrido o bastante, queriam continuar dilacerando ela até que não restasse nem cinzas para um novo amanhecer.

Emy ergueu o olhar para mim e sentou-se na cama, o aspecto abatido esboçou um leve sorriso ao ver meu presente.

Qualquer coisa que eu pudesse fazer para ajudá-la, eu faria, apenas para ver um vestígio de felicidade daquele coração quebrado.

Emy pegou o buquê e o cheirou suavemente, gostou.

- Obrigada...a-amor. - Falhou um pouco a voz quando disse, pois a voz ainda não estava 100% recuperada, foi uma avanço, fiquei feliz por ela.

Amor.

Um dos apelidos que dei a ela durante aquele tempo.

Emma deixou o buquê de lado e afastou a coberta que cobria as pernas, em seguida parou em minha frente e segurou meu rosto, olhando profundamente em meus olhos que só tinham fascínio por ela.

- Ligação. - Sibilou antes de unir os lábios aos meus, levei minhas mãos a sua cintura, enfeitiçado por aquela brincadeira de línguas lenta e saboroso.

Me lembrei da primeira vez que nos beijamos, da primeira vez que fizemos amor naquela praia...que momento indescritívelmente perfeito.

Ela era uma poesia, com versos ocultos que levavam a escuridão belíssima e melancólica - digna do fascínio, da paixão.

Queria voltar no tempo, naquele dia em tiramos a foto juntos na confraternização da empresa - ah! Como Emma Myers estava avassaladora, uma estrela que brilhava por si própria e abalava cada centímetro de mim quando se movia.

Ela era uma estrela, a mais espetacular do universo.

Quando desvencilhei lentamente os lábios dos dela, sorri acariciando a linha de sua coluna, onde estava descoberta por causa da camisa preta contendo abertura redonda nas costas.

Queria tanto que saíssemos daquele inferno, que aquele pesadelo acabasse de uma vez —, não só a afetava, como também me afetou muito.

Como eu pude ser tão cego, tão relapso a ponto de não ver que o meu "amigo" de infância era um invejoso psicopata, ladrão, assassino e obcecado por ela, por nos destruir a qualquer custo.

Tantas pessoas sofreram, passaram pelas mãos dele e sequer tiveram justiça.

Guzman, Gisele...havia muito mais na lista com toda certeza, mas estes inocentes pagaram o preço por apenas estarem no lugar errado, na hora errada.

Emma me soltou, o acalentar em meu peito durou poucos segundos, porque a ansiedades e a saudades que a angustiavam não a deixaram adiar mais aquela ação.

Ver sua irmã, sua sobrinha, mesmo que não estivesse instável suficiente...não aguentaria nem mais um segundo naquela tortura diária, sem ver Natasha, Raven e Lilian...respeitei e compreendi, pois não me imaginava sem Julian e Samuel.

Aquela altura não havia contado para ela ainda do meu ato impulsivo de perseguir Pietro pela estação, muito mesmo da loucura que fiz na delegacia — eram coisas demais para uma mente só, ainda por cima traumatizada e ferida. Outra hora iríamos sentar e ter bastante tempo para conversar sobre isto. Tempo...palavra insatisfatória que temos que engolir a seco.

Retirei a jaqueta preta e estiquei os braços, dormi de qualquer jeito a noite porque Samuel ocupou quase todo o espaço da minha cama, menino folgado.

Mensagens:

Julia

(O Samuel está com tosse, quando vir do hospital trás um xarope pra ele)

Doutor Deveraux

(Boa tarde fille, tenho novas informações sobre o caso, preciso que me encontre ainda hoje, pode ser?)

R: Assim que sair do hospital passo na cafeteria.

Mastiguei a bala de cafeína que tirei do bolso da calça jeans (aliás mal sabia quanto tempo ela esteve lá), parei para respirar finalmente —, precisava de uma bebida forte ou um cigarro, porque cada pensamento meu, um neurônio se perdia.

Fui afastado do trabalho por Malcom, também promovido, mas na próxima semana acabaria a mamata —, criei muito apego a minha estrela, seria difícil me separar dela — não garantir que estivesse segura, cuidada na medida do possível.

Embora confiasse em Lívia, aquela baixinha do cabelo de cenoura não poderia proteger Emy caso Pietro ou qualquer outro capanga do Ricardo voltasse a atacar.

Olhei meu reflexo no celular, desde quando eu havia virado um cadáver ambulante? Que aparência mais desgastada, tenebrosa...precisava me alimentar, dormir principalmente, cortar o cabelo...

Cai na realidade, não a realidade dos unicórnios, a realidade de: Eu passei meses descuidando de mim e dos meus irmãos, passei meses sendo apenas um corpo eufórico que mal parou para raciocinar — a adrenalina me fodeu.

Eu não estava vivendo, não era um robô —precisava de tempo para mim também.

Minha rotina consistia em:

1-Acordar.

2-Tomar banho.

3-Tomar apenas café.

4-Ir ao hospital.

5-Voltar para casa e almoçar, buscar Samuel na escola, alimentar ele, falar meia dúzia de palavras com Julian.

6-Falar com Charles sobre o caso.

E depois voltar tudo de novo como uma programação automática bizarra.

Quis voltar para o útero por dois minutos e rever toda a desgraça que ia acontecer na minha vida (não estou nem falando do meu namoro com Emma), porque aí já prepararia o psicológico né.

Emma vibrou de alegria, o brilho das íris elétricas encarou a tela do notebook —, ouvi vozes sendo emitidas dele...sua irmã e sobrinha.

A família que restou para Emma.

Sabia que sentia gratidão por tudo que fiz por ela, que realmente importava nosso amor...mas, chegou a hora de cuidar de mim, dar um veredito aquela bagunça toda.

Almas gêmeas, que destino cruel nos uniu — as covinhas dela aparecem junto do belo sorriso que ia de orelha a orelha, molhado por lágrimas que escorriam, lágrimas de felicidade. Fiquei aliviado vendo sua alegria, o quanto aquilo fez bem para Emma. Refleti observando, eu acabaria perdendo a valiosa infância do Samuel caso não dedicasse tanta força na nossa relação como dediquei a Emma.

Cogitei trazê-lo para ver Emma algumas vezes, contudo nunca concretizei — pois aquele ambiente jamais seria apropriado para uma criança tão nova e inocente —, mesmo se enfeitassem com glitter e ursinhos de pelúcia todo o lugar...o clima continuaria pesado feito um túmulo.

O herói acabou tornando-se o fodido da história, perdi a cabeça.

Drogas lícitas, cafeína, whisky, cigarros — nada disso adiantaria.

Liars and treacherous looks|Trilogia Dangerous, livro IIOnde as histórias ganham vida. Descobre agora